Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Os russos vão enfrentar uma guerra de insurreição
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Os oficiais de estado-maior se agitam no comando conjunto das forças armadas em Moscou. Os russos já preparam os movimentos para a próxima fase da batalha na Ucrânia.
Novas ordens serão expedidas, indicando missões às tropas desdobradas no teatro de operações e a outras que possam reforçar a manobra.
O plano de campanha inicial sofreu reajustes, mas até os militares mais modernos aprendem que dada a largada em uma empreitada dessa magnitude, os planos vão se adaptando ao terreno e ao inimigo. É o princípio de guerra conhecido como flexibilidade.
A defesa inesperada de cada metro do terreno pelo exército da Ucrânia custou muitas vidas e pesadas perdas em material às forças de Putin.
A história nos ensina que não se conquista um país com 600.000 km2, dimensão semelhante ao Estado de Minas Gerais, em apenas duas semanas.
Mesmo assim, os russos já cercaram Kiev e muito provavelmente investirão sobre o núcleo central da cidade nos próximos dias.
Também conquistarão, em breve, as cidades debruçadas sobre o Mar Negro, criando um corredor seguro para aproximar meios e chegar à Odessa, único porto utilizável pelos ucranianos.
É uma manobra clássica, na qual as três direções estratégicas de atuação (Bielo-Rússia - Ucrânia, a Norte, e Rússia - Ucrânia, a Nordeste e a Leste) se fecharão em algum ponto entre Kiev e Odessa, com as tropas desdobradas sobre a margem esquerda do rio Dnieper.
Estará criado uma zona tampão a Leste do curso d'água que protegerá a mãe Rússia contra a OTAN e suas investidas.
Mas, até lá, Putin precisará ter domínio das principais cidades ucranianas na zona de ação. E não custa recordar que o combate urbano traz vantagens para o defensor que conhece becos e atalhos da área de operações.
Exige dos atacantes tropas de infantaria que, mesmo detentoras de tecnologia avançada, terão de expor-se para pegar o touro pela unha.
Grandes potências já sofreram diante de quadro semelhante. Lembremo-nos das escaramuças americanas em Mogadíscio (Somália) e Mossul (Iraque).
Será Kiev a Mogadíscio dos russos? As lições de guerra para o urso inquieto estão muito próximas de sua fronteira Sul.
Concluído o investimento sobre as toneladas de concreto destruído, a queda da capital ucraniana será anunciada por Putin como a conquista do objetivo principal e centro de gravidade da operação.
Os russos já sabem que a partir de então o ritmo e os embates terão outras características.
Os ucranianos, com a debacle do centro político de poder, terão que mudar as estruturas de sustentação do governo Zelensky para Oeste, perdendo as vantagens materiais e psicológicas que animam os seus combatentes.
A guerra de insurreição passará a ser o padrão do conflito. Ela será tão mais violenta quanto mais violento for o tratamento dos soldados russos com a população das cidades.
É admissível que os combatentes ucranianos nesta fase se misturem à população, o que tornaria muito difícil sua detecção pelas forças fardadas de Putin.
A Rússia fatigará soldados e desgastará material para manter os aglomerados urbanos conquistados. Seus combatentes sofrerão emboscadas diárias e só estarão seguros dentro dos pontos fortes.
Os ucranianos, por sua vez, precisarão cada vez mais de apoio externo para prosseguimento da campanha.
A cadeia logística de sustentação será afetada pelos ataques russos, como o ocorrido a semana passada à base ucraniana em Lviv.
Quanto mais próximo da fronteira os mísseis de Putin tiverem que buscar seus alvos, mais próximo ficará a OTAN de entrar no conflito, escalando a crise de regional para mundial.
As conversações em busca da interrupção do conflito ainda podem alongar-se por dias, semanas, meses a depender da evolução da guerra de quarteirão e do entorno político e diplomático que cercará cada encontro.
Mesmo que um cessar-fogo seja aceito, os embates continuarão a ocorrer para manutenção do moral dos combatentes e ganhos táticos de posição.
Nessa fase será essencial a "intromissão" das grandes potências não envolvidas diretamente para a solução do conflito. O espaço para negociação se torna mais exíguo a cada dia.
O resultado desses encontros indicará o caminho que o mundo vai seguir a partir de então. Ingênuos os que acreditarem que nada mudará ou mudará pouco. Já mudou!
A hegemonia estadunidense foi posta à prova. A OTAN, do alto de sua fortaleza de papel, precisará reajustar-se. A Ucrânia peleja entre o passado czarista e o futuro jeffersoniano. A Rússia ruge, mas o velho urso está alquebrado.
A China, onde o relógio das decisões é mais lento, colhe dividendos pelo conflito. Vale-se das idiossincrasias ocidentais, da ansiedade por protagonismo da Rússia e das necessidades econômicas do mundo em geral.
Com o socialismo de mercado e a liberdade política inexistente, o império do meio se fortalece. Vence, pouco a pouco, as imposições da geopolítica e se prepara para o grande embate entre o Ocidente e o Oriente quando e se ele chegar. A conferir.
Paz e bem!
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