Governo Lula acumula escorregões na comunicação e gera ruídos entre aliados

O governo Lula (PT) tem colecionado episódios públicos de ruídos na comunicação durante anúncios de decisões. Algumas dessas cabeçadas são vistas como parte das negociações e pressões do jogo político. Outras, no entanto, chegam a até incomodar aliados.

O que aconteceu

Há ao menos três episódios nos últimos meses em que houve ruído nos anúncios feitos pelo governo. Todos são de autoria do ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta (PT-RS).

Na avaliação de aliados do governo no Congresso, Pimenta acaba causando ruídos evitáveis e desnecessários.

IBGE

O mais recente foi o anúncio do economista Márcio Pochmann para o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), publicado ontem no Diário Oficial da União.

Primeiro, Pimenta anunciou à imprensa que Pochmann assumiria o órgão, que está vinculado ao Ministério de Planejamento e Orçamento, de Simone Tebet (MDB).

Ela não tinha sido avisada da decisão nem havia concordado com o nome do economista.

O ruído foi tanto que os dois ministros conversaram por telefone horas depois. Apesar do assunto ter sido alinhado, aliados interpretaram o episódio como se Tebet tivesse sido atropelada na decisão.

O ministro Pimenta, não sabendo que na reunião que tivemos com presidente não havíamos citado o nome, anunciou preliminarmente. E já está colocado. Simone Tebet, ministra do Planejamento e Orçamento, sobre o anúncio de Pochmann

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Sai ou não sai?

A confirmação da saída da ex-ministra do Turismo Daniela Carneiro também mostrou desalinhamento na comunicação do Planalto.

Como forma de atrair o União Brasil para a base do governo na semana de votação da reforma tributária, Lula já havia definido a troca de Daniela pelo deputado federal Celso Sabino (União Brasil-PA). O partido fazia pressão por trocar o cargo pelo apoio na aprovação do texto na Câmara dos Deputados.

Após uma reunião da ex-ministra com o presidente, Paulo Pimenta comunicou que ela permaneceria no cargo, irritando integrantes do União Brasil.

Horas depois, o anúncio foi corrigido pelo ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), que confirmou a saída de Daniela.

Agrishow

No episódio, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, foi "desconvidado" da feira Agrishow pelos organizadores. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) participaria da edição, num momento em que Lula investia na aproximação com o setor do agronegócio.

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Pimenta, então, subiu o tom e anunciou que o Banco do Brasil retiraria o patrocínio do evento, o que não ocorreu.

Ordens do chefe. A interlocutores, o ministro da Comunicação relata que segue as orientações de Lula. Publicamente, também já disse isso.

Para o cientista político da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Eduardo Grin, o governo Lula usa uma estratégia que já foi testada em mandatos anteriores: o balão de ensaio. "Alguém próximo a Lula fala, não foi ele quem falou diretamente. Depois, se vê a reação", explica o docente.

Porta-vozes expressam a posição do presidente. É improvável que um governo Lula de terceiro mandato não tenha noção de que as palavras do porta-voz não sejam mensagem oficial do presidente. Se o Pimenta falou o que falou, é difícil que não tenha passado por Lula anteriormente.
Eduardo Grin, cientista político da FGV

O que diz a Secom

Em nota, a Secretaria de Comunicação avalia que o balanço do trabalho é "muito positivo".

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O ministro-chefe da Secom, Paulo Pimenta, continuará observando as diretrizes definidas pelo presidente Lula, com quem mantém relação de confiança, lealdade e respeito.
Secretaria de Comunicação, em nota

O órgão pontua que alguns temas podem causar "diferentes visões", mas que se trata de um reflexo de uma "sociedade plural".

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