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Vídeo mostra ataque à concessionária da BR-163 em ato golpista em MT

Do UOL, em São Paulo

21/11/2022 10h34Atualizada em 21/11/2022 10h49

Novas imagens obtidas pelo UOL Notícias mostram o momento em que homens armados se aproximam e atacam a base da concessionária que administra a BR-163 entre Nova Mutum e Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso. O local foi alvo de um atentado com tiros e coquetéis molotov na noite de sábado (19) em meio a novos bloqueios golpistas em rodovias federais.

No vídeo, é possível ver um dos homens jogando coquetéis molotov em dois veículos estacionados, ateando fogo neles. Em seguida, os responsáveis pelo ataque atiram. Em uma imagem interna, um deles aparece rendendo o funcionário da concessionária, que coloca as mãos na cabeça.

Cerca de dez homens encapuzados atiraram contra a base, atingindo uma viatura e a própria unidade. Eles ainda atearam fogo em uma ambulância e em um caminhão-guincho. Ninguém se feriu.

No momento do ataque, havia bloqueios na região. A PRF (Polícia Rodoviária Federal) diz ver relação entre o ataque e os bloqueios. Os atos ocorrem desde o dia 30 de outubro, quando Luiz Inácio Lula da Silva (PT) derrotou o presidente Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno das eleições. Os manifestantes contestam o resultado das urnas e pedem intervenção militar.

Em nota, a Polícia Civil de Mato Grosso afirmou que foi ao local para perícia e para apurar as circunstâncias do ataque. Segundo a corporação, o grupo ainda não foi identificado.

O que mostra o vídeo. Os homens envolvidos no atentado chegam de pé na parte traseira de um veículo. Um deles, que estava no carona, desce e dá um tiro para o alto. Em seguida, um homem aponta uma arma para um funcionário da concessionária. Outro atira bombas de coquetel molotov em dois veículos, que explodem.

Após a explosão, um homem passa caminhando em frente a um caminhão em chamas e atira na direção do veículo. Com uma arma longa, um atirador dispara na mesma direção em seguida.

Dentro da base da concessionária, dois funcionários são rendidos, colocam as mãos na cabeça e seguem em direção a uma porta. Em seguida, três homens armados invadem o local e atiram nos equipamentos de comunicação no local.

"Quebraram tudo". Durante o ataque, as cancelas de pedágio foram quebradas. Os funcionários fugiram do local. Evacuada, a praça de pedágio da cidade de Sorriso está sem cobrança.

Outro vídeo obtido pelo UOL Notícias feito por um funcionário mostra chamas do incêndio e a depredação na base. "Quebraram tudo. Gasolina aqui em tudo. Fogo..., está quase explodindo. Vai explodir. Bora vazar", diz, ao falar com um colega.

O Corpo de Bombeiros de Lucas do Rio Verde foi acionado e combateu o incêndio. A Polícia Militar também esteve no local e encontrou cartuchos das armas de fogo usadas no ataque.

"Estavam tudo armado". Em outro vídeo, um funcionário grava um relato sobre a ação, feito por um colega que não aparece nas imagens. "Eram mais de dez. Estavam tudo armado. Eu pensando que era foguete. Os caras mandando eu sair: 'sai, sai, corre, corre'. Entraram atirando."

Viatura com perfurações. É possível ouvir a respiração ainda ofegante de quem registra o relato. Em seguida, o autor do vídeo mostra uma viatura com perfurações de tiro no vidro dianteiro. "Eles vão atacar a próxima base. Eles foram no sentido Mutum. Vão atacar a base lá, pô."

"Isso já passou de ser um problema única e exclusivamente da Polícia Rodoviária Federal. Isso já está entrando em uma guerra civil e atitudes dos órgãos superiores precisam ser tomadas com urgência", disse Felipe Dias Mesquita, delegado da PRF, em áudio obtido pela reportagem.

Ele informou ainda ter acionado aeronaves para monitorar os deslocamentos dos manifestantes. Segundo ele, teria ocorrido ontem uma reunião envolvendo outras autoridades, como o Tribunal de Justiça e o MPF (Ministério Público Federal), para planejar um plano de ação.

MPF pede intervenção federal

O MPF (Ministério Público Federal) enviou ontem recomendações ao Governo de Mato Grosso. No documento, obtido pelo UOL Notícias, os procuradores pedem que Otaviano Pivetta, governador em exercício, solicite ajuda da Força Nacional de Segurança Pública "para preservar a ordem pública e a incolumidade das pessoas e do patrimônio nas rodovias federais".

O documento ainda aponta que o MPF orientou ao governo que determine que a Polícia Militar mantenha seu efetivo para auxiliar a PRF e, se necessário, realizar a "ocupação territorial prévia aos bloqueios e interdições, com o estabelecimento de um cinturão de segurança para a manutenção do tráfego seguro nos focos de tensão nas rodovias federais".

Governo de MT contra "atos de vandalismo"

Em nota, o Governo de Mato Grosso informou que as forças de segurança foram acionadas para atuar "contra atos de vandalismo" na BR-163. De acordo com o governo, a tropa de choque da Polícia Militar irá atuar com a PRF no desbloqueio das estradas e os serviços de inteligência atuaram juntos para "identificar e prender os responsáveis por atos criminosos".

A nota foi finalizada apontando que "a atitude desse grupo de vândalos, com cerca de 10 integrantes armados, é reprovável e todo efetivo será empregado para identificar e capturar os responsáveis por esse ato criminoso" e que o governo "reforça seu respeito ao livre direito de manifestação, desde que seja exercido com respeito às leis e ao sagrado direito de ir e vir de todos".

Ataque ocorreu em região de suspeitos de financiar atos

A região é a mesma que concentra os empresários do agronegócio suspeitos de financiar os atos. Das 43 contas bloqueadas por determinação do STF (Supremo Tribunal Federal), 24 são de Sorriso (MT).

Entre eles, está Atilio Elias Rovaris, empresário do agronegócio e piloto amador de rally responsável por uma doação de R$ 500 mil para a campanha Jair Bolsonaro (PL). Ele foi procurado, mas não quis se manifestar.

Somados, os suspeitos de financiar os atos golpistas foram responsáveis também pelo pagamento de R$ 1,3 milhão destinados à disputa eleitoral.