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PSB deixa desavenças de lado e aprova aliança com PT em convenção com Lula

Lula, Siqueira e Alckmin na convenção do PSB que aprovou a coligação com PT, em Brasília - WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO
Lula, Siqueira e Alckmin na convenção do PSB que aprovou a coligação com PT, em Brasília Imagem: WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO
Lucas Borges Teixeira e Gabriela Vinhal

Do UOL, em Brasília e São Paulo

29/07/2022 15h34Atualizada em 29/07/2022 18h16

O PSB aprovou hoje em convenção nacional a coligação com o PT e o lançamento do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) na chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com a presença dos dois, em Brasília.

A coligação foi formalizada com aprovação dos respectivos diretórios no início de abril, mas, para registro na Justiça Eleitoral, é preciso que sejam aprovadas também em convenção nacional de cada partido, realizadas entre 20 de julho e 5 de agosto. A do PT ocorreu na semana passada.

Diferentemente do PT, que optou por uma convenção protocolar, sem a presença dos candidatos, o PSB tem hoje todos os seus principais quadros e pré-candidatos presentes, como os governadores Renato Casagrande (ES), Carlos Brandão (MA) e João Azevêdo (PB), o senador Dario Berger (SC), os prefeitos João Campos (Recife) e JHC (Maceió), os deputado Marcelo Freixo (RJ), pré-candidato ao governo, e Tabata Amaral (SP) e os ex-governadores Flávio Dino (MA) e Márcio França (SP), pré-candidatos ao Senado.

Também estavam presentes figuras de outros partidos da aliança em torno de Lula, como a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, o ex-ministro Aloízio Mercadante (PT), o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

O evento não só é simbólico como formal por exigência da Justiça Eleitoral. As aprovações tanto da aliança com o PT como da indicação de Alckmin a vice foram feitas em poucos minutos, com levantamento de crachás em meio a gritos.

A presença de Lula —que, em viagem ao Nordeste, não participou nem do encontro petista no último dia 21— é tida como um gesto amigável a Alckmin e ao PSB em um momento delicado da aliança em alguns estados. O ex-presidente deverá falar, mas a estrela do dia é o ex-governador, elogiado por todos.

Depois de 33 anos no PSDB, Alckmin se filiou ao PSB no fim de março já sob o acordo para ser vice na chapa de Lula, desenrolado no segundo semestre do ano passado. Desde então, os antigos adversários vão a quase todos os eventos públicos juntos e trocam diversos afagos nos discursos.

"Apesar das divergências que trazíamos nos nossos embates, nós vimos a necessidade de estarmos juntos para enfrentar o que o Brasil está passando. Não é possível a gente retroceder numa luta, que desde 1988 começou com a nossa Constituição, e que a gente vem construindo, nossa jovem democracia. Isso fez com que estivéssemos juntos aqui hoje", discursou Gleisi.

Alckmin fez o mais contundente discurso do dia. Combinando críticas ao governo Jair Bolsonaro (PL) com mensagens de esperança condicionadas à eleição da sua chapa, o ex-governador destrinchou de forma dura os atuais problemas do país.

O governo Bolsonaro trouxe nada mais que divisão e injustiça no Brasil. As despesas públicas aumentaram, os impostos continuam altos, o real desvalorizou, o meio ambiente está exposto à devastação. E o que aconteceu em troca? Mais crescimento, desenvolvimento? Nada disso. Oportunidades desperdiçadas, chances perdidas. Agressões estúpidas e inconsequentes a países parceiros, erros nas relações diplomáticas que só causaram prejuízo ao Brasil. A pobreza agravada pela inflação, a fome voltou e o sofrimento do nosso povo só se agravou. Enquanto isso, armas na mão, motociatas pelas ruas, gastos com cartões corporativos nas alturas e sob sigilo, negócios escandalosos em ministérios, sucateamento do serviço público. Este é o mundo fake do Bolsonaro.
Alckmin, em convenção do PSB

Lula falou por último, por cerca de 30 minutos. Ele dedicou grande parte do discurso a criticar Boslonaro e fazer um comparativo com a sua gestão (2003-2010), como tem feito desde o começo da pré-campanha.

"Ele [Bolsonaro] simplesmente demonstrou em 3 anos e 9 meses que não estava sendo preparado nem para ser deputado — todo mundo sabe da mediocridade dele como deputado — muito menos estar preparado para ser presidente. Quando um homem como ele chega na presidência é resultado da destruição da política que foi feita em muitos momentos por muita gente nesse país", criticou Lula.

