Janja ignora ministros, cria crises para Lula e preocupa aliados
Ações da primeira-dama Janja da Silva têm incomodado aliados do presidente Lula (PT). A avaliação é que algumas atitudes criam crises evitáveis. Além disso, a primeira-dama não costuma dar ouvidos a conselhos de ministros.
O que aconteceu
Ontem (12), Janja usou seu perfil para rebater postagens sobre o fim da isenção para compras no e-commerce abaixo de US$ 50, revelada pelo UOL. A iniciativa, sem ser atrelada à estratégia de comunicação do Planalto ou da Fazenda, repercutiu durante todo o dia nas redes sociais.
Para aliados e membros do próprio governo, ações como essa marcaram os primeiros 100 dias da gestão Lula.
Em algumas das atitudes públicas, a primeira-dama acaba "passando por cima" de ministros como Fernando Haddad (Fazenda) e Paulo Pimenta (Comunicação).
A entrevista que Janja concedeu dentro do Palácio do Alvorada e a participação em programa na EBC (Empresa Brasil de Comunicação) também não passaram pelos setores de comunicação e geraram ruído para o governo.
Auxiliares de Lula que criticam reservadamente a primeira-dama dizem que, por mais que as propostas sejam bem-intencionadas, há uma quebra de protocolo que, querendo ou não, atrapalha o desenvolvimento da estratégia de comunicação do presidente.
Interlocutores de Lula evitam críticas públicas e até mesmo de falar sobre a primeira-dama para o presidente como forma de evitar alguma saia-justa.
Ao UOL, a Secom (Secretaria de Comunicação Social) negou desavenças com a primeira-dama. Em resposta, o órgão afirmou que, da parte do ministro Paulo Pimenta, "não existe nenhum incômodo" e ele "desconhece tal desconforto".
Pessoas próximas à primeira-dama argumentam que sua rede social é própria e que grande parte das críticas é infundada.
Protagonismo na comunicação
As respostas de Janja a contas do Twitter, incluindo um popular perfil de fofoca, surpreenderam integrantes da comunicação do Planalto. A interação aconteceu diretamente do avião presidencial a caminho da China, quando Janja rebateu uma notícia publicada pela imprensa e usou o próprio governo como fonte da informação.
Com a postagem, Janja foi para o trending topics da rede social, obrigando o Ministério da Fazenda a soltar uma nota no fim da tarde, dizendo que "não era bem assim".
O próprio Twitter acabou marcando a resposta como "falsa".
O que mais Janja fez
É neste limiar entre figura estatal (primeira-dama) e privada (Janja) que aliados, em especial ligados à comunicação, apontam desconforto.
Fontes ouvidas pela reportagem admitem que Janja não é obrigada a seguir uma estratégia de comunicação do governo, pois dele não faz parte, mas afirmam que ela também não deveria responder por ele.
Outro exemplo citado foi o programa que ela mediou na TV Brasil no Dia Internacional da Mulher, junto à ministra Cida Gonçalves.
O UOL teve acesso ao documento que mostra que a Secom pediu o estúdio à EBC, como está previsto em contrato. Fontes revelam, no entanto, que, nem a Secom nem a comunicação da Presidência estavam cientes do jeito que seria o programa.
A assessoria da primeira-dama argumenta que ela só participou do programa, mas o episódio acabou alvo da Justiça.
Crises que podem ser evitadas
O argumento dado por membros do governo é que as polêmicas são evitáveis. Confusões, dizem, que acabam chegando ao governo inesperadamente.
Segundo interlocutores próximos ao presidente, já houve diversas sugestões para que a primeira-dama alinhasse a estratégia de comunicação junto ao Planalto, mas as ideias teriam sido ignoradas.
Isso tem gerado descontentamento não só entre os ministérios, como dentro do PT e no Congresso.
Um aliado do presidente citou como exemplo de desgaste o episódio do Carnaval. Lula interrompeu a folga na Bahia para ir até o litoral paulista acompanhar as tragédias causadas pelas chuvas, enquanto a primeira-dama foi a Salvador.
Segundo o UOL apurou, a participação da primeira-dama na festa baiana foi considerada internamente como evitável, dado que Lula estava sendo elogiado por agir diferente do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e presenciar a tragédia.
Secom nega desalinhamento
Todas as manifestações do presidente e da Janja contam com o apoio e o respaldo da Secom."
A assessoria da primeira-dama foi procurada para comentar as críticas, mas não quis responder.
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