Mourão diz que Brasil 'condena' a guerra na Ucrânia: 'Não está neutro'
O vice-presidente da República, general Hamilton Mourão (Republicanos), declarou que o Brasil "condena" a guerra na Ucrânia e ressaltou que o país "não está neutro" sobre o conflito apesar das afirmações em torno do tema. Nesta semana, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, criticou a neutralidade do Brasil, por decisão do presidente Jair Bolsonaro (PL).
A visão de Mourão, no entanto, diverge das várias vezes desde o início do conflito em que Bolsonaro se declarou "neutro". Esta semana, após a crítica de Zelensky, o mandatário brasileiro declarou ser do "lado da paz". Já em abril, por exemplo, o presidente disse que a posição garantiu a manutenção do fornecimento de fertilizantes russos, destacando a importância do insumo para o agronegócio brasileiro.
Na realidade, o Brasil não está neutro. O Brasil condena o conflito. Agora, nós temos interesses tanto com a Ucrânia como com a Rússia. É uma questão de pragmatismo, de flexibilidade. Mourão à ONU (Organização das Nações Unidas) News
Mourão declarou que o país condena a guerra entre Rússia e Ucrânia, mas apontou que a solução para o conflito deveria ser resolvida através da "via diplomática".
"O Brasil não concorda com o conflito. O Brasil condena o conflito, mas é uma questão que tem que ser resolvida pela via diplomática. E o Brasil está pronto para participar na vida diplomática para acabar com essa guerra", acrescentou o político, que deve disputar o Senado pelo Rio Grande do Sul no pleito deste ano.
Segundo o vice-presidente, o Brasil sempre esteve alinhado com o posicionamento da ONU sobre o conflito, inclusive desejando uma "busca de uma solução pacífica para essa disputa entre os dois países". A ONU já disse que essa guerra "não terá vencedor". "Precisamos de paz. A guerra deve cessar", declarou Amin Awad, secretário-geral adjunto e coordenador de crises da ONU para a Ucrânia.
Para Mourão, as sanções aplicadas contra a Rússia por diversos países em razão do conflito "não estão surtindo o efeito necessário".
"Óbvio, existem sanções que foram aplicadas na Rússia e que na minha visão não estão surtindo o efeito necessário. Então, eu acho que é mais importante do que nunca que a gente use os instrumentos da diplomacia no sentido de parar essa guerra, que está causando tanto dano à Ucrânia e também à Rússia com muita gente morrendo, e não é necessário morrer gente."
Zelensky critica o Brasil
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, criticou a neutralidade do Brasil, por decisão do presidente brasileiro, diante da guerra na Ucrânia. O chefe de estado agradeceu brevemente a conversa que teve com Bolsonaro, mas comparou a posição do brasileiro a de líderes diante da 2ª Guerra Mundial.
"Eu não apoio a posição dele de neutralidade. Eu não acredito que alguém possa se manter neutro quando há uma guerra no mundo", disse em entrevista à TV Globo.
Vamos pensar sobre a Segunda Guerra Mundial. Foi assim. Muitos líderes ficaram neutros num primeiro momento. Isso permitiu que os fascistas engolissem metade da Europa e se expandissem mais e mais, capturando toda a Europa. Isso aconteceu por causa da neutralidade. Ninguém pode ficar no meio do caminho.
Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia
Na primeira entrevista de Zelensky à imprensa da América Latina, ele ressaltou que a guerra "não é entre a Ucrânia e a Rússia" mas, sim, "da Rússia contra o povo ucraniano".
Zelensky garantiu que, caso uma situação semelhante acontecesse no Brasil, não ficaria neutro e apoiaria a soberania brasileira. Questionado sobre as respostas dadas por Bolsonaro a ele, o ucraniano disse que o brasileiro afirmou apoiar "a soberania e a integridade territorial da Ucrânia".
"Eu quero acreditar nisso. Ele me falou assim: 'o Brasil realmente compreende a dor do que está acontecendo com vocês, mas a nossa posição é neutra'", contou.
Essa foi a primeira vez que Bolsonaro conversa com Zelensky desde o início da guerra na Ucrânia. Na segunda-feira (18), o ucraniano cobrou do brasileiro apoio às sanções impostas contra a Rússia. O presidente do Brasil não se manifestou a respeito dos pontos que foram tratados na conversa entre os dois, e os assuntos foram definidos por ele como "segredo de Estado".
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