Lula e o presidente do PSB, Carlos Siqueira, no momento de aprovação da aliança na convenção do PSB -  FáTIMA MEIRA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO -  FáTIMA MEIRA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Lula e o presidente do PSB, Carlos Siqueira, no momento de aprovação da aliança na convenção do PSB
Imagem: FáTIMA MEIRA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Durante o discurso, Lula acenou ainda às Forças Armadas e disse que Bolsonaro as trata como "objeto", referindo-se à tentativa do presidente de ganhar apoio dos militares nas acusações infundadas de fraude no sistema eleitoral. O petista classificou a postura de Bolsonaro como "idiotice" e disse que "nunca teve" nenhum problema com as Forças, porque elas têm "suas funções estabelecidas na Constituição".

"As Forças Armadas nunca perguntam para que nem o porquê da decisão de um presidente. Eles cumprem. O que nós precisamos é estabelecer uma relação de respeito. É uma relação em que cada um cumpra com a sua função e não ter um presidente que trata as Forças Armadas como se fossem um objeto não mão dele", disse.

O ex-presidente também voltou a comentar sobre a reunião de Bolsonaro com embaixadores, convocada para fazer acusações falsas à legitimidade das urnas eletrônicas. "Eu nunca imaginei, nos meus 76 anos, nos meus 50 anos de participação política, que nós veríamos um presidente cometendo a idiotice de fazer o pior papel que um presidente pode fazer que é mentir para embaixadores e vender a ideia falsa de que a democracia no Brasil corre risco por conta das urnas. Justamente ele, que desde 1998 é eleito pela urna", afirmou.

Indefinições estaduais

O tom animado e unido da convenção deixou de lado algumas desavenças estaduais que os dois partidos têm enfrentado e não estão conseguindo resolver. Em especial na disputa pela vaga do Senado no Rio de Janeiro e pelo governo do Rio Grande do Sul.

No último mês, a aliança conseguiu resolver intercorrências:

  • no Espírito Santo, onde apoiarão a reeleição de Renato Casagrande (PSB);
  • em São Paulo, onde estarão com Fernando Haddad (PT); e
  • em Santa Catarina, com Décio Lima (PT).

No Rio de Janeiro, a aliança em torno do deputado Marcelo Freixo (PSB-RJ) já estava fechada, com direito a palanque, eventos juntos, jingle e fotos, mas chegou a ser ameaçada após a convenção estadual do PSB manter o nome do também deputado Alessandro Molon (PSB-RJ) como candidato ao Senado. O parlamentar, no entanto, não estava presente no evento hoje.

Segundo o PT, o acordo estabelecido tinha o deputado estadual André Ceciliano (PT-RJ), presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), como candidato ao Senado ao lado de Freixo e Lula.

O PSB fluminense se apoia na decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que permitiu o lançamento de dois nomes ao Senado na mesma aliança.

Com a briga, o PT cancelou a convenção estadual fluminense e chegou a ameaçar a retirada do apoio a Freixo durante a convenção nacional. Esta seria a pior opção para Lula, que tem boa relação com o deputado e já vinculou seu nome a ele.

Os líderes presentes na convenção disseram entender o recado de Molon com sua ausência, mas entendem também que o deputado vai ter que ceder pelo acordo com Lula. Eles dizem acreditar que ele poderá ser recompensado de alguma forma, se houver a vitória, embora neguem qualquer tipo de acordo para ele abrir mão da candidatura.

No Rio Grande do Sul, o PT lançou o nome do deputado estadual Edegar Pretto (PT-RS) enquanto o PSB gaúcho colocou o ex-deputado Beto Albuquerque (PSB), presente no palco da convenção.

A disputa é antiga e foi objeto de crítica do ex-presidente quando ele visitou Porto Alegre na primeira viagem de pré-campanha, no início de junho. Na ocasião, o PSB se recusou a participar do grande ato petista e Lula reclamou publicamente.

Nesta semana, a desavença ganhou um novo contorno quando a presidente petista, Gleisi Hoffmann, afirmou à Folha de S. Paulo, que o PSB havia tirado a pré-candidatura de Beto ao Palácio Piratini. Enfurecidos, o ex-deputado e o diretório estadual se posicionaram, negando a informação.

Durante a convenção, no entanto, diferente de Freixo ou do deputado Danilo Cabral (PSB-PE), pré-candidato ao governo de Pernambuco, ele não foi anunciado como candidato, apenas como secretário do partido.

Membros do PSB dizem que o recado ficou claro na fala do Siqueira, que também não mencionou sua pré-candidatura, mas o partido quer que o próprio Beto fale e justifique a desistência. Nos bastidores, especula-se que ele deverá anunciá-la na próxima segunda-feira (1º).