Lula fecha cerco a Juscelino, mas acordos ainda mantêm ministro
A situação do ministro Juscelino Filho, das Comunicações, continua indecisa no governo Lula (PT). Empossado na cota do União Brasil, o ministro mantém seu cargo por meio de acordos. Mas, segundo pessoas próximas ao Planalto, o presidente não descarta a demissão, como Lula chegou a afirmar hoje em entrevista.
Desde que assumiu, Juscelino tem enfrentado acusações que vão de ocultação de patrimônio a uso do orçamento secreto para beneficiar uma propriedade de sua família. Parlamentares da base falam em fritura por parte do próprio União Brasil, que estaria de olho nessa vaga, enquanto petistas, com indiferença, dizem que as denúncias não atingem o governo.
Do que Juscelino é acusado
- Direcionar R$ 5 milhões do orçamento secreto para asfaltar uma estrada de terra que passa em frente a oito fazendas da sua família, em Vitorino Freire (MA), onde a irmã é prefeita. Ele justificou que fazendas são cercadas por "inúmeros povoados" e que acusações são "levianas".
- Ocultar patrimônio de pelo menos R$ 2,2 milhões em cavalos de raça ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) na declaração de bens em 2022. Procurado, o ministro ainda não se pronunciou.
- Usar avião da FAB (Força Aérea Brasileira) para ir a São Paulo em uma viagem que justificou como urgente, mas que teve maior parte do tempo dedicada a leilões de cavalo. Entre 26 e 30 de janeiro, seus compromissos oficiais duraram duas horas e meia. Após as denúncias, ele devolveu o valor das diárias.
- Usar uma lista falsa de passageiros em viagem de helicóptero para prestar contas ao TSE, com R$ 385 mil gastos do Fundo Eleitoral com sua campanha. A defesa disse que "todos os voos foram feitos em prol da campanha eleitoral".
Os casos começaram a aparecer no meio de fevereiro, após denúncias do jornal O Estado de S. Paulo.
Segundo fontes próximas ao Planalto, Lula tem acompanhado as reportagens —e, em alguns casos, determinou que o ministro apresentasse explicações—, mas ainda não tomou nenhuma decisão sobre o futuro do cargo.
Interlocutores da Presidência dizem que todo o caso está "sendo processado" por Lula e que ele "não deve aceitar desmandos", como já declarou publicamente. Há, no entanto, mais coisas em jogo.
Juscelino foi o último entre os 37 ministros a ter o nome anunciado, em dezembro. Cota do União Brasil na Câmara dos Deputados, sua indicação tem influência do senador David Alcolumbre (União-AP), do deputado Elmar Nascimento (União-BA) e até do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL).
Sem nenhum contato direto com o presidente antes da organização ministerial, Lula não esconde que seu nome está sujeito ao União Brasil —e à colaboração da base da sigla com o governo.
Agora, no entanto, com a provável formação de bloco na Câmara entre União Brasil e PP, alguns parlamentares ouvidos pelo UOL veem as denúncias e críticas como fruto de "fogo amigo" por parte do próprio partido do ministro, que teria mais integrantes de olho na vaga.
Ainda é cedo. Outro ponto ressaltado por aliados é que, com apenas dois meses de governo, Lula quer evitar a qualquer custo a demissão de um ministro.
O governo tem preparado --e já determinou que todos os ministérios façam o mesmo-- um grande especial para o início de abril, quando serão completados 100 dias de gestão. Já ter a foto original de ministros alterada em tão pouco tempo é uma coisa que o presidente preferiria evitar.
Do lado do PT, o caso é visto com mais indiferença, embora não haja consenso. Considerada estratégica, a pasta das Comunicações era vislumbrada pelo partido durante a transição e houve muito ruído interno quando, por meio de acordos, acabou nas mãos de uma sigla historicamente opositora.
Membros do partido e do governo dizem que o ministro tem de responder às acusações e que o presidente "saberá agir quando necessário". Já um outro grupo é adepto que Lula demita Juscelino para "evitar feridas" maiores.
Aos ministros, o presidente determinou que não falassem publicamente. Até o chefe da Casa Civil, Rui Costa, tem se recusado a comentar o assunto.
Uma alternativa que tem sido veiculada é um pedido de demissão do ministro "para se explicar". Dessa forma, Juscelino não apareceria publicamente como demitido e o governo poderia seguir o debate com a pasta.
Ao UOL, por meio de sua assessoria, Juscelino negou qualquer possibilidade de sair do cargo.
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