STF: Cármen Lúcia cobra governo por desmatamento; Mendonça suspende votação
O ministro André Mendonça, do STF (Supremo Tribunal Federal), pediu vista (mais tempo de análise) e suspendeu o julgamento de duas ações da chamada "pauta verde", conjunto de sete processos que discutem políticas públicas e omissões do governo federal no combate ao desmatamento na Amazônia.
A suspensão ocorreu logo após o voto de Cármen Lúcia, única a votar, que reconheceu a existência de um quadro "estrutural" de violação a direitos na situação ambiental do país. A ministra deu um duro voto, criticou a falta de execução do orçamento para políticas ambientais e cobrou a adoção de um novo plano para reduzir o desmatamento da floresta.
Em seu voto, Cármen reconheceu o "estado de coisas inconstitucional" na proteção ambiental da Amazônia. Nesta situação, o Judiciário reconhece uma situação de contínuas violações à Constituição.
A ministra ordenou, entre outras medidas, que o governo elabore um plano que vise a fiscalização e o combate ao desmatamento, a proteção dos direitos indígenas e o combate a crimes ambientais. O documento deverá ser entregue ao STF em até 60 dias, contendo o cronograma de ação, metas, objetivos, prazos e recursos disponíveis para sua implementação.
O governo deverá elaborar também um plano de fortalecimento de órgãos ambientais, como Ibama e o ICMBio, e atuar para garantir a redução efetiva e contínua dos níveis de desmatamento ilegal em terras indígenas.
Durante o voto, Cármen criticou a inexecução do orçamento disponível para políticas ambientais, apontando que as verbas ficam somente previstas, mas não saem do papel.
Verbo não é verba. Lorota, trololó, lero-lero de dizer que está lá previsto, mas não acontecido. Não adianta ter uma previsão que não é para ser executada"
Ministra Cármen Lúcia, do STF
Mendonça pede vista
Ao pedir vista, André Mendonça, indicado ao STF por Bolsonaro, afirmou que a proteção do meio ambiente não é somente responsabilidade do governo federal, mas também dos estados, e que é preciso buscar uma "resposta futura".
"A responsabilidade de proteção não é apenas da União, é também dos estados. E na região [amazônica], há estados com dimensão maior que muitos países e nós precisamos para ter uma resposta a meu ver adequada a essa questão, tratar também da responsabilidade dos estados", disse. "Não quero olhar muito para o passado, quero ver como construir o futuro". O ministro afirmou que pediu vista apenas nestes processos, mas votará nas ações pautadas para amanhã.
O desmatamento na floresta amazônica brasileira atingiu níveis recordes para o mês de fevereiro, de acordo com dados do governo. Ao mesmo tempo, um estudo científico indicou que a selva está chegando a um ponto de inflexão após o qual não poderá mais se sustentar.
"Pauta Verde"
O STF retomou hoje o julgamento da chamada "pauta verde", conjunto de sete processos que discutem políticas ambientais em vigor no país. Nesta sessão, os ministros começaram a votar em duas ações movidas por partidos da oposição. Amanhã, o STF discutirá outros quatro casos sobre o tema.
O primeiro processo de hoje, apresentado pela Rede Sustentabilidade, acusa o governo Bolsonaro de omissão no combate ao desmatamento da Amazônia. A legenda cita dados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) que demonstrariam o avanço da destruição da floresta desde 2019.
A segunda ação, movida por sete partidos, pede ao Supremo que obrigue o governo a adotar o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia (PPCDam), que funcionava desde 2004 e foi descontinuado por Bolsonaro.
O governo alega que houve uma "evolução" do PPCDam para um novo plano de combate à queima da floresta.
"Foi na busca de novas soluções para a prevenção e o combate ao desmatamento que foi concebido o novo Plano Nacional, que é, de fato, um claro avanço no combate e controle do desmatamento na Amazônia", disse o advogado-geral da União, Bruno Bianco, na semana passada.
O desmatamento no Brasil tem aumentado desde que o presidente Bolsonaro assumiu o cargo, em 2019, e enfraqueceu a conservação ambiental, defendendo mais agricultura comercial e mineração em áreas protegidas para ajudar a tirar a região amazônica da pobreza, Na avaliação do Meio Ambiente, o governo "atua de forma ainda mais contundente em 2022 no combate aos crimes ambientais".
"Cupinização institucional"
Cármen iniciou a leitura de seu voto na última quinta-feira (31) com duras críticas ao que chamou de "cupinização" das instituições democráticas, especialmente em temas ambientais.
"O que são esses cupins? O cupim do autoritarismo, o cupim do populismo, o cupim de interesses pessoais, o cupim da ineficiência administrativa. Tudo isso junto a construir um quadro que não tenha o cumprimento objetivo, garantido, da matéria constitucional devidamente assegurada", afirmou.
Cármen também citou a declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes, que em 26 de março afirmou que o Brasil é "apenas um pequeno transgressor ambiental" em comparação a outros países. "A transgressão está confessada", disse a ministra.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.