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Lula e PT viram entrave para federação entre PSOL e Rede

Alas da Rede acreditam que, caso o PSOL exija apoio ao PT federação terá uma barreira instransponível - 17 dez. 2021 - Amanda Perobelli/Reuters
Alas da Rede acreditam que, caso o PSOL exija apoio ao PT federação terá uma barreira instransponível Imagem: 17 dez. 2021 - Amanda Perobelli/Reuters

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

20/01/2022 04h00

O PSOL não vê outra hipótese, neste momento, que não seja apoiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa pelo Planalto. E esse é um dos pontos que podem barrar a formação de uma federação com a Rede.

O partido, que tem na ex-ministra Marina Silva sua principal liderança, fala que, hoje, a tendência é "liberar a militância", sem determinar o apoio específico a alguém na eleição presidencial.

Porém, alas da Rede são contrárias a apoiar o PT em razão, entre alguns pontos, do tratamento dado a Marina na eleição de 2014, quando ela foi atacada pela campanha da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Em 2018, isso e as denúncias contra os governos do PT tiveram impacto para a decisão do partido de indicar neutralidade no segundo turno entre Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PL).

Problema intransponível

Uma liderança da Rede disse, sob condição de anonimato, que, se a federação com o PSOL significar a necessidade de um apoio ao PT, haverá um problema intransponível. Ela completou dizendo não entender como viável a presença de Marina e da ex-senadora Heloisa Helena, que foi expulsa do PT em 2003 por críticas ao governo Lula, no palanque de Lula.

Diferentemente da coligação, que só vale para a eleição, na federação os partidos precisam atuar como se fossem um só por pelo menos quatro anos. As siglas precisam protocolar o pedido de formação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) até 1º de março.

Na Rede, o apoio a Lula é defendido pelo senador Randolfe Rodrigues, que é pré-candidato ao governo do Amapá. Por outro lado, Heloisa Helena, que é porta-voz nacional do partido, prefere um apoio a Ciro Gomes, presidenciável do PDT.

"Então, vamos ter muita paciência revolucionária de não criarmos problemas internamente, pois a nossa unidade interna é infinitamente mais importante diante da duríssima batalha que vamos enfrentar, compreende?", disse Heloisa Helena.

A porta-voz —cargo que corresponde ao de presidente do partido e que ela divide com Wesley Diógenes— reforça que o foco da Rede é pensar na formação de chapa para a disputa por vagas na Câmara —algo que ela já havia classificado como "combate de vida ou morte" para o partido— e nas duas candidaturas a governos estaduais —além da de Randolfe, há a de Audifax Barcelos no Espírito Santo.

PSOL quer que Rede acompanhe

Lideranças do PSOL consultadas pelo UOL disseram que, se o partido confirmar o apoio a Lula, esperam que a Rede acompanhe o posicionamento. A indicação é que não haveria como a federação ser viabilizada se o PSOL tiver de abrir mão de sua tática eleitoral.

Entre os militantes do partido, o argumento é de que, eles só deixariam de estar com Lula se surgir "algo muito pior" que o ex-governador Geraldo Alckmin (sem partido) como vice na chapa presidencial para o PSOL mudar de ideia. A presença do ex-tucano na companhia do petista não deve causar divergências no apoio ao PT.

Esse cenário no PSOL pode trazer problemas junto à Rede. "Não há maioria na Rede a favor do PT", diz Mariana Lacerda, porta-voz da Rede em São Paulo. "Inclusive porque a Rede foi fundada e formada com o objetivo de melhorar a política e a governabilidade tirando as amarras de um projeto de poder que envolva uma capitulação pelo centrão. Não vejo maioria na Rede a favor de um projeto que reforça isso."

Rede fala com Ciro

No PSOL, as conversas a respeito da campanha presidencial são com o PT. Na Rede, elas são com o partido de Ciro.

Heloisa Helena diz que há diálogo com o PDT, e que a Rede tem "acompanhado bastante o debate programático que Ciro corretamente tem apresentado". "Mas compor chapa presidencial é bem mais complexo, especialmente agora."

Se o PT traz problemas para conseguir um apoio da Rede, Ciro também tem os seus. O nome é João Santana, marqueteiro que esteve à frente da campanha de Dilma que atacou Marina.

A respeito de Santana, Heloisa Helena fez uma crítica ao PT em relação a ele e "outros que fazem o marketing da pistolagem, que mente e aniquila adversários". "Prefiro mesmo é não esquecer o nome dos mandantes que pagam e se beneficiam politicamente desses crimes."

Para a porta-voz, "Marina e Ciro certamente conversarão sobre o tema". "Sobre o conteúdo programático caberia aos partidos e o faríamos se a chapa fosse composta", disse.

A Rede quer tomar uma decisão ainda este mês e está fazendo reuniões recorrentes sobre o tema. "Certamente, no final deste mês, já deveremos ter um quadro mais claro sobre federação ou não com o PSOL, e também sobre os passos concretos a serem dados em relação à composição ou não da chapa presidencial", disse Heloisa Helena.