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Lula diz que não interferirá no Congresso e que vê 'deputados, não centrão'

Do UOL, em Brasília e em São Paulo

09/11/2022 19h02Atualizada em 09/11/2022 20h22

O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), disse hoje, em Brasília, que não interferirá no funcionamento e nas eleições para as presidências da Câmara e do Senado. Ele também falou que, como governante, não enxerga "essa coisa de centrão" nas Casas Legislativas, em referência ao bloco formado por parlamentares de diferentes partidos que controla o Congresso. O petista também indicou que abrirá diálogo com todos os parlamentares eleitos.

"Eu não enxergo dentro da Câmara e do Senado essa coisa do centrão. Eu enxergo deputados que foram eleitos e que, portanto, vamos ter que conversar com eles para garantir as coisas que serão necessárias para melhorar a vida do povo brasileiro", disse o petista em um pronunciamento à imprensa depois de visitar o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Mais cedo, ele se encontrou separadamente com os presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD).

Lira e Lula estiveram a todo tempo acompanhados do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), dos deputados petistas Reginaldo Lopes (MG), José Guimarães (CE), Odair Cunha (MG), da presidente do PT, a deputada Gleisi Hoffmann (PR), e do coordenador dos grupos técnicos da transição, Aloizio Mercadante. O encontro durou quase duas horas.

O que Lula disse na coletiva:

  • Garantiu que não interferirá no funcionamento da Câmara e do Senado e nas eleições para as presidências das duas Casas;
  • Pregou o respeito às instituições e exaltou as urnas eletrônicas;
  • Evitou comentar sobre o relatório da auditoria das Forças Armadas, mas cobrou que cabe ao presidente Jair Bolsonaro (PL) aceitar a derrota;
  • Disse que "não há tempo" para vingança ou raiva e que "o tempo é de governar";
  • E que decidirá a composição de seu ministério depois de voltar da COP27.

Cada um no seu quadrado. O presidente eleito garantiu que não vai interferir no processo de eleição das duas Casas, que ocorrerá em fevereiro de 2023, e destacou que os poderes são autônomos.

"Não cabe ao presidente interferir em quem será o presidente do Senado ou da Câmara, ou seja, quem ira decidir são senadores e deputados. O papel do presidente da República é conversar com quem dirige a instituição. Quem ganhar as eleições será o presidente. E é com ele que eu e Alckmin vamos conversar", disse Lula.

Urnas. O petista exaltou as urnas eletrônicas, evitou comentar sobre o relatório da auditoria das Forças Armadas, mas cobrou que cabe ao presidente Jair Bolsonaro (PL) aceitar a derrota.

"Eu perdi as três eleições. Cada vez que perdia, ia para casa, lamentar. Ficava triste. Eu nunca entrei em depressão porque corintiano não entra em depressão", disse Lula. "Cabe ao presidente reconhecer a sua derrota. Cabe a ele fazer uma reflexão e se preparar para alguns anos para concorrer outra vez. É assim o jogo democrático. É respeitar a decisão da maioria do povo brasileiro", disse.

Após o encontro, o TSE divulgou uma nota informando que o presidente da Corte, ministro Alexandre de Moraes, "enfatizou o trabalho incansável da Justiça Eleitoral, que, além de atuar de forma ininterrupta para a organização e a coordenação das eleições, atuou com mecanismos jurídicos, como resoluções específicas para enfrentar a desinformação, garantir a votação nas diversas localidades do país e assegurar a integridade do sistema eleitoral brasileiro".

Ministérios só depois. Questionado sobre a formação de seus ministros, Lula disse que só começará a pensar no assunto depois que voltar do Egito. Ele viajará na semana que vem para participar da COP27, conferência do clima da ONU (Organização das Nações Unidas).

Sem tempo. O presidente eleito disse que "não há tempo para vingança", para "raiva" ou para "ódio". "O tempo é de governar."

Em uma indireta a Bolsonaro, Lula disse que não vai trabalhar "três ou quatro horas por dia". Desde o dia seguinte à apuração, Bolsonaro ficou a maior parte do tempo recluso no Palácio da Alvorada, a residência da chefia do Executivo federal.

"Investimento". Questionado sobre como o governo vai viabilizar a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) para abrir espaço no orçamento para as promessas de campanha, como o aumento do salário-mínimo e o Bolsa Família ampliado, Lula afirmou que não vê o caso como despesas, mas, sim, "investimentos".

"Quero dizer que muita coisa que as pessoas falam que é gasto, eu digo que é investimento. Saúde é investimento. Porque investir em uma pessoa para ela não ficar doente é investimento. Farmácia Popular é investimento para cuidar da vida das pessoas. Investir na Educação não é gasto, é investimento", disse Lula.

Nós precisamos mudar algumas nomenclaturas porque tudo que a gente quer fazer é gasto, gasto, gasto. Para quê? Para guardar dinheiro para pagar juros de banqueiros?
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente eleito

Encontro com ministros. O presidente eleito também se reuniu hoje com os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal). Na conversa, disse aos integrantes da Corte que atua para viabilizar a chamada PEC da transição, que busca abrir espaço no orçamento para bancar promessas do governo eleito, como o Bolsa Família ampliado e o aumento do salário-mínimo.

O encontro foi realizado na presidência do tribunal e durou cerca de uma hora. Além da ministra Rosa Weber, presidente do STF, Lula se encontrou com todos os ministros da Corte, com exceção de Roberto Barroso, que embarcou ontem para o Egito para uma palestra na COP 27.

PEC de transição. A PEC da transição foi assunto durante as conversas com os representantes do Congresso Nacional.

Lira se mostrou disposto a dar andamento à proposta na Câmara. O sentimento dos petistas é que há "forte sensibilidade" pelos parlamentares para a aprovação do projeto.

Reunião com líderes. Amanhã (10), Lula fará uma reunião com líderes das bancadas no Congresso que o apoiaram nas eleições. Devem participar ainda deputados que estiverem em Brasília, inclusive aqueles de partidos do Centro, que foram liberados por dirigentes partidários durante o primeiro e o segundo turno do pleito.