Daniel Silveira não vai para cadeia, diz jurista Wálter Maierovitch
O jurista e colunista do UOL Wálter Maierovitch disse hoje que o deputado federal bolsonarista Daniel Silveira (PTB-RJ) não seria condenado ao regime fechado. O STF (Supremo Tribunal Federal) julgou na quarta-feira (20) a ação penal contra Silveira por ameaças aos ministros da Corte e incitação de animosidade entre as Forças Armadas e o STF.
Silveira, no entanto, foi condenado a 8 anos e 9 meses de regime fechado no julgamento à tarde, depois do comentário de Maierovitch.
"Cadeia não vai ter para o Daniel Silveira. Por uma razão muito simples: são três acusações, uma pelo Código Penal e duas pela Lei de Segurança Nacional, que foi revogada em 2021. No lugar dela, o Parlamento fez outra lei, mas que é posterior aos fatos atribuídos a Silveira", explicou Maierovitch no UOL News.
Ele acrescentou que a nova lei não pode ser aplicada retroativamente.
O que vai sobrar? A acusação de coação no curso do processo. A pena é de um a quatro anos. E o que diz o Código Penal? Só cabe regime fechado -só vai para a cadeia -quem cumprir pena superior a oito anos.
Jurista e colunista do UOL Wálter Maierovitch
Daniel Silveira se tornou réu após divulgar, em fevereiro de 2021, um vídeo nas redes sociais com ameaças a ministros do STF e apologia ao AI-5, o Ato Institucional Número 5, o mais duro da ditadura militar (1964-1985).
Nos últimos dias, os advogados de Daniel Silveira atuaram para tentar protelar o julgamento. Na semana passada, pediram a suspeição de 9 dos 11 ministros da Corte — exceto indicados por Bolsonaro —, e também que o caso fosse levado ao Superior Tribunal Militar.
Ambos os pedidos ainda não foram avaliados, e a tendência é que sejam discutidos antes do julgamento como questões preliminares.
Para Maierovitch, o julgamento de Daniel Silveira apenas por Nunes Marques e André Mendonça é um "sonho de noite de verão".
"No caso de não haver quórum, e dois não vai ser quórum, ministros do Supremo Tribunal de Justiça serão convocados. Então essa história de ser julgado por dois jamais vai ocorrer", afirmou o jurista. Ele acrescentou que nenhum dos nove ministros dados como suspeitos por Silveira aceitarão a suspeição.
Silveira tem o apoio de Bolsonaro, que reiteradamente sai em defesa do parlamentar. No último dia 31, quando mais uma vez o presidente atacou ministros do STF e, sem citá-los nominalmente, mandou calarem a boca e botarem a toga.
"Bolsonaro vai achar uma maravilha politicamente. Se Daniel for condenado, ele vai ter mais força para o seu discurso. Veja que já está voltando os ataques antigos. Agora vai ter um fato novo", afirmou Maierovitch.
Pedido de vista pode suspender julgamento
Nos corredores do STF, um pedido de vista para suspender o julgamento é considerado improvável, mas não impossível. Hoje, as maiores incógnitas estão entre os indicados pelo presidente Bolsonaro: Nunes Marques e André Mendonça.
Nunes Marques será o segundo a votar, logo após Moraes, mas é considerado improvável que peça vista pois já está familiarizado com o caso por ser o revisor da ação penal. Mendonça, que votará na sequência, se tornou então a principal aposta entre bolsonaristas para suspender o julgamento.
Como mostrou o UOL, se isso ocorrer, outros ministros do STF avaliam adiantar seus votos e, no limite, formar maioria pela condenação de Silveira.
A manobra tem um efeito mais simbólico que prático — demonstraria a unidade do tribunal em condenar as ameaças de Silveira, fortaleceria a posição de Moraes e deixaria Mendonça isolado, arcando sozinho com o ônus de travar a votação.
Silveira, porém, ficaria livre para conduzir sua campanha eleitoral. O deputado só será considerado condenado quando o julgamento for concluído, mesmo que os ministros antecipem seus votos após um pedido de vista.
O regulamento do STF define que o ministro que pede vista deve devolver o caso para julgamento em até 30 dias, prorrogáveis por mais 30. Na prática, porém, nenhum deles cumpre a norma.
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