Marielle: Ex-PM diz ter usado experiência e evitado rotas com policiamento

O ex-PM Élcio de Queiroz afirmou à Polícia Federal que traçou uma rota de fuga da cena do assassinato de Marielle Franco considerando a possibilidade de realização de operações policiais na região. Élcio e o também ex-PM Ronnie Lessa são acusados de assassinar a vereadora e o motorista Anderson Gomes naquela noite. Os dois estão presos desde 2019.

O que aconteceu

Élcio contou que Lessa, após atirar contra o carro de Marielle, pediu que fugissem do local do crime, na rua Joaquim Palhares, pela rua 24 de Maio. A via é uma das ligações entre a região central da cidade — onde ocorreu o atentado — e a zona norte — onde a dupla encontraria o irmão do atirador.

O ex-PM disse que argumentou que a via indicada por Lessa tem "várias operações da Polícia Militar", principalmente em dia de jogo. Naquela noite, o Flamengo jogava contra o Emelec, no Equador, pela Copa Libertadores da América.

Eu falei pra ele [Ronnie Lessa] que a 24 de Maio é um funil e tem várias operações da Polícia Militar, é corriqueiro ali. Eu falei que era melhor ir pela [Avenida] Brasil, e ele disse 'faz o teu caminho aí'.
Élcio de Queiroz, declaração feita em delação à polícia

Élcio, então, seguiu por vias expressas. Saiu do Estácio, optou pela avenida Brasil e, depois, a Linha Amarela — que dá acesso à Barra da Tijuca. No meio do caminho, Lessa pediu para irem até a casa da mãe, no Méier. Élcio atendeu.

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Uma eventual abordagem no trajeto — numa blitz policial ou em um assalto — era uma preocupação dos acusados.

[Depois dos tiros], eu fiquei preocupado com a situação [e disse:] e a senhora? [Antes, Élcio explica que se preocupava com Fernanda Chaves, assessora de Marielle, que também estava no carro, ser ferida na ação, já que não era alvo]. Ele disse pra eu ficar tranquilo, ir embora. Aí ele já nesse momento trocou o carregador e colocou um cheio. E falou que agora era pra fazer barulho, se alguém viesse roubar a gente, tem que fazer barulho.
Élcio de Queiroz

Na campana em frente à Casa das Pretas, onde Marielle participava de um evento, Lessa, segundo Élcio, se preocupou em verificar os aplicativos de trânsito — que indicam onde há "obstáculos" para motoristas, como blitze ou operações das polícias.

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Eu não vi se ele botou no aplicativo Waze ou Google Maps. Ele tinha falado Google Maps, mas eu tinha falado pra ele botar no Waze, que marca direitinho onde tem engarrafamento e onde que não tem.
Élcio de Queiroz

Entre o local do assassinato e a casa do irmão de Lessa, no Méier, na zona norte, a dupla levou 30 minutos, de acordo com Élcio. Não foram abordados por ninguém.

Até as pessoas perguntam como que você voltou com esse carro, porque a rua, por incrível que pareça, praticamente deserta. Talvez acho que devido ao jogo.
Élcio de Queiroz

As informações constam em delação premiada revelada ontem.

Entenda os avanços do caso Marielle

Élcio Queiroz prestou os depoimentos em junho passado, mais de cinco anos após o crime. O ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou que ele receberá os benefícios da delação, mas continuará preso.

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O ex-bombeiro Maxwell Simões Correa, o Suel, foi preso ontem. Com base em depoimentos e investigação técnica, a PF deflagrou ontem a operação Élpis, com um mandado de prisão preventiva e sete de busca e apreensão. Suel teria participado do planejamento do crime, em ações de vigilância e acompanhamento.

Na delação, Élcio afirma que foi Lessa quem atirou em Marielle e Anderson. Ele diz que foi recrutado por Lessa no próprio dia do crime e que dirigiu o carro usado na ocorrência. O ex-PM narrou em detalhes a noite do assassinato. Como parte do acordo, ele será transferido e a família receberá proteção.

O delator diz ter recebido R$ 1 mil após servir de motorista para Lessa. Élcio relata que os dois foram a um bar, após o assassinato, e só lá ele soube que o motorista Anderson também tinha morrido.

O ex-PM destacou, também, que a arma usada no crime tem origem no Bope, o batalhão especial da PM do Rio. O armamento, uma submetralhadora MP5, teria sido extraviada após um incêndio em um paiol da PM.

Para autoridades que acompanham o caso, a delação não resolve dúvidas sobre o crime. O presidente da Embratur, Marcelo Freixo, disse estar convencido de que o crime tem um mandante. A ministra Anielle Franco, irmã de Marielle, disse acreditar que não existe apenas motivação política no episódio.

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