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'A direita ganha as ruas quando extrema esquerda é reprimida', diz ex-MPL

Colaboração para o UOL, em São Paulo

12/06/2023 18h55

Lucas Monteiro, ex-integrante do MPL (Movimento Passe Livre), grupo que inicialmente liderou as manifestações de junho de 2013, afirmou que os grupos de direita passaram a ganhar maior adesão das ruas na medida em que os de extrema esquerda foram reprimidos pelo Estado.

"A direita consegue ganhar as ruas na medida em que a extrema esquerda vai sendo reprimida, porque a partir de então qualquer mobilização que o MPL chamava, a gente começa qualquer mobilização completamente cercado pela polícia", declarou em entrevista ao colunista do UOL Leonardo Sakamoto.

Monteiro destacou que a partir do momento em que o MPL passou a organizar as mobilizações das ruas, o Estado encontrou meios para reprimi-los, como, por exemplo, por meio de processos, e que alguns manifestantes chegaram a ter suas vidas "devassadas".

"A gente passou o ano de 2014 inteiro respondendo um inquérito sem objeto. As pessoas eram chamadas sem objeto para depor no DEIC (Departamento de Investigações sobre Crime Organizado). A perspectiva do Estado foi de 'a gente vai controlar essa manifestação pela repressão, a gente vai enquadrar eles, a gente vai militar essa mobilização'", continuou.

O ex-MPL ressaltou que as manifestações de junho de 2013 "evidenciaram" que os movimentos de rua "não eram mais uma hegemonia petista", e "isso dava espaço para outros grupos", o que foi percebido por grupos de direita e de extrema direita que passaram a se mobilizar na rua. "Mas eles conseguem ganhar esse protagonismo depois que a extrema-esquerda é derrotada", afirmou.

'A esquerda petista reagiu a essas mobilizações negando o caráter delas'

Lucas Monteiro também refutou que o MPL tenha pavimentado o caminho para que Jair Bolsonaro (PL) conseguisse chegar à presidência da República em 2018. Ele afirmou que falar isso é "leviano", sobretudo porque enquanto outros países incorporam manifestações de esquerda, o PT reage "negando" suas existências.

"A esquerda petista reagiu a essas mobilizações [negando sua existência], porque o PT reage negando o caráter delas, é isso que o PT faz quando está no governo. Em democracias capitalistas normais espera-se que quando tem mobilizações de esquerda que se encontre meios de incorporar isso dentro do capitalismo, o PT se recusa a fazer isso por uma série de motivos", opinou.

Por fim, ele ponderou que outros grupos, como o MBL (Movimento Brasil Livre), se apropriaram dessas manifestações, mas subverteram a lógica do MPL, que tem pautas ligadas com ideias de esquerda.

"Eles usam o nome do MPL e invertem a lógica desse movimento, falando em Movimento Brasil Livre, eles tentam roubar a sigla, a gente faz manifestações e fala 'vem pra rua, vem' e eles registram com marca registrada e fazem uma ONG tentando se apropriar disso, mas eles se apropriam invertendo o sentido, e se a gente era apartidário, eles são financiados por partidos, eles se colocam como candidato de partidos. Você pega gente do MPL ninguém se tornou político, a gente segue as nossas mesmas vidas, com nossos mesmos trabalhos", completou.