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'Dilma é honestíssima, mas teve dificuldades em se relacionar', diz Temer

Dilma Rousseff e Michel Temer no dia da posse; para Cláudio Couto, eles têm perfil diferente da dupla Lula e Alckmin - Agência Brasil
Dilma Rousseff e Michel Temer no dia da posse; para Cláudio Couto, eles têm perfil diferente da dupla Lula e Alckmin Imagem: Agência Brasil

Weudson Ribeiro

Colaboração para o UOL, em Brasília

21/07/2022 11h29

O ex-presidente Michel Temer (MDB) afirmou hoje que o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) deu-se por conta do relacionamento rochoso da petista com parlamentares de oposição e defendeu a constitucionalidade do processo, que o levou à Presidência da República em 2016.

"Não houve golpe. Às vezes falam de corrupção, mas é mentira. A ex-presidente Dilma é honesta. O que eu sei e pude acompanhar, embora estivesse à margem do governo e embora fosse vice-presidente, é que não há nada que possa apodá-la de corrupta. Para mim, honestíssima. Houve problemas políticos. Ela teve dificuldade no relacionamento com o Congresso Nacional, teve dificuldade no relacionamento com a sociedade e teve as chamadas 'pedaladas', um coisa extremamente técnica, decretado pelo Tribunal de Contas da União. Esse conjunto de fatores é que levou multidões às ruas", afirmou Temer ao UOL.

Na avaliação do emedebista, a queda de um presidente não é iniciativa do Poder Legislativo, mas da população como um todo que, segundo ele, é capaz de influenciar a decisão de deputados federais e senadores. Temer diz que eventual processo de impeachment contra Jair Bolsonaro (PL) só seria viável com pressão popular, e afirma considerar "natural" que o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), tente blindar o presidente da República da ofensiva de opositores: "No entanto, [Lira] deveria logo examinar esses pedidos. Processá-los ou indeferi-los", diz.

Atualmente, há ao menos 145 pedidos de impedimento contra Bolsonaro pendentes de análise na Casa. O último foi protocolado ontem, em reação à transmissão, na última segunda-feira (18), pela TV Brasil de um ato político com a presença de embaixadores internacionais em que o mandatário fez ataques ao sistema eleitoral brasileiro e a ministros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

O que diz Dilma: 'História não perdoa traição'

A ex-presidente Dilma respondeu ao ex-presidente Temer, por meio de uma carta aberta publicada. A ex-presidente cita projetos do emedebista que não estavam presentes nos planos dos governos eleitos em 2011 e 2015, os quais Temer integrou como vice-presidente. "Relembro que a história não perdoa a prática da traição. O senhor Michel Temer não engana mais ninguém. O que se conhece dele é mais que suficiente para evitá-lo, razão pela qual não pretendo mais debater com este senhor."

Facada ajudou Bolsonaro a ser eleito em 2018

Temer também disse que a facada sofrida por Jair Bolsonaro (PL) durante a campanha presidencial de 2018 o ajudou a ser eleito. "A apunhalada que recebeu o atual presidente ajudou sua candidatura. Aquilo fez com que ele ocupasse espaço na imprensa que talvez não ocupasse na campanha normal. Ele tinha pouco tempo de televisão e de comunicação, e aquilo fez com que ele não saísse do noticiário durante vários meses", afirmou ao UOL.

O comentário ocorre depois de o cacique do MDB receber, na terça-feira (19), o grupo de 11 senadores do partido que defendem que o partido apoie a eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno. O objetivo do encontro foi atrair o apoio de Temer para convencer a senadora Simone Tebet (MDB) a desistir da corrida à Presidência da República.

"Eu detectei ao longo do tempo que os candidatos abandonaram a ideia da terceira via. Nós temos muito tempo pela frente, são quase 70 dias para as eleições, é dificil saber o que vai acontecer. Há muitos fatores. O mais prudente é aguardar a proximidade dos dias que antecedem a data da eleição", afirmou Temer hoje.

Temer disse que, por ora, descarta apoiar Lula em eventual segundo turno com Bolsonaro. "Isso, eu vou decidir na hora certa. O ex-presidente Lula fala em todo momento em 'golpe', que a reforma trabalhista foi coisa de escravocrata, que o teto de gastos prejudicou o país. Então, como eu vou dizer que eu vou apoiar alguém que quer destruir um legado positivo para o nosso país", disse o emedebista, que chegou à Presidência da República na esteira do impeachment de Dilma Rousseff (PT), em 2016.

O ex-presidente emedebista tem defendido a reforma trabalhista aprovada em seu governo, mas admite revisões eventuais. "Como toda matéria legislativa, ela carece de uma revisão, sem dúvida. Mas vir aqui dizer agora 'nós vamos revogar a reforma trabalhista' não é ir para o século 20. É para o século 19", disse. O PT tem defendido a reversão das mudanças.