Jamil Chade

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Reportagem

Sanders receberá nos EUA comitiva brasileira para debater ataques de 8/1

O senador democrata Bernie Sanders receberá uma delegação de deputados, senadores e entidades de direitos humanos do Brasil, com vistas a debater os ataques de 8 de janeiro de 2023 contra as instituições brasileiras.

Sanders deve receber a comitiva no dia 1º de maio. Os brasileiros também estarão com o Departamento de Estado norte-americano e com o deputado Jamie Raskin e outros parlamentares que fazem parte da Comissão do Congresso Americano que investigou os ataques contra o Capitólio por aliados de Donald Trump.

A viagem ocorre no âmbito de uma troca de informações entre parlamentares americanos e brasileiros sobre o avanço da extrema direita e as ameaças desses grupos tanto para os EUA como para o Brasil.

O grupo é liderado pela senadora Eliziane Gama (PSD), relatora da CPI que examina o caso dos ataques golpistas em Brasília, além do senador Humberto Costa (PT) e dos deputados Pastor Henrique Vieira (PSOL), Rogério Correia (PT), Jandira Feghali (PCdoB) e Rafael Brito (MDB-AL). Também fará parte da delegação o diretor-executivo do Instituto Vladimir Herzog, Rogério Sottili. O Washington Brazil Office também apoia a missão.

Ofensiva da extrema direita em eleições pelo mundo

A viagem ocorre num momento de clara coordenação dos movimentos de extrema direita pelo mundo, ancorados na ofensiva do bilionário Elon Musk, supostamente em nome da "defesa da liberdade de expressão".

Na semana passada, em Budapeste e com a presença de alguns dos principais nomes do movimento ultraconservador no mundo, o deputado Eduardo Bolsonaro saiu em defesa das pessoas detidas por conta do envolvimento com os ataques de 8 de Janeiro, defendeu Mauro Cid, auxiliar de ordens de seu pai Jair Bolsonaro, denunciou supostas "torturas" com aliados bolsonaristas e teceu elogios a Elon Musk.

O discurso construído para dar uma impressão de que uma repressão e "censura" estaria ocorrendo no Brasil e que a democracia estaria em risco foi feito no CPAC 9 (Conferência de Ação Política Conservadora), a principal conferência ultraconservadora mundial, desta vez transformada em um palco para articular posições para eleições estratégicas que vão ocorrer em 2024.

A tática de disseminação desta narrativa repete o que Eduardo Bolsonaro e outros parlamentares fizeram nos EUA em março e numa sala praticamente vazia do Parlamento Europeu em abril. Eles ainda foram ao Tribunal Penal Internacional para apresentar uma queixa, ainda que não existam evidências de que tenham sido recebidos pelo procurador-geral.

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No público em Budapeste, ouviam Eduardo Bolsonaro os herdeiros do franquismo na Espanha, aliados de Donald Trump, membros da equipe de Javier Milei e alguns dos partidos mais xenófobos da Holanda, Itália, Eslovênia, Polônia, França, Alemanha e Áustria.

Antes de Eduardo Bolsonaro, os demais discursos fizeram ataques explícitos contra o movimento LGBTQI+, ONGs, intelectuais, judiciário, imprensa e imigrantes.

2024: ano decisivo

Sob som de rock, o tom foi dado pelo apresentador do evento ao chamar cada um dos oradores ao palco: "Sabemos que os liberais são todos comunistas".

O discurso mais aguardado era o do primeiro-ministro do país europeu, Viktor Orbán, aliado e referência do bolsonarismo. "Vamos ter eleições pelo mundo e elas terão de ser vencidas", conclamou o anfitrião húngaro.

Os discursos formais são apenas a face pública do encontro. O foco da articulação envolve principalmente as eleições em junho para o Parlamento Europeu, onde a extrema direita chega com posição de destaque em quatro dos seis países fundadores da UE (União Europeia). Outro objetivo central é a eleição americana e o retorno de Donald Trump para a Casa Branca.

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Segundo Orbán, essas votações ocorrem num momento em que o mundo vive uma mudança geopolítica importante. "Temos de sair vencedor", insistiu. A narrativa usada por vários dos palestrantes era a mesma: aqueles no poder estão "instrumentalizando" a Justiça para "reprimir" os partidos de extrema direita.

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