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Torres depõe por 2 h e diz que jamais interferiu em planejamentos da PRF

Do UOL, em Brasília

08/05/2023 13h57Atualizada em 08/05/2023 20h23

O ex-ministro da Justiça Anderson Torres prestou duas horas de depoimento hoje (8) na sede da Polícia Federal em Brasília para explicar a sua atuação nas operações da Polícia Rodoviária Federal no segundo turno das eleições. Durante a oitiva, Torres negou interferências na corporação durante o pleito e disse que viajou à Bahia para vistoriar obras.

O que aconteceu

Torres negou ainda ter havido determinação do ministério para atuação conjunta da PRF e da Polícia Federal nas operações rodoviárias com eleitores, segundo o UOL apurou. O ex-ministro disse que jamais interferiu em planejamentos operacionais das corporações, como blitze e abordagens.
O ex-ministro afirmou que recebeu da então diretora de inteligência da pasta, Marília Alencar, o mapeamento feito no Ministério da Justiça -- com a relação de cidades nas quais Lula (PT) venceu Jair Bolsonaro (PL) no primeiro turno. Ele negou, porém, que compartilhou o documento com a PRF ou com a PF na Bahia.
O aliado do ex-presidente disse à PF ainda que sua única preocupação era o combate a crimes eleitorais. O ex-ministro, que está preso, chegou escoltado à sede da PF por volta das 13h30 e deixou o local às 16h40. Ele saiu pela garagem e seguiu de volta ao Batalhão de Aviação Operacional da PM, onde segue preso desde janeiro.

Torres afirmou também que foi à Bahia para acompanhar obras na superintendência local da PF e que a viagem não teve relação com as eleições. No estado, Lula obteve ampla vantagem na votação no Estado.

O ex-ministro abriu mão do direito de ficar em silêncio e, segundo sua defesa, respondeu a todos os questionamentos dos investigadores. "O ex-ministro mantém postura de cooperar com as investigações, uma vez que é o principal interessado no rápido esclarecimento dos fatos e acredita que a verdade prevalecerá", diz a nota da defesa, liderada pelo advogado Eumar Novacki.

Estratégia é negar interferências

Conforme o UOL antecipou, a estratégia adotada por Torres é a de negar que as blitze no segundo turno tenham tido a intenção de dificultar o acesso de eleitores a seus locais de votação.

Torres planejava usar o depoimento para dizer que o aumento do efetivo se deveu a denúncias de suspeita de compra de votos e, por isso, foi necessário reforçar a atuação durante o segundo turno.

Para corroborar sua versão, o ex-ministro tem dito a pessoas próximas que, no segundo turno, o próprio presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes, afirmou que as operações não impediram eleitores de participar do pleito.

Levado sob escolta

Preso desde 14 de janeiro por suspeita de omissão em relação aos atos golpistas do dia 8 daquele mês, Anderson Torres deixou o Batalhão de Aviação Operacional, onde está detido, e foi escoltado até a sede da PF. Ele chegou por volta das 13h30 e saiu às 16h40.

O depoimento inicialmente estava marcado para abril, mas foi adiado por razões médicas. O ex-ministro foi ouvido no inquérito que apura a atuação da PRF nas eleições. O órgão estava subordinado a Torres e teria agido para dificultar o acesso de eleitores às seções de votação, especialmente no Nordeste.

Um relatório do Ministério da Justiça entregue à Controladoria-Geral da União apontou que a PRF fiscalizou 2.185 ônibus no Nordeste contra 571 no Sudeste; os dados envolvem a véspera e o dia do segundo turno das eleições.

O ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou na ocasião de que havia "comprovação de que houve desvio de padrão" da PRF.