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Com elogios a Lula e crítica indireta a Bolsonaro, Alckmin se filia ao PSB

Rafael Neves

Do UOL, em Brasília

23/03/2022 12h02Atualizada em 23/03/2022 15h35

Depois de mais de três décadas filiado ao PSDB, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin assinou hoje (23) sua adesão ao PSB. A aliança foi selada em evento na sede da Fundação João Mangabeira, núcleo de estudos políticos do partido, em Brasília.

A migração do agora ex-tucano para o PSB consolida uma série de negociações que corriam desde o final do ano passado, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou a cobiçar seu antigo adversário como vice para concorrer à Presidência da República em outubro. Ele, porém, evitou cravar que será o vice do petista.

Em seu discurso, Alckmin fez ataques indiretos ao presidente Jair Bolsonaro (PL). Sem citá-lo diretamente, o ex-governador afirmou que "os que agridem o Supremo Tribunal Federal estão agredindo a democracia".

Alckmin também afirmou que ele e Lula tiveram sempre uma rivalidade nos limites da democracia. "Alguns podem estranhar. Eu disputei com o presidente Lula a eleição em 2006 e fomos para o segundo turno, mas nunca colocamos em risco a questão democrática, nunca. O debate era de outro nível, nunca se questionou a democracia", disse.

E elogiou o petista.

[Lula] é hoje o que melhor reflete, interpreta, o sentimento de esperança do povo brasileiro. Aliás, ele representa a própria democracia, porque ele é fruto da democracia. Não chegaria lá, do berço humilde, se não fosse o processo democrático"

Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo

Lula, que tem feito poucas aparições públicas e só deverá lançar sua candidatura oficialmente no fim de abril, não esteve na filiação. O PT foi representado pela presidente nacional da legenda, a deputada Gleisi Hoffmann (PR), que exaltou a proximidade histórica entre as duas siglas.

Vice de Lula

Alckmin evitou cravar que será candidato a vice-presidente na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva. Ele afirmou que as alianças serão definidas "no seu devido tempo". "A filiação foi hoje, agora cabe aos partidos conversarem", disse. "Converso com o presidente Lula, não tem nenhuma data definida, também não tem nenhuma pressa para isso. Importante foi a definição do PSB."

Em coletiva de imprensa após a filiação, Alckmin foi questionado se precisaria "acalmar o mercado" em uma eventual campanha ao lado de Lula. Além de negar que terá esse papel, o novo quadro do PSB exaltou conquistas econômicas do governador petista.

Mas ressaltou ainda que os partidos precisam resolver algumas questões até lá.

Imbróglio em São Paulo

Um dos entraves para uma federação PT-PSB é São Paulo. O ex-governador paulista Márcio França, que foi vice de Alckmin, pretende concorrer neste ano novamente ao Executivo no estado. O problema é que, assim como França, o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) quer sair também para o governo.

A situação, porém, ainda está longe de ser definida. Um exemplo disso veio na fala do presidente do PSB, Carlos Siqueira, ao apresentar França no evento de hoje: "O próximo governador de São Paulo".

Bolsonaro

Durante a entrevista, o ex-governador tucano fez críticas ao governo federal, especialmente em relação ao combate à pandemia, e críticas diretas ao presidente Jair Bolsonaro (PL).

"É inacreditável ter, em pleno século 21, negacionismo de vacina para criança, no local que tem as melhores políticas de saúde do mundo", criticou Alckmin. "Você, numa pandemia dessa gravidade, como é a covid, o governo que deveria liderar a política de saúde, você ter uma visão negacionista é lamentável", completou.

Alckmin também classificou como "inadmissível" a postura de Bolsonaro de questionar a legitimidade das urnas eletrônicas. Ele criticou o fato de que o próprio presidente foi eleito por várias vezes por meio do voto eletrônico ao longo da carreira.

"Eleição é acatar o resultado das urnas, é respeito ao povo. Então, questionar resultado de eleição é inadmissível, em pleno século 21", disse.

Outras filiações

O PSB também filiou hoje nomes como o senador Dário Berger (SC), o vice-governador do Maranhão, Carlos Brandão, e o advogado Augusto de Arruda Botelho, membro do grupo Prerrogativas e que ficou conhecido por sua atuação durante a Lava Jato, ao defender investigados pela operação.

Também estiveram no evento o governador do Maranhão, Flávio Dino, o deputado federal Marcelo Freixo e o prefeito de Recife, João Campos.

Médico, governador e presidenciável derrotado

Formado em medicina, Alckmin foi ainda jovem vereador e prefeito de Pindamonhangaba, no interior paulista.

Inicialmente filiado ao MDB, que fazia o papel de oposição durante o regime militar, Alckmin foi um dos políticos que deixaram a legenda em 1988 para fundar o PSDB.

No período em que esteve na sigla, Alckmin foi deputado federal e governou São Paulo por um total de 13 anos, em duas passagens.

Em 2006, quando estava no Palácio dos Bandeirantes, Alckmin concorreu pela primeira vez à Presidência e chegou ao segundo turno, mas acabou derrotado por Lula, que foi reeleito.

Após seu último mandato no governo de São Paulo, em 2018, Alckmin concorreu à Presidência pela segunda vez. Mesmo tendo costurado a aliança partidária mais ampla e garantido a maior fatia de tempo de TV e Rádio, a campanha jamais decolou e ele acabou em quarto lugar, com 4,76% dos votos.

Passada a derrota, Alckmin afastou-se temporariamente de política, passou a se dedicar à medicina e chegou a se formar em um curso de acupuntura.