Zanin enfrenta 'corredor polonês' por vaga ao STF, mas continua favorito
O criminalista Cristiano Zanin Martins continua favorito na corrida pela vaga aberta no Supremo Tribunal Federal, mas lida com críticas e resistências veladas que criam um "corredor polonês" para a sua nomeação à Corte.
Os obstáculos de Zanin:
Adversários dizem que o advogado não deixa claras suas posições em temas de interesse de aliados do governo ou em assuntos progressistas, como demarcação de terras indígenas e direitos das mulheres;
Por isso, o nome de Zanin é visto como uma "esfinge" e da cota "personalíssima" de Lula;
Também é apontada uma "falta de apoio" dentro de núcleos da advocacia, algo minimizado por apoiadores do criminalista.
O que ele tem feito
Desde o início da campanha, Zanin submergiu e passou a fazer uma atuação discreta nos bastidores. O criminalista foi o mais visado por adversários, mas tem evitado fazer declarações públicas para rebater os ataques.
A estratégia do advogado tem sido falar sobre o tema só com quem o procura - são nessas oportunidades que Zanin tenta reverter as resistências ao apresentar seu currículo e credenciais, os casos que defendeu, e esclarecer sobre suas posições.
O objetivo é tirar a pecha de ser apenas o "advogado de Lula" e listar outros processos que defendeu, como o da leniência da J&F, o caso das Americanas e outras ações empresariais.
Aliados minimizam críticas e falam em "independência"
Aliados de Zanin afirmam que os ataques sobre uma suposta "falta de apoio" seriam, na verdade, uma declaração de que o advogado seria "independente";
Para este grupo, o criminalista não seria ligado a movimentos ou grupos e teria assim mais liberdade para se manifestar;
Mesmo assim, Zanin demonstrou a pessoas próximas desconforto com os ataques, principalmente os que miram sua família;
O criminalista, inclusive, chegou a dizer a aliados que foi uma "baixaria" a tentativa de adversários em ressuscitar o racha entre ele e seu sogro, o advogado Roberto Teixeira, compadre de Lula;
Zanin e Teixeira eram sócios, mas passaram por um litigioso rompimento no final do ano passado. Hoje, o criminalista e sua esposa, Valeska, dividem um escritório de advocacia sem o sogro;
O desconforto tem ecoado no Planalto; como mostrou o UOL, Lula também se mostrou irritado com o tom da disputa nos últimos dias;
O petista verbalizou que alguns dos ataques seriam covardes e que ele não compactua com tentativas de viabilizar ou derrubar candidaturas por meio de intrigas.
'Sabatina informal' em jantar
No final de março, Zanin foi em um jantar com deputados federais do PT em Brasília.
O encontro, realizado na residência do deputado federal Alencar Santana (PT-SP), foi visto por adversários como uma "sabatina informal" - algo negado por aliados e pelos presentes.
Adversários afirmaram que o jantar não contribuiu para Zanin apresentar sua visão sobre temas caros aos parlamentares, com o advogado se esquivando das perguntas.
Procurado, Santana rebateu as críticas e diz que o jantar não teve o intuito de ser uma sabatina, e defendeu o nome do criminalista.
Não vejo esse caráter não. Seria muita pretensão nossa de querer sabatinar, passou longe disso"
Alencar Santana, deputado federal
O que pesa a favor de Zanin:
Apesar das resistências, até adversários reconhecem que o criminalista tem a confiança total de Lula; justamente o maior peso da disputa;
Por isso, todos evitam críticas públicas a Zanin, pois temem, de tabela, antagonizar com o presidente;
Dizem ainda que, se for realmente indicado, as críticas tendem a ser amenizadas. O motivo? Uma derrota da indicação de Lula ao Supremo não interessa a ninguém;
Há ainda as declarações públicas de não apenas um, mas dois ministros do Supremo em favor de Zanin: Cármen Lúcia e Gilmar Mendes;
Nas indicações ao STF, mais do que o apoio, a ausência de veto é critério essencial;
Ontem, o ministro Luis Roberto Barroso afirmou ao UOL Entrevista que não vê conflito ético caso Zanin seja indicado ao tribunal.
Não vejo nenhum conflito ético, nem moral, nem violação da impessoalidade. É um advogado que desempenhou o trabalho quando tudo parecia perdido, quando tudo estava ladeira acima. Ele tem virtudes profissionais. Eu acho que não haveria nenhuma implicação ética"
Roberto Barroso, ministro do STF
Lula pensava em Zanin desde eleições
Em novembro do ano passado, Lula foi sondado por um dos candidatos à vaga no STF por meio de um interlocutor em comum, segundo um advogado relatou ao UOL em caráter reservado.
O objetivo era apresentar o nome do candidato ao então presidente eleito.
A resposta, porém, não foi animadora. "Ele só falava do Zanin", ouviu o candidato, em resposta.
A lealdade de Zanin a Lula é um dos pontos reconhecidos até mesmo por críticos - mesmo durante a "baixa" do petista na Lava Jato, que culminou em sua prisão por 580 dias em Curitiba, o criminalista manteve-se firme na defesa.
Em entrevistas, Lula evita bater o martelo sobre a indicação, mas deixou claro a gratidão pelo advogado.
Foi Zanin o autor do recurso que anulou as condenações do petista na Lava Jato, restaurando sua elegibilidade.
O Zanin foi uma grande revelação jurídica nesses últimos anos, uma revelação extraordinária, fez coisas que outros advogados não fariam"
Lula, em declaração em março deste ano
Adiar indicação? Ninguém gosta
A articulação política em Brasília sugeriu que Lula adie para o segundo semestre a escolha do nome à Corte.
Em outubro, a ministra Rosa Weber se aposentará, abrindo mais uma vaga no Supremo.
O objetivo seria garantir ao petista que faça um "pacotão" de indicações - incluindo as vagas em aberto no Superior Tribunal de Justiça e o novo procurador-geral da República. Com isso, o nome de Zanin ficaria diluído em meio as indicações, segundo a colunista do UOL Thaís Oyama.
Tanto para aliados quanto para críticos de Zanin, a ideia é considerada ruim para o governo e também para o STF;
É lembrado que Lula não saberá como estará o governo daqui a seis meses, sem falar que o atraso deixaria o Supremo desfalcado;
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