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Bolsonaro terá 'muitos processos, mas tem direito de se defender', diz Lula

Do UOL, em Brasília

06/04/2023 13h01Atualizada em 06/04/2023 17h50

O presidente Lula (PT) afirmou hoje que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deverá enfrentar "muitos processos" na Justiça, mas tem "o direito de se defender".

O que Lula disse

Lula citou casos que podem complicar o ex-presidente e, em referência à sua prisão, defendeu um julgamento correto. "Como fui vítima da Justiça desse país, defendo que todos tenham direito à presunção de inocência. Ele [Bolsonaro] tem o direito de se defender, de que seja julgado corretamente, investigado corretamente —e vamos ver o que vai acontecer."

O ex-presidente prestou depoimento ontem à Polícia Federal, em Brasília, no caso das joias. Ele poupou a ex-primeira-dama Michelle e disse que só ficou sabendo sobre os presentes um ano depois.

Ele disse ainda que considera "normal" que Bolsonaro se candidate de novo à Presidência. "Eu tenho consciência que o Bolsonaro tem pretensão a voltar a ser candidato a presidente da República. Trabalho com a hipótese de que o Bolsonaro vem, ele vai voltar a fazer oposição", completou.

Ele [Bolsonaro] tem que responder aos inquéritos que ele vai ter que responder --e vai ter muito processo. Porque ele cometeu muitos erros --e o mais grave deles, na minha opinião, foi das 700 mil vítimas da covid-19, pelo menos metade é responsabilidade dele. Acho que ele pode correr o risco de ter processo no exterior, porque o que ele fez com a covid não foi brincadeira."
Lula, em café da manhã com jornalistas

Lula também cutucou o adversário. Ele disse que o retorno do ex-presidente após 90 dias nos Estados Unidos é "normal" e ironizou seu jeito de fazer política.

Tenho consciência de que ele voltou a acreditar tanto em política que filiou ao PL... Ele [Bolsonaro] já não discorda tanto da política como discordava, para enganar a sociedade brasileira --porque, depois de 28 anos de mandato, dizer que não era político era para enganar os incautos."
Lula

Como o UOL já havia adiantado, Lula ainda disse que foi aconselhado a não ficar falando do ex-presidente ou do senador Sergio Moro (União Brasil-PR). Apoiadores argumentam que, ao falar do ex-juiz da Lava Jato, ele só o colocou sob os holofotes —o melhor é evitar fazer o mesmo com Bolsonaro, a quem chamou de "Coiso".

[O ministro da Secom Paulo] Pimenta tem me orientado todo dia a não falar nesses nomes que você falou [Moro e Bolsonaro]. Por isso que nem citei os nomes. Eu não tenho que falar nem da Coisa nem do Coiso."
Lula, a jornalistas

Como foi o depoimento de Bolsonaro

Bolsonaro prestou depoimento sobre o caso das joias sauditas pela primeira vez. O prédio da sede da PF em Brasília foi cercado com grades de isolamento e teve reforço de policiais militares do Distrito Federal.

A oitiva durou cerca de três horas. Bolsonaro chegou em um carro descaracterizado, sem identificação, e entrou pela parte de trás do prédio. As entradas foram isoladas. Não houve protestos nem manifestações de apoio.

PF - Leonardo Martins/UOL - Leonardo Martins/UOL
Imagem: Leonardo Martins/UOL

Delegados questionaram a origem dos objetos: quem teria entregado as joias e o destino final —se era para acervo pessoal do ex-presidente ou para o acervo da Presidência.

Bolsonaro afirmou que soube da existência das joias sauditas em dezembro de 2022 - um ano após a apreensão pela Receita Federal.

Outros personagens da história também foram ouvidos: o militar Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência da República, Marcelo Câmara, assessor que trabalha na segurança de Bolsonaro, e o ex-chefe da Receita Federal Julio Cesar Vieira Gomes.