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Arthur do Val: Deputados enviam representação ao Conselho de Ética da Alesp

Do UOL, em São Paulo

06/03/2022 15h04Atualizada em 06/03/2022 15h48

Quinze deputados estaduais de diferentes partidos assinaram uma representação contra o também deputado Arthur do Val (Podemos) protocolada hoje na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), após a divulgação de áudios em que ele afirma que mulheres ucranianas "são fáceis, porque são pobres". Ontem, do Val classificou a fala como um "erro em um momento de empolgação".

A representação é dirigida ao Conselho de Ética da Casa. Nela, os parlamentares pedem que seja apurado o cometimento de ato de quebra de decoro parlamentar "com pedido sanção de cassação de mandato em decorrência de suas falas sexistas e misóginas contra as mulheres ucranianas, com especial ênfase a situação de vulnerabilidade em que se encontram devido ao conflito armado que ali ocorre".

Na condição de Deputados e Deputadas Estaduais, queremos registrar perante este Conselho de Ética e Decoro Parlamentar nosso repúdio ao teor sexista, misógino, indigno e violento dos áudios do Deputado Estadual Artur do Val, que se traduz em grave violência de gênero praticada contra mulheres ucranianas e contra todas as mulheres do Brasil e do mundo, por consequência Trecho de representação de deputados da Alesp contra Arthur do Val

A reportagem procurou o parlamentar a respeito da representação, mas ainda não obteve retorno. O espaço está aberto para manifestação.

O documento contra do Val, conhecido como Mamãe Falei, é assinado pelos seguintes deputados:

  • Carlos Gianazzi (PSOL)
  • Dr. Jorge do Carmo (PT)
  • Emídio de Souza (PT)
  • Gil Diniz (PL)
  • José Américo (PT)
  • Leci Brandão (PCdoB)
  • Luiz Fernando T. Ferreira (PT)
  • Márcia Lia (PT)
  • Maurici (PT)
  • Mônica da Mandata Ativista (PSOL)
  • Patrícia Bezerra (PSDB)
  • Paulo Fiorilo (PT)
  • Professora Bebel (PT)
  • Ricardo Madalena (PL)
  • Teonílio Barba (PT)

Na representação, os deputados afirmam que a atitude de Arthur do Val, "além de inoportuna e incompatível com o decoro parlamentar, foi ultrajante não só para as mulheres ucranianas, que tiveram suas vidas destruídas por um conflito que não deram causa, mas acabou por ferir todas as mulheres do mundo, pois dignidade e respeito são conceitos universais".

Eles argumentam que os áudios podem caracterizar atos de quebra de decoro parlamentar "por afronta aos princípios constitucionais e regimentais".

Entenda o caso

Em uma série de áudios gravados anteontem e enviados a um grupo de amigos no Whatsapp, o deputado estadual descreve suas impressões sobre as mulheres da Ucrânia e, em um dos trechos, afirma que elas "são fáceis, porque são pobres".

Ele viajou ao país, no último dia 28, com Renan Santos, um dos dirigentes do MBL (Movimento Brasil Livre), para acompanhar o conflito após a invasão da Rússia.

"Eu estou mal, eu passei agora por quatro barreiras alfandegárias, são duas casinhas em cada país. Eu juro para vocês, eu contei, foram 12 policiais deusas, que você casa e faz tudo o que ela quiser (...)", afirma o deputado nos áudios, que foram revelados pelo site Metrópoles, e aos quais o UOL também teve acesso.

Em seguida, o parlamentar afirma: "Detalhe, hein. Elas olham e, vou te dizer, elas são fáceis, porque são pobres. E aqui, a minha conta do Instagram, cheio de inscritos, funciona demais. Não peguei ninguém, porque a gente não tinha tempo, mas colei em dois grupos de 'minas' e é inacreditável a facilidade. Essas 'minas' em São Paulo, você dá bom dia e ela [sic] ia cuspir na sua cara e aqui elas são supersimpáticas e supergente boa, é inacreditável", prossegue o deputado. Segundo ele, nas "cidades mais pobres, elas são as melhores".

Depois da divulgação dos áudios, o pré-candidato à Presidência da República Sergio Moro (Podemos) disse ter rompido com do Val, seu aliado político. O deputado também desistiu da pré-candidatura ao governo de São Paulo.

O Podemos classificou como "gravíssima e inaceitável" a conduta e anunciou a abertura de um procedimento disciplinar para investigar as falas sexistas dele.

A namorada de do Val, Giulia Blagitz, terminou o relacionamento com o deputado, segundo a coluna de Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo. "Gostaria de deixar claro que seguiremos caminhos diferentes", registrou Giulia em um perfil redes sociais, que foi desativado.

O parlamentar disse que os áudios foram mandados em um grupo privado para amigos e que se dedicou apenas ao que chamou de "missão" no período em que esteve na Ucrânia. Em uma postagem nas redes sociais, ele afirmou que estava fazendo coquetéis molotov para o exército ucraniano. "Fui para fazer uma coisa, mandei um áudio infeliz, e a impressão que passou é que fui fazer outra coisa."

"Você quer falar que os áudios são escrotos? São. São machistas? São. Eu poderia resumir: aquilo é um moleque, eu estou sendo moleque, essa não é a postura que as pessoas esperam de mim. Quero que você separe as ações das palavras. Eu aceito ser julgado pelo que eu falei, mas não aceito ser julgado pelo que eu não fiz", disse ele em um vídeo.

Suposto assédio contra estudante

Em 2016, Arthur do Val foi acusado de cometer assédio sexual contra uma adolescente de 16 anos, depois de entrar em um colégio em Curitiba (PR) para entrevistar estudantes, que ocuparam o local para realizar um protesto. Na ocasião, Mamãe Falei acabou sendo agredido por esses alunos.

Uma jovem alegou que ele teria passado a mão nela durante a confusão. Os dois assinaram um Termo Circunstanciado e foram liberados pela polícia logo na sequência, segundo informou o "Tribuna Paraná", parceiro do UOL.