Bolsonaro faz discurso a eleitores e exalta reunião 'sem máscara' com Biden
O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a dizer hoje, em discurso na Cúpula das Américas, que ficou "maravilhado" após reunião com o americano Joe Biden. O governante brasileiro destacou que ambos estavam sem máscara e a menos de um metro de distância durante o encontro bilateral, que durou 30 minutos —ele já havia feito relato semelhante, pouco antes, ao deixar o hotel no qual está hospedado em Los Angeles, cidade-sede do evento.
A experiência de ontem com o presidente Biden foi simplesmente fantástica. Estou realmente maravilhado e acreditando em suas palavras e naquilo que foi tratado reservadamente entre nós."
Jair Bolsonaro
"Estive com o presidente Biden numa [reunião] bilateral ampliada e depois uma mais reservada, com pouquíssimas pessoas. Ficamos por 30 minutos sentados, em distância inferior a um metro e sem máscara. Senti no presidente Biden muita sinceridade e muita vontade de resolver certos problemas que fogem obviamente de total responsabilidade de cada um de nós. Mas juntos poderemos buscar alternativas para por um fim nesses conflitos", afirmou.
Pré-candidato à reeleição, Bolsonaro aproveitou boa parte do discurso na Nona Cúpula das Américas para falar com o público interno. Abordou temas de interesse dos seus apoiadores, como o ideário de defesa da liberdade, concepção da vida (em referência ao aborto) e lealdade ao povo.
"Atualmente, vemos no Brasil e em parte do mundo um ataque claro às liberdades individuais por opinar de forma diferente", declarou. "Neste ano em que o Brasil comemora 200 anos de independência, afirmamos que temos um governo que acredita em Deus, respeita os seus militares, é favorável à vida desde a sua concepção, defende a família e deve lealdade ao seu povo."
O presidente repetiu um dos mantras de sua mobilização eleitoral para este ano e afirmou, sem oferecer uma contextualização precisa, que, "no Brasil, já se entende que a liberdade é um bem maior do que a própria vida". "Pois um homem ou mulher sem liberdade não tem vida."
Bolsonaro tem travado uma guerra institucional com o STF (Supremo Tribunal Federal) e, sistematicamente, acumulado ataques ao sistema eleitoral brasileiro e membros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com os quais têm divergências. De acordo com a narrativa do presidente, estes estariam supostamente mobilizados para "roubar" a liberdade dos brasileiros.
Em outros trechos, Bolsonaro fez uma defesa da política ambiental brasileira e citou o caso do desaparecimento do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo, dizendo que "pede a Deus que os dois sejam encontrados com vida".
Para o presidente brasileiro, a Nona Cúpula das Américas é uma "oportunidade para tratar de desafios pós-pandemia", como o desenvolvimento sustentável, a transição energética, a transformação digital, a imigração, a democracia e os direitos humanos. Bolsonaro disse ainda que o Brasil está "atento aos problemas econômicos que afetam o mundo", como inflação e desemprego.
"(...) E, principalmente, ao bem mais precioso para o ser humano. A sua liberdade. Aí incluídos a liberdade de expressão, de trabalho e de culto religioso."
Agronegócio
Logo no início do discurso, ao defender a política governamental brasileira voltada à Amazônia, Bolsonaro disse considerar que é possível expandir o agronegócio no país sem causar ainda mais desmatamento e outros danos ambientais.
Nós não precisamos da Amazônia para expandir o agronegócio."
Jair Bolsonaro
Ele ignorou o avanço da fome no Brasil e afirmou que o país garantiu a sua "segurança alimentar" ao negociar a compra de fertilizantes com a Rússia —a negociação ocorreu pouco antes do início da invasão russa à Ucrânia. Há dois dias, pesquisa da Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional), que envolve seis entidades parceiras, mostrou que 33,1 milhões de pessoas passam fome no Brasil —o número subiu mais de 70% em dois anos.
Desaparecimento na Amazônia
Segundo Bolsonaro, as Forças Armadas e a Polícia Federal estão empenhadas de forma "incansável" para descobrir o paradeiro do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista e servidor da Funai Bruno Araújo. Ambos estão desaparecidos desde o dia 5 de junho, na região do Vale do Javari, na Amazônia.
"Desde o primeiro momento do desaparecimento as nossas Forças Armadas têm se destacado para a busca incansável dessas pessoas, pedimos a Deus que sejam encontrados com vida", disse o presidente
Colaborador do jornal inglÊs The Guardian, Dom Phillips percorria a região, junto com Bruno Araújo, para produzir reportagens. Eles pararam para uma pausa em uma comunidade ribeirinha e voltariam para a cidade de Atalaia do Norte, no oeste do Amazonas.
Questionado sobre o assunto em entrevista ao SBT, durante a semana, Bolsonaro havia classificado o sumiço como uma "aventura não recomendável".
"Realmente, duas pessoas apenas em um barco, numa região daquelas, completamente selvagem... É uma aventura que não é recomendável que se faça. Tudo pode acontecer. Pode ser um acidente, pode ser que eles tenham sido executados... Tudo pode acontecer. A gente espera e pede a Deus que sejam encontrados brevemente. As Forças Armadas estão trabalhando com muito afinco na região."
Líderes voltam a reclamar de exclusão de países
Na plenária de hoje, a exclusão dos governos de Cuba, Venezuela e Nicarágua para participação da Cúpula das Américas voltou a ser alvo de críticas de autoridades. A gestão de Joe Biden deixou de convidá-lo por considerar que esses países não são democráticos.
Ontem, o presidente da Argentina, Alberto Fernández, já havia feito duras críticas a essa situação.
"O fato de ser o anfitrião da Cúpula não lhes dá o direito de dividir os países do continente. O diálogo, a diversidade são os melhores instrumentos para promover a democracia e a igualdade. O presidente (dos Estados Unidos, Joe) Biden tenho certeza que se deve abrir de forma fraterna a interesses em comum", disse Fernández.
Ele foi acompanhado pelo primeiro-ministro de Belize, Johnny Briceño, que também fez críticas aos EUA. "A ausência da Venezuela é inaceitável."
Nesta sexta (10), alguns líderes também reclamaram da crise econômica —ainda por decorrência da pandemia da covid-19. A primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, sugeriu a criação de uma plataforma comum para ajudar em negociações de preços e serviços.
*(Com Hygino Vasconcellos, colaboração para o UOL, em Balneário Camboriú)
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