Brasil fez acordo para construir fábrica de bombas em ditadura, diz jornal
O governo brasileiro fechou um acordo sigiloso para que a ditadura da Arábia Saudita construísse sua primeira fábrica própria de explosivos militares. A informação foi divulgada no sábado (17) pelo jornal O Estado de S. Paulo.
O que foi revelado
Acordo previa exportação de produtos e tecnologias para a Arábia Saudita. Segundo o Estadão, as plantas da fábrica foram criadas por uma empresa brasileira, a Mac Jee. O objetivo dos sauditas era, até 2030, "suprir toda a demanda militar" do país por explosivos e espoletas de detonação de bombas.
Fábrica é projetada com cerca de 500 mil m², o equivalente a 70 campos de futebol. Por lá, são produzidos TNT e RDX, usados em determinados tipos de bomba. A estrutura fica dentro da SCCL (Saudi Chemical Company Limited), a maior companhia de produção de energia civil e militar do país.
Todo o processo de autorização e contratação é sigiloso, incluindo o valor. Procurados pelo jornal, os três ministérios ligados ao assunto — Defesa, Ciência e Itamaraty — informaram que não poderiam comentar sobre as motivações ou condições do acordo da Mac Jee, que também não quis dar entrevista.
Autorização foi concedida no governo Temer, e construção evoluiu sob Bolsonaro. A venda de equipamentos e serviços à ditadura saudita foi liberada no segundo semestre de 2018, no final do governo de Michel Temer (MDB). As principais etapas da construção se desenvolveram entre 2019 e 2022, com Jair Bolsonaro (PL).
Bolsonaro expandiu autorizações para venda de tecnologia militar aos sauditas. Dados obtidos pelo Estadão mostram que o interesse de empresas brasileiras pela Arábia Saudita cresceu com Bolsonaro: entre 2017 e 2018, foram dez pedidos para venda de armas, bombas e serviços, sendo oito autorizados. Entre 2019 e 2021, foram 21 pedidos, com 17 liberações. Não houve solicitações em 2015 e 2016.
Em nota, a Mac Jee informou que "que possui contrato de venda de equipamentos com entidade industrial da Arábia Saudita, deferido pelo governo brasileiro em julho de 2018″ e afirmou que "o acordo cumpre rigorosamente as legislações atinentes ao setor, sendo firmado a partir da anuência de ambos os países".
Clã Bolsonaro e os sauditas
Aproximação da família Bolsonaro com os sauditas começou logo em 2019. Em junho daquele ano, o primeiro do governo do pai, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) esteve com Mohammed bin Salman, ditador da Arábia Saudita. Em outubro, foi a vez do próprio Bolsonaro se encontrar com o príncipe.
Bolsonaro já disse se sentir "quase irmão" de Mohammed bin Salman. À época, o príncipe saudita já era acusado de ordenar a morte do jornalista Jamal Khashoggi, do Washington Post, no consulado saudita em Istambul, na Turquia. O crime aconteceu em 2018.
Ex-presidente e equipe fizeram 150 viagens à Arábia Saudita, segundo levantamento. Os dados foram obtidos por adversários de Bolsonaro junto ao Portal da Transparência do governo federal.
Entre as viagens, está a da comitiva que retornou ao Brasil com joias entregues pelos sauditas, em 2021. A equipe era comandada pelo então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. Os presentes ficaram com Bolsonaro mesmo depois do término de seu mandato. O caso está sendo investigado.
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