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Alesp: missão de presidente é 'liderar o bolsonarismo sem ser bolsonarista'

O deputado estadual André do Prado (PL) - Alesp
O deputado estadual André do Prado (PL) Imagem: Alesp

Do UOL, em São Paulo*

16/03/2023 11h56Atualizada em 16/03/2023 11h56

A Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) elegeu ontem sua nova mesa diretora, com o deputado André do Prado (PL), de 53 anos, como presidente. O estado de São Paulo já vinha de uma mudança partidária com Tarcísio de Freitas (Republicanos) assumindo o governo após sucessivos mandatos do PSDB, e a vitória de Do Prado mantém a tendência.

Apesar de ser do mesmo partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, André do Prado é tido pelos colegas como um político nada radical. O deputado já havia sido escolhido extraoficialmente como o próximo presidente da Assembleia paulista, com uma missão: "representar o bolsonarismo sem ser bolsonarista", segundo aliados.

Isso quer dizer apoiar propostas do governador - que é de outro partido -, sem submeter a Alesp a todas as decisões de Tarcísio. Há ainda a promessa de ampliar o protagonismo dos parlamentares, descontentes com a baixa aprovação de seus projetos pelas seguidas gestões tucanas.

Outro desafio será resistir à pressão dos demais 18 deputados do PL e da bancada evangélica no que diz respeito a temas classificados como de costumes. O presidente anterior da Alesp, Carlos Pignatari (PSDB), e os demais tucanos que ocuparam o posto seguraram propostas do tipo.

Proposições

A lista de propostas em tramitação hoje é extensa: inclui projetos que tentam driblar o revogaço antiarmas promovido pelo governo federal, que combatem qualquer tipo de tratamento ofertado a crianças e adolescentes transgêneros, que impõem novas regras ao aborto legal ou que ainda vetam linguagem neutra e banheiro unissex em repartições públicas e comércios do Estado.

Segundo o Estadão apurou, o acordo para a eleição de Prado inclui a criação de uma espécie de "cota de propostas" de autoria de deputados a ser levada a plenário - a exemplo do que ocorre na Câmara Municipal da capital paulista. O pleito prevê a aprovação de pelo menos dois projetos por semestre, independentemente do tema e da sanção posterior de Tarcísio.

"André tem um perfil político, sabe conversar. A nossa expectativa é boa, a Alesp não pode mais servir para chancelar os atos do governo. André, como eu, era base dos governos do PSDB, mas a gente alfinetava o que tinha de alfinetar. Acho que vai dar certo", afirmou o deputado Delegado Antonio Olim (PP), ao jornal O Estado de S. Paulo, antes da eleição.

Decoro

Presidente da Comissão de Ética e Decoro Parlamentar da Alesp, responsável ano passado por punir Fernando Cury (União Brasil) por importunação sexual a uma parlamentar no plenário e cassar o mandato de Arthur do Val (União Brasil) por quebra de decoro, a deputada Maria Lucia Amary (PSDB) afirmou que espera ver em André do Prado um presidente com perfil moderado, capaz de impedir o surgimento de novas denúncias entre os pares.

A polarização acentuada, com recorrentes acusações de quebra de decoro, marcou a última legislatura na Alesp. Já no ano de 2019, o primeiro da legislatura passada, o conselho recebeu 19 denúncias e aplicou duas advertências verbais. O clima levou a Casa a punir seus representantes após 20 anos. De 1999 a 2019, a Alesp havia arquivado todas as denúncias feitas ao colegiado contra deputados da Casa.

Prestes a iniciar o sexto mandato, Maria Lucia disse que o PSDB, partido hegemônico no comando da Alesp no período, caminhou com os deputados nas últimas décadas. Mas a saída do partido da presidência da Casa é, segundo ela, positiva. "A alternância de poder é sempre boa. Como André é do PL, mas não é bolsonarista raiz, pode ser que ele consiga esfriar os ânimos. Torço para que tenhamos quatro anos pela frente mais calmos", disse ela antes da eleição.

Histórico

Prado conquistou o apoio do PT e de outros partidos da oposição quando se comprometeu a seguir a proporcionalidade. Pela regra, cargos da Mesa Diretora são distribuídos em função do tamanho das bancadas de cada legenda. Com o segundo maior número de deputados (18), o partido do presidente Lula se beneficia do princípio.

O novo presidente da Alesp é visto como um deputado republicano e moderado, adepto do diálogo e que se relaciona bem com os colegas.

Do Prado nasceu em Guararema (SP) está na política desde 1992, quando disputou vaga de vereador e conseguiu se eleger. Em 2000, foi eleito vice-presidente na cidade e quatro anos depois conquistou o cargo de prefeito, já pelo PL. Desde 2010 ele atua como deputado estadual - tendo sido reeleito em todas as reeleições subsequentes.

*Com informações de Adriana Ferraz, para o Estadão Conteúdo