PSOL quer que ministro explique plano de retirada de brasileiros da Ucrânia
A bancada do PSOL na Câmara dos Deputados apresentou requerimento para que o ministro das Relações Exteriores, Carlos França, seja convocado à Casa para explicar o plano de retirada de brasileiros da Ucrânia em meio à invasão do país pela Rússia.
O pedido de convocação ocorre depois que o colunista do UOL Jamil Chade publicou na sexta-feira (4) informações sobre como a ordem do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) era de evitar declarações ou gestos que pudessem prejudicar a viagem do presidente brasileiro à Rússia, ocorrida em fevereiro, o que incluiria deixar de implementar e anunciar um plano.
Até o início da guerra, cerca de 500 brasileiros e brasileiras residiam na Ucrânia.
No Itamaraty, outra versão afirma que a questão central não foi a preservação da visita de Bolsonaro ao Kremlin, mas sim os pedidos do governo ucraniano. Kiev, segundo diplomatas, solicitou governos estrangeiros a não anunciar a evacuação de seus nacionais, já que isso causaria um impacto na economia nacional e busca por investimentos. O plano, segundo eles, já até estaria pronto.
Procurado, o Itamaraty até o momento não se pronunciou oficialmente.
"Trata-se de mais um episódio do lamentável desmonte da política externa brasileira promovido por Bolsonaro com direta incidência sobre a vida dos cidadãos brasileiros", afirmam deputados federais do PSOL no requerimento de convocação de Carlos França.
"Não bastasse o vertiginoso declínio geral do prestígio do Itamaraty e da política externa brasileira, rifar vidas brasileiras ao não planejar a evacuação de nossos cidadãos da Ucrânia configura ato funesto e inconstitucional. Urge, portanto, que o ministro explique a decisão política mórbida sobre a ausência destes procedimentos e a inaceitável incompetência do governo em proteger cidadãs e cidadãos brasileiros", acrescentaram os parlamentares.
O requerimento precisa ser aprovado pelo plenário da Câmara dos Deputados para que o ministro realmente seja convocado a prestar explicações. Não há previsão para a votação do pedido até o momento.
Uma semana antes da viagem de Bolsonaro para Moscou, em 8 de fevereiro, o embaixador do Brasil na Ucrânia, Norton de Andrade Mello Rapesta, afirmou que a representação não considerava, naquele momento, a hipótese de um conflito.
Dez dias antes, governos como o do Reino Unido, Alemanha, Canadá, Austrália, EUA e Noruega já tinham começado a retirar os familiares dos diplomatas de Kiev, ou tinham emitido alertas para que seus nacionais não viajassem para a Ucrânia.
Em 14 de fevereiro, dias antes da invasão russa à Ucrânia, Rapesta afirmou, em entrevista ao UOL News, que a situação era de "plena normalidade" no país. Naquele momento, ele disse que não acreditava que haveria uma guerra.
Após a guerra estourar, a Embaixada do Brasil na Ucrânia chegou a recomendar que os brasileiros em Kiev ficassem em casa enquanto os demais deveriam procurar sair do país e buscar refúgio nos países que fazem fronteira a oeste da Ucrânia. Somente dias depois é que a representação diplomática passou a ajudar mais ativamente os brasileiros com a indicação de trens saindo da capital ucraniana, por exemplo.
Após muita pressão, o governo federal enviará um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) na próxima segunda-feira (7) para resgatar brasileiros fugindo da guerra que estejam na Polônia. Na ida, o avião deverá levar itens de ajuda humanitária para ucranianos. Outro avião da FAB está preparado para, caso necessário, participar da missão de resgate.
Muitos brasileiros decidiram não esperar a ajuda oficial devido ao agravamento dos bombardeios e conseguiram retornar ao Brasil depois de muito sufoco.
Nesta semana, o embaixador e sua equipe deixaram Kiev por questões de segurança. Hoje, ele está em Lviv (a cerca de 460 km de Kiev), no oeste do país, de onde coordena a evacuação dos cerca de 500 brasileiros para os países vizinhos.
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