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Militares negam ajuda a golpistas e relatam à PF falta de reunião sobre 8/1

Do UOL, em Brasília

26/04/2023 16h34Atualizada em 26/04/2023 16h34

Nove militares do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) negaram em depoimento à Polícia Federal, no domingo, ter dado auxílio aos golpistas que invadiram o Palácio do Planalto em 8 de janeiro. Segundo os militares, os manifestantes foram guiados por eles para o segundo andar do prédio — local onde seriam presos pela Polícia Militar.

O que afirmam os militares

Eles dizem que estavam em baixo número em comparação aos golpistas e, por isso, não conduziram as prisões individualmente.
O major José Eduardo Natale, flagrado pelas imagens oferecendo água aos manifestantes disse que se tratou de uma tentativa de "acalmar" os golpistas, evitando que danificassem a copa do Planalto. Ele também disse que viu risco de ser linchado e morto caso desse ordem de prisão aos golpistas, uma vez que estava sozinho e desarmado ao lidar com os manifestantes.
Os militares afirmaram ainda que, em razão do número de golpistas, houve falhas no chamado "Plano Escudo", ação conjunta da Polícia Militar e do GSI, para garantir a segurança do Planalto;
O tenente-coronel Alex Barbosa Santos disse que causou "estranheza" o fato das forças de segurança do DF não terem realizado uma reunião prévia para discutir os atos de 8 de janeiro. Os militares foram ouvidos após imagens de câmeras de segurança apontarem o grupo circulando em meio aos golpistas -- um lista com os nomes deles foi enviada STF pelo ministro interino do GSI, Ricardo Cappelli.

Não se trata de ajuda para a invasão, e sim de retomada do edifício em momento posterior à invasão"
Carlos Feitosa Rodrigues, general de divisão, em depoimento à PF

O que dizem sobre vídeos em que aparecem

O general de divisão Carlos Feitosa Rodrigues disse que as imagens não mostram ajuda aos golpistas, mas sim o momento de retomada do prédio.
O coronel Wanderli Batista da Silva Júnior afirmou que os golpistas foram presos "em momento oportuno" após a liberação do prédio em razão do "elevado número de manifestantes" e o reduzido efetivo do GSI e do Exército. "Era praticamente impossível realizar as prisões até a chegada de mais efetivo", afirmou.
O coronel da reserva André Luiz Garcia Furtado disse que o trabalho do GSI foi, inicialmente, retomar o Planalto e retirar os manifestantes, iniciando uma varredura do quarto andar -- onde fica localizada a Casa Civil, por exemplo -- para baixo.
Tanto Furtado como o tenente-coronel Alex Barbosa Santos afirmam que os golpistas, no momento de retomada do prédio, apresentaram "comportamento bastante colaborativo", motivo pelo qual não foi usada força.
As prisões passaram a ser feitas após determinação do então ministro do GSI, general Gonçalves Dias.

Militares explicam escada e água para manifestantes

O tenente-coronel do Corpo de Bombeiros do DF, Marcus Vinicius Braz de Camargo, negou ter ajudado golpistas ao ser confrontado com a imagem em que aparece apontando uma saída pelas escadas. Ele disse que encaminhou os golpistas para o segundo andar, onde eram conduzidas as prisões.

O declarante reitera que não trabalha na segurança, e frisa que não tinha recurso humano, material ou logístico ao seu dispor para realizar a prisão de manifestantes, pois não estava comandando fração de tropa, e havia uma desproporção numérica"
Marcus Vinicius Braz de Camargo, Ttnente-coronel do Corpo de Bombeiros do DF

O major do exército José Eduardo Natale, que foi flagrado dando água aos golpistas, disse tentava "acalmar" os manifestantes.

O declarante entregou algumas garrafas de água com o intuito de acalmá-los e que não danificasse a copa, e ainda solicitou que saíssem do local; [...] o declarante encontrava-se sozinho até o momento, sem nenhum agente público por aproximadamente 1 hora"
Depoimento do major do exército José Eduardo Natale

Questionado por que não deu voz de prisão aos golpistas, Natale respondeu que estava "sozinho, desarmado e que corria risco de linchamento e de morte". O militar diz, porém, que tomou todas as providências necessárias para "conter danos e preservar vidas".

Militares dizem que estranharam falta de reunião sobre 8/1

Os militares também relataram estranhar o fato de não terem tido informações claras de que a manifestação reuniria grande número de pessoas e de que havia possibilidade de invasão. Eles relataram não terem recebido informações do governo do Distrito Federal.
As primeiras informações que receberam, segundo eles, eram de que a manifestação seria pacífica, com cerca de 2.000 participantes.
No entanto, segundo relato à PF do coronel Alexandre Santos Amorim, coordenador de Avaliação de Riscos do Departamento de Segurança Presidencial, havia "pouca informação disponibilizada".
Mesmo assim, comunicou seus subordinados de que o nível de periculosidade da operação sairia do "amarelo" para o "laranja". "Considerando a presença do acampamento e de possíveis indivíduos radicais", disse.
Alex Marcos Barbosa Santos, integrante do Departamento de Segurança Presidencial, disse que "causou estranheza" nos militares "uma quebra de rotina quanto aos procedimentos prévios às manifestações por parte dos órgãos de segurança no DF, uma vez que era rotineira era a realização de uma reunião prévia para tratar das ações dos órgãos envolvidos".

Militares admitem falhas no Plano Escudo do Planalto

Eles relataram ainda que houve falhas no chamado "Plano Escudo", ação conjunta da PM e do GSI para garantir a segurança do Planalto.
Natale disse as duas linhas de proteção sob responsabilidade da PM já haviam sido rompidas quando chegou o pelotão do Exército e que, devido ao número de manifestantes, a terceira linha também foi "rapidamente rompida".
O coronel da reserva André Luiz Garcia Furtado afirmou que não foi possível conter a invasão. Ele, no entanto, aponta que a PM também procedeu de "forma diferente" do que previa o Plano Escudo.