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Brasileiro só se interessou pela Amazônia após covid, diz Sebastião Salgado

Colaboração para o UOL

27/01/2022 11h51Atualizada em 27/01/2022 15h34

O fotógrafo e ativista ambiental Sebastião Salgado disse, durante o UOL Entrevista hoje, que os brasileiros só se interessaram pela Amazônia após a chegada da covid-19. "Até 2019, pouquíssimos brasileiros se interessavam pela Amazônia, até a chegada da covid. Com a ameaça de genocídio da população indígena, os brasileiros começaram a ter a consciência de que tinham de proteger os indígenas. Houve um despertar nacionalista em direção à causa amazônica."

Para Salgado, os integrantes do governo Jair Bolsonaro (PL) terão que pagar pelo genocídio, na avaliação dele, contra brasileiros na pandemia de covid-19. Já morreram no Brasil 624.507 pessoas vítimas da doença.

"Uma vez que esse governo perca as proteções que a Constituição garante durante o tempo nos cargos, que paguem pelo crime. Há um genocídio em relação ao povo brasileiro", afirmou o fotógrafo, em entrevista à apresentadora do Canal UOL Fabíola Cidral, ao colunista do UOL Jamil Chade e ao jornalista Leão Serva.

O fotógrafo diz que o governo federal desmantelou os órgãos de proteção ambiental. "Os filtros de proteção da Amazônia foram retirados. Os grandes técnicos hoje em dia são policiais, pessoas da área da segurança ligados à Presidência. Hoje, a Amazônia é um território invadido, penetrado, violado. Esse governo foi inteiramente irresponsável no que diz respeito à Amazônia."

De acordo com dados divulgados no último dia 17 pelo Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), o desmatamento na região no ano passado foi o pior em uma década. De janeiro a dezembro, foram destruídos 10.362 km² de mata nativa, o equivalente à metade do estado de Sergipe. O número é 29% maior do que o registrado em 2020, quando 8.096 km² de floresta foram destruídos. Os dados são do SAD (Sistema de Alerta de Desmatamento) do Imazon, que monitora a região por meio de imagens de satélites.

"Chegou um governo incendiário para destruir a Amazônia e, junto, destruir a população indígena. Então, houve um despertar nacionalista em direção à causa amazônica", completou Salgado.

Eleições e pauta ambiental

Durante a entrevista, Sebastião Salgado cobrou que os candidatos à Presidência nas eleições deste ano discutam pautas ambientais. "Os brasileiros têm que votar em um candidato que forneça um programa de proteção do ecossistema amazônico e integração da nova proposta econômica da Amazônia integrada à economia mundial", avaliou.

Salgado diz que seu trabalho na fotografia sempre teve caráter político. "Ele entrou na causa ambiental não porque eu quis, mas porque nós todos entramos, o mundo evoluiu. Essa parte recente do meu trabalho feito na Amazônia tem teor político porque este é um momento político forte. Até 2019, poucos brasileiros se interessavam pela Amazônia."

O fotógrafo está divulgando sua nova exposição intitulada "Amazônia", que estreia em São Paulo em 15 de fevereiro e segue até 10 de julho no Sesc Pompeia. A mostra é resultado de sete anos de experiência e expedições fotográficas na Amazônia Brasileira. As fotografias feitas por ar, terra e água trazem a floresta, montanhas e a vida de 12 comunidades indígenas em uma Amazônia desconhecida.