Silveira: Ida à PF para tornozeleira tem café na chefia e cobrança a Lira
O deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) ficou cerca de 50 minutos na Superintendência da Polícia Federal em Brasília para que fosse colocada uma tornozeleira eletrônica em sua perna após determinação do Supremo Tribunal Federal (STF). Lá, dirigiu-se à chefia do órgão regional, que funciona no final da Asa Sul, na capital federal, onde se queixou do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e da "injustiça" que diz sofrer por parte do Judiciário.
Silveira atravessou o portão da Superintendência da PF em um carro preto por volta das 15h desta quinta-feira (31). Estacionou. Ficou alguns minutos no veículo e caminhou até a recepção. Ele estava acompanhado de assessores. O deputado e agente da PF Ubiratan Sanderson (União-RS) chegou ao local em outro carro.
Da recepção, o grupo subiu as escadas e foi ao gabinete do superintendente da PF, Victor César Carvalho, o chefe do órgão regional. Atravessaram uma porta de vidro com o emblema da corporação, uma antessala e chegaram à espaçosa área onde os superintende recebe visitas. Discreto, Carvalho cumprimentou os presentes e convidou-os a sentar em um dos três sofás pretos que cercam uma mesinha baixa.
Ao lado dos sofás, há uma máquina de café expresso. "Ficamos lá e tomamos um café com o Victor, o superintendente", descreveu o deputado Ubiratan Sanderson ao UOL.
Victor Carvalho é o delegado que foi ontem à Câmara com dois servidores da Secretaria de Administração Penitenciária (Seape), um órgão do governo local, para instalar a tornozeleira em Silveira. Ele pediu ajuda a Arthur Lira. Sem sucesso, Carvalho deixou um ofício protocolado na Casa solicitando apoio para cumprir a ordem judicial.
Deputado viu "injustiça", narra colega
Hoje, na sala de Carvalho, Silveira começou a falar com seus assessores sobre a atuação de Arthur Lira — que ontem criticou o uso o que chamou de "uso midiático" da Casa pelo deputado e disse que decisões judiciais devem ser cumpridas, embora também tenha afirmado que a "inviolabilidade" da Câmara é sagrada e defendeu que o Supremo analise os "pedidos" do parlamentar.
Para Silveira, o presidente da Câmara poderia ter tomado outra postura e defendê-lo da ação do Supremo contra ele.
O ministro do STF Alexandre de Moraes ordenou que o deputado usasse tornozeleira porque descumpriu ordens anteriores, de novembro passado, como a que o proibia de manter contato com outros investigados no chamado inquérito das milícias digitais, sucessor do inquérito dos atos democráticos.
Na PF, Silveira também falou sobre Moraes e do que estava passando, relatou Sanderson, classificando o episódio como "injustiça". "Ele disse: 'Não matei, não roubei e estou sendo tratado com um criminoso'." No entanto, o deputado não criticou a polícia. "Ele foi muito bem tratado pela polícia", disse Sanderson.
Enquanto Silveira, Sanderson e os assessores conversavam, os policiais apenas ouviam. Todos aguardavam os trâmites técnicos para a instalação do equipamento, que era feito em outra sala, por servidores da Secretaria de Administração Penitenciária (Seape), um órgão do governo local.
Dez horas de bateria
Quando tudo ficou acertado, os visitantes e os policiais foram até a sala, que havia sido reservada especialmente para a ocasião. Lá, Silveira reafirmou que só foi convencido a colocar o equipamento porque a ordem de Moraes previa uma multa diária de R$ 15 mil e o bloqueio de suas contas.
Os funcionários da Seapa configuraram o dispositivo para permitir que Silveira transite em todo o estado do Rio de Janeiro e no Distrito Federal — onde o deputado é obrigado a permanecer, para fins de exercer o mandato parlamentar, e está proibido de dar entrevistas e participar de eventos públicos. Na PF, ele foi orientado sobre a duração da bateria tornozeleira (dez horas). Para ser carregada, precisa ficar duas horas na tomada.
Eles instruíram o deputado que, se o equipamento for desligado ou deixar de emitir sinais, o deputado será contatado depois de duas horas de ausência de monitoramento. Silveira assinou os termos de uso da tornozeleira.
O deputado pediu para instalar o equipamento na perna esquerda. Segundo ele, porque "tudo de ruim" fica na esquerda, uma referência aos partidos de oposição ao governo de Jair Bolsonaro (PL), de quem é apoiador.
A defesa de Silveira afirma que as restrições "cerceiam a atividade parlamentar, violam as prerrogativas do parlamentar e impedem o livre exercício do mandato" do congressista, que é réu no Supremo e será julgado no próximo dia 20.
Aglomeração na saída da PF
Ao sair, o deputado entrou em seu carro. Logo ao atravessar o portão, ensaiou falar com os jornalistas pela janela, mas depois pediu para estacionar mais à frente. Os jornalistas se aglomeraram ao seu redor para filmá-lo com a tornozeleira. Ele saiu do carro, deu uma rápida entrevista e exibiu a o equipamento na perna.
Na frente da portaria da PF, o deputado voltou a mencionar o ministro Alexandre de Moraes e o deputado Arthur Lira. O UOL perguntou qual seria sua defesa a partir de agora. Silveira respondeu que o processo não tinha defesa, mas apenas "acusação". "Não cabe recurso ao Alexandre", continuou. "Ele ignora."
Silveira disse que o próximo passo está nas mãos do presidente da Câmara. "O [Arthur] Lira tem que fazer o dever dele. Tá no regimento da Casa."
Procurado por meio de sua assessoria, Lira não se manifestou sobre as declarações de Silveira.
Histórico
Silveira foi preso pela primeira vez em fevereiro de 2021, após divulgar dois vídeos com ameaças aos ministros do STF. Entre idas e vindas no regime domiciliar, ele foi solto definitivamente em novembro, mas Moraes impôs ao parlamentar uma série de medidas restritivas, que incluem a proibição de acesso a redes sociais e de contato com outros investigados nos inquéritos das fake news e das milícias digitais.
Apesar das limitações, o deputado voltou a atacar o STF na semana passada. Em evento que reuniu conservadores, o parlamentar afirmou que "está ficando complicado" para Moraes continuar vivendo no Brasil.
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