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Moro diz que tinha boa vida, mas não enriqueceu sendo juiz

10.nov.2021 - Ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro, durante evento de filiação ao Podemos - Mateus Bonomi/AGIF/Estadão Conteúdo
10.nov.2021 - Ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro, durante evento de filiação ao Podemos Imagem: Mateus Bonomi/AGIF/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo

14/12/2021 18h55Atualizada em 14/12/2021 19h55

O presidenciável Sergio Moro (Podemos) negou hoje que tenha enriquecido com a profissão de juiz, ministro da Justiça ou mesmo em sua atuação como consultor nos EUA após deixar a pasta do governo Bolsonaro, em abril de 2020. As declarações do ex-juiz da Operação Lava Jato foram ditas em entrevista ao canal do colunista do UOL Marco Antonio Villa no YouTube.

De acordo com uma reportagem do UOL Confere, publicada em 2017, o salário oficial de Moro era de cerca de R$ 28 mil à época. Segundo os dados disponíveis no portal do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), em julho de 2017, o então juiz ganhou 28.404,97: R$ 28.947,55 de subsídio, mais R$ 5.261,73 de verbas indenizatórias e mais R$ 8.362,63 de vantagens eventuais.

A este total, subtraiu-se R$ 3.184,23 de previdência pública, R$ 7.435,53 de Imposto de Renda e R$ 3.547,18, referente ao pedaço da remuneração que iria superar o teto constitucional de R$ 33.763 — valor igual ao salário de um ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) na referida data.

Não, de forma nenhuma [enriqueci]. Veja, eu sempre fui servidor público. Como juiz, eu nunca enriqueci. Não vou mentir aqui, eu tinha um salário bom, os salários de juízes são bons, considerando a pessoalmente a média da população brasileira. Você tem uma boa vida, tem condições de cuidar da sua família, mas enriquecer não. Só se você fizer coisa errada e nunca fiz coisa errada na minha carreira judicial.
Ex-juiz Sergio Moro (Podemos)

Segundo o presidenciável, ele recebia um "pouco menos" de salário quando era o ministro da Justiça. Moro explicou que ao sair da pasta, por não ter apoio do presidente em sua bandeira de combate à corrupção, ficou seis meses de quarentena como "a legislação exige para evitar conflitos de interesse".

"Fiquei parado, e depois eu fui contratado por uma empresa de consultoria internacional, trabalhei, um tempo aqui vinculado ao Brasil e depois vim para o lado dos EUA. Era um salário de consultor, era um salário considerando aqui o meu histórico profissional, qualificado, mas longe de me deixar rico, ou milionário. Então, essas são outras maluquices que o pessoal vai falando e vão espalhando", rebateu.

O ex-juiz responsável pelos processos da operação Lava Jato em Curitiba havia sido contratado como sócio-diretor da empresa de consultoria que tem como cliente o grupo Odebrecht, que foi alvo de decisões proferidas por Moro enquanto exercia a magistratura.

Moro ainda declarou que os seus críticos e opositores não têm o que falar da sua conduta na Operação Lava Jato, como ministro e agora "em vez de querer discutir o programa que a gente está montando, as propostas, ficam inventando essas historias". "Não tem nada a ver, a marca da minha carreira é a integridade", concluiu.

Em junho deste ano, o STF declarou que o ex-juiz foi parcial ao julgar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no processo do tríplex do Guarujá (SP). Por 7 votos a 4, o tribunal confirmou uma decisão da Segunda Turma, de abril, que decretou a suspeição de Moro nesse caso, no qual o ex-presidente petista foi condenado em julho de 2017. Na semana passada, o MPF (Ministério Público Federal) reconheceu a prescrição do processo contra Lula no caso, no qual o petista foi acusado de lavagem de dinheiro e corrupção.

Salário de R$ 22 mil no Podemos

A partir deste mês, Moro passou a receber um valor mensal bruto de R$ 22 mil do partido (R$ 15 mil com descontos) ao qual se filiou em 10 de novembro. O Podemos informou ao UOL que Moro é vice-presidente estadual do partido, no Paraná. De acordo com documento enviado pelo partido, o ex-ministro passou a ocupar o cargo no dia que se filiou ao partido, — e ficará nesta posição até 7 de novembro de 2022.

Outros pré-candidatos também recebem pagamento mensal pelos seus respectivos partidos. Luiz Inácio Lula da Silva, além do salário de cerca de R$ 12 mil por ser ex-presidente, ganha cerca R$ 27 mil brutos do PT, como presidente de honra da legenda (o valor líquido é R$ 22 mil); e o PDT paga R$ 26,3 mil ao ex-governador Ciro Gomes, que é um dos vice-presidentes do partido (salário líquido de R$ 21,3 mil).

A remuneração de dirigentes partidários é permitida, seja com dinheiro público — recebido por meio do Fundo Partidário — ou privado — arrecadado em doações externas e contribuições de filiados.

*Com informações de Aiuri Rebello e Rafael Neves, do UOL, em São Paulo e Brasília