Em culto pós-posse, Mendonça diz que evangélicos defendem estado laico
Em culto religioso no qual foi celebrada na noite desta quinta-feira a sua posse no STF (Supremo Tribunal Federal), André Mendonça, 48, disse que "reconhece e defende a importância do estado laico". Pastor presbiteriano, o novo ministro da Corte afirmou que o estado laico é "uma defesa histórica da igreja reformada e da igreja evangélica".
Ao lado do presidente Jair Bolsonaro (PL), que disse que nomearia alguém "terrivelmente evangélico" para a Corte, da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e de vários ministros de Estado, Mendonça falava sobre sua vida pessoal e sua carreira profissional quando citou o estado laico.
Sob aspecto religioso, alguém que reconhece e defende a importância do estado laico. Alias, essa é uma defesa histórica da igreja reformada e da igreja evangélica"
André Mendonça, novo ministro do STF
Na sequência, ressaltou que se define como "alguém que tem em Cristo Jesus o seu modelo e referencial de vida". Para o novo ministro do Supremo, sua carreira no STF será o início de "uma grande e desafiadora jornada".
"De um lado, muitos imaginam que chegar ao STF seja o ápice da carreira jurídica. Tenho a consciência de que é apenas o início de uma grande e desafiadora jornada, uma caminhada que deve ter como foco o serviço ao meu país e a implantação permanente e substancial dos valores do estado democrático de direito, tais valores estão presentes já no preâmbulo da nossa Constituição, que inclusive fala em Deus", disse.
O culto ocorreu na sede nacional da Assembleia de Deus em Madureira, igreja com a qual Mendonça tem laços políticos. O templo, chamado de Catedral Baleia, com capacidade para 4.000 pessoas, quase lotou. O novo ministro do Supremo chegou à igreja ao lado de Bolsonaro e Michelle e foi ovacionado pelos fiéis.
Em discurso após a fala de Mendonça, Bolsonaro afirmou que seu ex-ministro da AGU (Advocacia-Geral da União) e ex-ministro da Justiça estará lutando no STF "por um bem maior de todos nós, que é a nossa liberdade".
"O André hoje, no Supremo Tribunal Federal, com a renovação, será mais uma pessoa ao lado da nossa Constituição Federal. Respeitando a carta magna, respeitando a democracia e cada vez mais lutando por um bem maior de todos nós, que é a nossa liberdade", disse Bolsonaro.
Entre os ministros presentes estavam Damares Aves (Mulher, Família e Direitos Humanos), Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura), Ciro Nogueira (Casa Civil) e Marcelo Queiroga (Saúde).
O único ministro do STF a comparecer ao culto foi Ricardo Lewandowski. Chamado a falar ao público, o magistrado disse ter afirmado a Mendonça, antes da nomeação, que a orientação religiosa do indicado de Bolsonaro não seria motivo de discriminação.
"Não é nenhum defeito ser religioso. Pelo contrário, é uma virtude", afirmou Lewandowski, sob aplausos. "Para assumir o cargo, além dos requisitos legais", prosseguiu o ministro, "é preciso antes de mais nada que a pessoa tenha caráter e eu estou convencido de que o André Mendonça tem caráter e prestará relevantes serviços ao nosso querido Brasil".
A primeira-dama Michele Bolsonaro também discursou. "A Bíblia ensina que devemos orar por todas as autoridades. Gostando ou não, nós temos esse dever e essa missão", afirmou.
Primeira autoridade a falar no evento, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, que é pastor evangélico, agradeceu pelo fato de o STF ter recebido "um homem que se identifica e também não se envergonha do Evangelho".
Pastor da Igreja Presbiteriana Esperança de Brasília, que adota uma linha mais progressista e evita a abordagem de temas político-partidários em cultos, Mendonça é o segundo nome apontado por Bolsonaro para integrar o tribunal. O primeiro foi Nunes Marques, que está no STF desde o fim do ano passado.
Na tarde de hoje, em fala a jornalistas após ser empossado no STF, o novo ministro fez compromissos de defender a democracia, a Constituição e também a liberdade de imprensa.
Mendonça afirmou que espera ser capaz de, no cargo, ajudar a consolidar "garantias e direitos que já estão estabelecidos e que vierem a ser estabelecidos no texto da nossa Constituição".
O primeiro compromisso que queria dizer a todos, reiterar, na verdade, com a democracia, com os valores da nossa Constituição, em especial com a Justiça. A Justiça enquanto valor ideal que todos buscamos"
André Mendonça, ministro do STF
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