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Climão e frieza: relembre acusações e divergências entre Biden e Bolsonaro

Os presidentes Jair Bolsonaro (Brasil) e Joe Biden (EUA) - AFP e Divulgação
Os presidentes Jair Bolsonaro (Brasil) e Joe Biden (EUA) Imagem: AFP e Divulgação

Felipe Mendes

Colaboração para o UOL

10/06/2022 13h41

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (PL), e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se encontraram durante a Cúpula das Américas, em Los Angeles (EUA), no primeiro contato pessoal entre os dois presidentes desde que Bolsonaro prestou solidariedade a Vladimir Putin, uma semana antes de o presidente russo autorizar a invasão à Ucrânia.

O encontro não fugiu do script diplomático, mas, como analisado pela colunista do UOL Fernanda Magnotta, a linguagem corporal revelava, no "não dito". Não teve aperto de mãos público e houve limitada troca de olhares.

Não sabemos como foi a curta conversa privada com Biden —a Casa Branca só divulgou, de maneira genérica, que os líderes falaram em "apoiar a renovação democrática". Mas enquanto o presidente americano deu prioridade às questões democrática e ambiental em fala inicial, o brasileiro voltou a colocar em dúvida o sistema eleitoral.

"O Brasil é um lugar maravilhoso. Por sua democracia vibrante e inclusiva e instituições fortes, nossas nações são ligadas por profundos valores compartilhados", disse Biden, que elogiou o "bom trabalho" que o Brasil estaria fazendo para proteger a Amazônia e pediu que "o resto do mundo ajude a financiar a proteção".

Bolsonaro, por outro lado, não aprofundou a questão ambiental e declarou mais uma vez que busca "eleições limpas, confiáveis e auditáveis, para que não haja nenhuma dúvida após o pleito", insinuando que o sistema democrático que o levou ao poder mudou de 2018 para cá.

Esta não é a primeira vez que os dois líderes manifestam opiniões divergentes.

Sem parabéns

O primeiro "climão" veio logo que Biden foi eleito em 2020, derrotando Donald Trump, então apoiado por Bolsonaro. O presidente brasileiro demorou 38 dias para cumprimentar o norte-americano pela vitória, sendo o último líder do G-20 a parabenizar Biden. De todos os líderes mundiais, apenas Kim Jon-Un, ditador norte-coreano, demorou mais que Bolsonaro.

Bolsonaro também chegou a afirmar, sem provas, que houve "fraude" no processo eleitoral dos Estados Unidos.

Amazônia sempre em pauta

Mas antes mesmo de Biden bater Trump, Bolsonaro criticou o democrata por ele ter falado sobre reunir recursos em conjunto com outros países para que o Brasil acabasse com o desmatamento na Amazônia —afirmando que o país poderia sofrer sanções se não o fizesse.

"É isso que vocês querem para o Brasil? Interferência de fora para dentro?", afirmou a apoiadores na saída do Palácio da Alvorada.

Dois meses após a vitória de Biden, o enviado especial climático do governo Biden, John Kerry, afirmou na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Estados Unidos que os norte-americanos deveriam negociar com Bolsonaro sob o risco de que a Amazônia "desapareça".

Questionado sobre a atuação dos norte-americanos, o presidente brasileiro já chegou a dizer que "o Brasil está de portas abertas e pronto para continuar a conversa com o governo americano". Mas, como a gestão Biden, "é governo mais de esquerda" que "tem quase uma obsessão pela questão ambiental", Bolsonaro acredita que "isso atrapalha um pouquinho a gente", disse.

No grupo dos que estão "o tempo todo fustigando o Brasil, [dizendo] que não sabemos tratar da Amazônia", segundo o presidente, estão Biden, Emmanuel Macron, da França, Justin Trudeau, do Canadá, e Boris Jhonson, do Reino Unido.

Para ele, isso acontece para "deixar o Brasil no segundo plano no mercado de commodities".

"Nós temos aqui commodities, especialmente no campo. E concorremos com alguns países importantes. Obviamente os países têm interesse em nos deixar no segundo plano, porque quanto menos mercadoria no mercado, o deles é mais valorizado. França, Estados Unidos, um pouco da Austrália, que não tem grande poder de influência e não trabalha contra a gente", declarou.

Democracias e eleições ameaçadas

Depois que Biden foi eleito, circulou um documento no alto escalão do governo pedindo o congelamento de acordos, negociações e alianças políticas com o Brasil enquanto Bolsonaro estivesse na Presidência.

Divulgado pela BBC, o texto dizia que a aproximação do brasileiro com Trump colocava em xeque "o papel de Washington como um parceiro confiável na luta pela proteção e expansão da democracia" e que "o governo Biden-Harris não deve de forma nenhuma buscar um acordo de livre-comércio com o Brasil".

As críticas de Bolsonaro às urnas eletrônicas e as acusações, sem provas, sobre fraude nas eleições brasileiras em 2018 já haviam ligado um alerta nos Estados Unidos.

Uma reportagem da Reuters afirmou que o diretor da Agência Central de Inteligência (CIA) afirmou a funcionários do governo brasileiro, ainda em 2021, que o presidente Bolsonaro deveria parar de lançar dúvidas sobre o sistema de votação do país.

Em entrevista ao SBT News, pouco antes do encontro recente com Biden, Bolsonaro afirmou que "fica com um pé atrás" com a atual gestão norte-americana, já que o presidente Trump "estava muito bem".

"Quem diz é o povo americano. Eu não vou entrar em detalhes na soberania de outro país. Agora, o Trump estava muito bem. E muita coisa chegou para gente, que a gente fica com pé atrás. A gente não quer que aconteça isso no Brasil. Tem informações de próprios brasileiros de que teve gente que votou mais de uma vez", afirmou.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.