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Kassab fica mais forte com vice de Tarcísio e mantém poder no Congresso

Tarcísio, a esposa Cristiane e o presidente do PSD, Gilberto Kassab - Flickr/TF10 Campanha
Tarcísio, a esposa Cristiane e o presidente do PSD, Gilberto Kassab Imagem: Flickr/TF10 Campanha

Do UOL, em São Paulo

06/11/2022 04h00

Apesar de ter declarado neutralidade na disputa pela Presidência, encerrada no último domingo (30), o PSD do ex-ministro Gilberto Kassab saiu ganhando nas eleições. O partido perdeu apostas que fez em candidaturas para governador, como em Minas Gerais, mas conservou poder no Congresso e já acena para compor a base de governo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Fundado em 2011, o PSD se definiu desde a criação como uma legenda de centro. Com nomes à direita e à esquerda, a sigla resolveu não apoiar Lula nem o presidente Jair Bolsonaro (PL), uma escolha da qual Kassab diz não se arrepender. Afastado da disputa pelo Planalto, o partido elegeu dois governadores, manteve forte sua bancada no Congresso e terá o vice-governador de São Paulo. Ele apenas não conseguiu avançar em cargos no Executivo, como Kassab projetava no final do ano passado.

Como foi o desempenho do PSD nas eleições? Em meados de julho, ainda antes do início oficial da campanha, Kassab anunciou que o PSD ficaria neutro na disputa presidencial. O partido lançou dez candidaturas próprias para governador e, ao final, levou duas: no Paraná, com a reeleição de Ratinho Júnior, e em Sergipe, com a vitória de Fábio Mitidieri.

Algumas apostas do partido acabaram perdendo já no primeiro turno, casos de Alexandre Kalil (MG), ex-prefeito de Belo Horizonte, e dos senadores Marquinhos Trad (MS) e Irajá Abreu (TO).

Por outro lado, o PSD compôs coligações vitoriosas na Bahia, no Rio Grande do Sul, na Paraíba e em São Paulo, onde terá Felício Ramuth, ex-prefeito de São José dos Campos, como vice do governador eleito, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Inicialmente, Kassab havia tentado atrair Geraldo Alckmin (PSB) para concorrer ao governo de São Paulo pelo PSD, mas o ex-tucano preferiu entrar como vice na chapa de Lula pela Presidência. Na sequência, o ex-ministro apostou na candidatura de Ramuth. Mas, só em julho, às vésperas da definição das candidaturas, o PSD desistiu da ideia e bateu o martelo para entrar como vice na chapa de Tarcísio.

Nas eleições para o Legislativo, o partido de Kassab praticamente manteve o tamanho atual. No Senado, o partido terá uma cadeira a menos, com 11 integrantes, mas se mantém como a segunda maior bancada da Casa atrás apenas do PL, de Bolsonaro. Na Câmara, a legenda terá 42 deputados, quatro a menos que atualmente, mas será a sexta maior bancada.

Para o cientista político Rodrigo Prando, professor na universidade Mackenzie, é no Senado que Kassab terá seu maior poder de barganha com o governo Lula. Não só por ter o atual presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (MG), mas também pelo tamanho da bancada.

Essas cadeiras do PSD, que são mais de 10% do Senado, são essenciais para evitar problemas para o Lula na Casa. O Senado tem alguns nomes fortes no bolsonarismo, que podem ser uma oposição mais intransigente, e esses senadores do PSD podem balancear isso um pouco
Rodrigo Prando, professor de Ciência Política na universidade Mackenzie

Tentativas no Executivo

Alianças. Antes de decidir pela neutralidade nas eleições deste ano, o PSD tentou, sem sucesso, emplacar um candidato próprio ao Planalto que encarnasse a terceira via. Primeiro cogitou Pacheco e, diante das poucas chances de alavancar a campanha, convidou Eduardo Leite (PSDB-RS) para sair candidato pelo Planalto, mas o diálogo não prosperou. Conforme os meses passavam e nenhuma candidatura de terceira via ganhava musculatura, o partido se viu diante da escolha entre Lula e Bolsonaro.

A sigla comporta nomes mais à esquerda, como os senadores Omar Aziz (AM) e Otto Alencar (BA), outros de centro, como o prefeito Eduardo Paes (RJ), e alguns à direita, caso do governador Ratinho Júnior (PR). Devido à pluralidade interna, os filiados ficaram liberados para apoiar quem quisessem na corrida presidencial.

"Um partido tem que ter pluralidade. Esse caldo dá ao PSD uma consistência que, a meu ver, o Kassab teve mérito em alcançar. O PSD busca um equilíbrio, e eu acho que é disso que o país precisa", opina Ricardo Patah, coordenador do PSD movimentos.

Futuro. Kassab deverá se reunir com Lula na próxima terça-feira (8), uma conversa que deve acelerar a aproximação entre o PSD e o PT. Segundo apurou o UOL Notícias, dois nomes da sigla deverão estar próximos do governo de transição: o senador Otto Alencar, aliado histórico do petismo, e o deputado Antonio Brito (BA), líder do partido na Câmara.

Em entrevista ao UOL, na manhã de hoje, o ex-ministro afirmou que vai "examinar" um eventual convite de Lula para compor a base do governo, algo que ele mesmo dá como garantido.

Nós temos uma realidade: o PSD teve uma parcela muito expressiva que apoiou o presidente Lula. E existe sim da minha parte, pessoalmente, [a perspectiva] de que havendo esse convite do PT, e haverá na semana que vem, nós deveremos sim examinar
Ex-ministro Gilberto Kassab (PSD), em entrevista ao UOL

Kassab também não esconde que a adesão do PSD ao governo passa pelo apoio de Lula à reeleição de Rodrigo Pacheco na presidência do Senado, em fevereiro do ano que vem.

"Com certeza passará", diz Kassab. "Eu não vejo por que o governo do presidente Lula teria interesse em criar alguma disputa no Senado. É uma Casa pacificada. E a relação do presidente, e muito possivelmente do nosso partido com o governo, será tranquila, possivelmente até como partido da base", projeta.