De guerra rápida a novo Afeganistão: Exército muda avaliação sobre Ucrânia
Um grupo de análise da guerra entre Rússia e Ucrânia criado pelo Exército brasileiro previu que a tomada de Kiev levaria de 5 a 10 dias. Esse seria o "cenário mais provável", de acordo com documento do Cdoutex (Centro de Doutrina do Exército) de 1° de março, reforçado em 2 de março. Mas já em 3 de março a avaliação foi abandonada pelos mais de 60 analistas que fazem relatórios diários sobre o conflito.
No último boletim, divulgado ontem (15), consta apenas a avaliação de que haverá mais "pressão sobre Kiev". O Observatório enxerga que os conflitos assumirão a forma de "uma guerra irregular com menor intensidade e combates urbanos". Em 2 de março, essa situação foi comparada aos conflitos enfrentados pelas tropas lideradas pelos Estados Unidos no Afeganistão. Iniciada em 2001, após os atentados de 11 de Setembro, a guerra no país do Oriente Médio durou quase 20 anos.
O Exército disse ao UOL que a mudança de avaliação foi feita após "uma análise da matriz doutrinária dos países beligerantes e a comparação com as ações em curso". "Verificou-se não ser mais pertinente o prosseguimento da hipótese levantada a respeito da tomada de Kiev, por não terem sido observadas as condicionantes para a sua consecução", afirmou.
A Força disse que criou o "Observatório de Doutrina" para acompanhar o conflito entre ucranianos e russos, mas que o foco do trabalho não está em "estimativas ou projeções fora do campo das ações militares". "As informações disponíveis não permitem inferir com a precisão necessária as condições no campo político envolvidas no processo de cessar-fogo e no campo psicossocial da sociedade ucraniana pós-conflito."
Em seu site, o Exército afirma que os mais de 60 especialistas que fazem os relatórios incluem "militares da ativa, veteranos e oficiais de ligação de doutrina no exterior". Mas as avaliações "responsabilizam apenas seus autores e não representam, necessariamente, a opinião do Cdoutex" de acordo com a Força. O objetivo dos relatórios diários é "contribuir com a constante evolução da doutrina militar terrestre".
O Exército disse à reportagem que objetivo do "Observatório de Doutrina" é "elaborar indicações para a evolução da Força Terrestre" e que ele vai ser encerrado quando os confrontos acabarem. "A Doutrina Militar Terrestre tem como foco três grandes áreas: quais são as formas de combate empregadas; como são organizadas as estruturas militares e como são equipadas as organizações militares."
As avaliações de 1° e 2 de março foram modificadas pelo Exército, e substituídas por outras. Foram retiradas a menção ao Afeganistão e a página que previa a tomada de Kiev em até dez dias.
ANTES - 1° e 2 de março
AGORA - 15 de março
"Hipótese de prosseguimento do conflito
1. Rússia mantém a pressão sobre Kiev para conquista do objetivo político com o êxito no ressuprimento de suas tropas. (...)
4. O teatro de operações passará à configuração similar ao de conflitos de uma guerra irregular com menor intensidade e combates urbanos."
Fontes: Relatórios do Centro de Doutrina do Exército
Quando ainda imaginavam o fim do conflito, os analistas do Cdoutex previram que isso aconteceria entre 5 e 10 dias. "Para isso as tropas russas terão que usar meios militares cada vez mais violentos - há sinais de que a artilharia russa já está empregando bombas de fragmentação", afirmavam os relatórios de 1° e 2 de março, antes de serem modificados.
Os oficiais tentavam antever uma possível derrubada do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. "O ponto mais crítico será o destino do presidente Zelensky, uma vez que o objetivo final russo é ocupar a capital e depor o governo ucraniano", afirmam os documentos do início do mês. "A grande incerteza nesse caso é a reação que será tomada pelos países da Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte] na fase seguinte, principalmente, se o presidente não sobreviver."
Centro fez reunião com especialistas em Brasília
Segundo as propriedades dos arquivos digitais extraídos do site do Exército, as modificações nos documentos foram feitas em 3 de março. Naquela mesma data, os analistas já tinham abandonado estimar uma data para o fim da guerra. E houve uma reunião no Centro de Doutrina do Exército em Brasília.
O encontro reuniu o chefe do Centro de Doutrina do Exército, general de divisão Sergio Luiz Tratz, e outros comandantes e integrantes de outras áreas como Centro de Inteligência do Exército, Operações Terrestres, Defesa Cibernética, Guerra Eletrônica, do (CIE) e Escola de Comando de Estado Maior do Exército (Eceme).
A reunião contou com videoconferência entre os participantes.
Veja os relatórios diários do Exército sobre a guerra.
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