Cinema, queijo e comida árabe: 4 flagrantes de regalias atribuídas a Cabral
Toalhas bordadas, talheres de inox, prateleira com fundo falso para guardar celular e indício de um banquete árabe pago por aplicativo no valor de R$ 1.508 não são as primeiras regalias vinculadas ao ex-governador do Rio Sérgio Cabral, preso no Batalhão Especial Prisional, em Niterói, região metropolitana do Rio. A defesa dele nega que os itens pertençam ao ex-governador.
Condenado a 407 anos de prisão pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa no âmbito da Operação Lava Jato, o ex-peemedebista acumula ao menos outras duas punições por irregularidades encontradas em presídios por onde passou.
Uma delas ocorreu em decorrência da instalação de um "cinema" na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, na zona norte do Rio, em 2017.
Segundo denúncia do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro), Cabral tinha acesso a uma televisão de 65 polegadas, home theater e 160 filmes —itens encomendados em nome de duas igrejas que teriam forjado a doação dos aparelhos.
O cinema privativo resultou na transferência do ex-governador para Bangu 8 —nesse presídio, ele cumpriu isolamento de 30 dias e teve o direito a visitas suspenso após a conclusão, dois anos depois, do processo administrativo disciplinar que constatou a irregularidade.
Queijos finos e iguarias
Ainda em 2017, o MP-RJ relatou ter encontrado durante ação no presídio de Benfica castanhas, presunto cru, queijos finos variados, bolinho de bacalhau, iogurte em balde de gelo e outras iguarias na cela de Cabral e da ex-primeira dama Adriana Ancelmo, antes de ser beneficiada com a prisão domiciliar.
Na ocasião, a Seap (Secretaria de Administração Penitenciária) informou que é permitido aos detentos levarem até três sacolas com alimentos para as celas e que o balde de gelo havia sido improvisado pelos internos.
Antes, em Bangu 8, câmeras de segurança do presídio já haviam flagrado o ex-governador circulando livremente pelos corredores da unidade.
As imagens, divulgadas pela TV Globo, mostravam visitas fora dos horários estipulados pela Seap. Em uma delas, o filho mais velho de Cabral, o ex-deputado federal Marco Antônio Cabral (MDB-RJ), encontrava o pai na sala da direção do presídio.
Punição por dinheiro acima do permitido
Em 2018, Cabral foi flagrado em posse de mais de R$ 100 durante fiscalização da Corregedoria da Seap em conjunto com o MP-RJ em Bangu 8. Por lei, cada preso pode ter até R$ 100 na cadeia. A irregularidade custou ao ex-governador dez dias sem visita e sem acesso à televisão.
Após a identificação de regalias nos dois presídios, ele chegou a ser transferido para o Paraná, onde permaneceu por três meses. Na época, o retorno ao RJ foi concedido pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
No Rio, Cabral passou por três presídios —Bangu 8, Cadeia Pública José Frederico Marques e a Unidade Prisional Especial, em Niterói, onde cumpre pena desde setembro. No último presídio, cumprem pena policiais militares e detentos com direito a prisão especial.
Após o flagrante de novas irregularidades, Cabral deve retornar ao Complexo Penitenciário de Bangu.
Procurada, a Seap disse que ainda não foi notificada sobre a decisão. Já a Secretaria de Estado de Polícia Militar informou que em relação à transferência de internos, "o comando da UP/PMERJ aguarda determinação judicial".
Comida árabe e cigarros de maconha
Uma vistoria feita pela VEP (Vara de Execuções Penais) do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro no presídio de Niterói encontrou um caderno com anotação de R$ 1.508 pagos a um restaurante de comida árabe.
Para o juiz Rubioli, há indícios de que a lista —encontrada em área onde estava Cabral no momento da vistoria— pertença ao ex-governador.
Foram encomendadas esfihas, kafta, lentilha, coalhada, falafel e outros itens. No papel, também foram anotadas compras em dinheiro, crédito ou débito, segundo informou ontem a TV Globo.
No dia da fiscalização, Cabral e outro preso, o tenente-coronel Claudio Luiz de Oliveira, condenado a 36 anos de prisão pela morte da juíza Patrícia Acioli, foram surpreendidos. Eles estavam em uma área externa quando Oliveira foi flagrado com uma sacola verde.
"Quando ele me viu, ficou sem ação e jogou a sacola por cima da cerca. Mas ela caiu dentro da unidade. Ao lado dessa área onde se encontrava esse policial, nós vimos, nas filmagens, que só se encontravam o senhor Sergio Cabral e o coronel Claudio. Então, há um indício de que esse material seja deles", afirmou o juiz Marcelo Rubioli.
Na sacola, além de dois celulares, estavam mais de R$ 4.000 em dinheiro e cigarros de maconha.
Outro lado
Procurada, a defesa de Cabral disse que, na revista, "não foi encontrada qualquer irregularidade em sua cela, motivo pelo qual nenhum dos objetos encontrados em áreas comuns foi relacionado ao ex-governador. Ele desconhece objetos encontrados fora da galeria de acautelamento dos oficiais. No momento da chegada das autoridades, o ex-governador estava em área comum, na companhia dos demais acautelados", diz, em nota, a advogada Patrícia Esteves.
A defesa de Cabral é a mesma do tenente-coronel Claudio. A defensora disse "não terem sido encontrados em sua cela nenhum dos materiais informados pela reportagem. No momento da revista, o tenente-coronel se encontrava em ambiente comum com os demais acautelados".
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