Ex-embaixador: Bolsonaro deveria ir à COP26 pois visão externa é 'negativa'
O ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos Rubens Barbosa disse hoje, em entrevista ao UOL News, que o presidente presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deveria ir ao encontro de líderes da COP26, conferência sobre mudanças climáticas, em razão da percepção externa do Brasil "ser negativa" e da importância do tema para o país e o mundo.
Barbosa explicou que não adianta o governo ter um discurso positivo porque os países observam as declarações polêmicas e ataques do presidente e, consequentemente, isso impacta na visão internacional que o Brasil passa para as outras nações.
"Brasil está isolado. O Brasil está participando das organizações multilaterais, das Nações Unidas. O que existe é um crescente isolamento do Brasil pelas políticas internas, sobretudo do meio ambiente, na questão de saúde, por causa da pandemia, e por declarações feitas aqui que colocam em risco, olhando de fora, a questão da democracia e das eleições."
E continuou: "Aqui no Brasil acompanhamos, sabemos que muito disso é retorica, mas lá fora a palavra do presidente conta muito. O nosso presidente não leva muito isso em consideração, mas tudo que ele diz repercute no exterior".
Os comentários de Barbosa se referem aos ataques que o presidente fez às instituições, por exemplo, ao convocar manifestações no Dia 7 de Setembro, feriado de Independência do Brasil. À época, o presidente participou de atos, com discurso também abertamente golpista, e ameaçou o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luiz Fux, e chamou outro ministro da Corte, Alexandre de Moraes, de "canalha".
Também nos últimos meses, com frequência, Bolsonaro se diz a favor do voto impresso e dá declarações falsas contra o atual sistema de urnas eletrônicas, apesar de os resultados de todas as eleições realizadas desde sua implementação serem confiáveis, afirmam especialistas em segurança digital ouvidos pelo UOL.
Sobre a condução do governo na pandemia, nesta semana, o relatório final da CPI da Covid, no Senado Federal, apontou o presidente como um dos principais responsáveis pelo agravamento da pandemia de coronavírus, que matou mais de 607 mil pessoas no Brasil.
O relatório sugere que Bolsonaro seja investigado e responsabilizado por dez crimes. Ao longo da pandemia o presidente já chamou a doença de "gripezinha", afirmou que seu "histórico de atleta" e saúde o deixava tranquilo caso ele fosse contaminado pelo vírus e ao comentar de mortes pela doença declarou "não ser coveiro".
Bolsonaro no G20
O ex-embaixador ainda disse acreditar que o Brasil deverá sofrer com "fortes opiniões críticas" na reunião do G20.
Bolsonaro chegou a Roma na manhã de hoje para participar no final de semana da reunião de Cúpula do G20, grupo que reúne os 19 países mais ricos do mundo e a União Europeia. Na agenda, clima, recuperação econômica e pandemia.
Bolsonaro desembarcou por volta das 8h05 (horário de Brasília) sem usar máscara de proteção contra a covid-19 — a Itália deixou de exigir o uso do acessório ao ar livre em junho.
Do aeroporto, Bolsonaro foi para a embaixada do Brasil em Roma. Ao chegar, o presidente parou para falar com apoiadores e disse que viu pelo caminho "muitas pessoas" que reconheciam a bandeira brasileira.
Questionado sobre o que esperava do G20, ele não respondeu. "Estou muito feliz por estar aqui. Se Deus quiser, na segunda-feira visitarei meus ancestrais", disse o presidente, numa referência à visita que ele fará para Anguillara Veneta, na segunda-feira.
Para Barbosa, o governo que entrará em 2023 precisa recuperar a percepção internacional positiva que o Brasil tinha até 2018.
"Não é que o Brasil seja um pária. Eu acho que o Brasil tem vulnerabilidades no meio ambiente, saúde, mas até as instituições estão funcionando, a imprensa é livre, mas lá fora a percepção é diferente por causa das declarações do presidente, dos políticos, repercutem muito no exterior. É um problema grande para o novo governo a partir de 2023: como recuperar a credibilidade do Brasil e percepção positiva que o país tinha até em 2018. Eu creio que [essa tentativa de mudança] tinha que começar com o meio ambiente", finalizou.
*Com informações do UOL Confere, Jamil Chade, do UOL, em Roma
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