CPI do 8/1: Bolsonaristas usam depoimento de fotógrafo para atacar imprensa

A oposição bolsonarista utilizou o depoimento do fotógrafo Adriano Machado, da agência Reuters, à CPI que investiga os atos golpistas do 8 de janeiro para criticar o trabalho da imprensa. Ele foi ouvido como testemunha, não como investigado.

O que aconteceu

A convocação do fotojornalista foi feita a partir de requerimento do senador Eduardo Girão (Novo-CE) com apoio dos demais parlamentares bolsonaristas. A justificativa foi ele ter "demonstrando familiaridade" com os invasores.

Entidades jornalísticas criticaram a convocação. "Alegar que o repórter fotográfico estava no Palácio do Planalto, na tarde do dia 8 de janeiro, a serviço do governo e em conluio com os terroristas que depredavam o prédio público, é apenas um aspecto do desvario desses parlamentares", diz nota da ABI (Associação Brasileira de Imprensa) e da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas).

Nenhuma investigação apontou envolvimento nenhum de Machado nos atos de 8 de janeiro, apenas o exercício normal de sua profissão.

A estratégia dos bolsonaristas, que são minoria na comissão, foi atacar o jornalista e a imprensa em geral, chamada de "marrom". Só jornalistaas alinhados ao bolsonarismo foram citados como exemplo.

Eu espero que Vossa Senhoria não faça parte desse jornalismo moderno, que está desesperado por um clique, um jornalismo que tenta constantemente moldar a mente do leitor ou do telespectador, sugerindo aquilo que julgam ser as melhores ideias e escolhas, um jornalismo que busca influenciar as opiniões, tentando controlar o leitor ou o telespectador a todo custo.
Marco Feliciano (PL-SP), deputado federal

Já os governistas evitaram fazer perguntas ao profissional, exaltaram a liberdade de imprensa e criticaram a tentativa de criminalizar a mídia.

Uma pessoa que está num lugar e que tira uma foto e que coloca o seu registro nesta foto não é um infiltrado. Ele estava autoidentificado profissionalmente.
Senador Rogério Carvalho (PT-SE)

O profissional afirmou que, no dia dos atos, se sentiu ameaçado e foi obrigado por manifestantes a deletar imagens feitas da destruição do Palácio do Planalto.

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Como pode ser notado das imagens da câmera de segurança que foram divulgadas, após aquele contato inicial com essas pessoas, nos minutos seguintes eu voltei às proximidades do gabinete da Presidência da República para continuar registrando as ações, contudo, fui muitas vezes xingado, questionado e demandado a sair daquele ambiente por diversas pessoas.
Adriano Machado, fotojornalista da Reuters

Ele também ressaltou que em 8 de janeiro apenas estava trabalhando.

O profissional foi questionado pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-RJ) se ele realmente havia apagado as imagens do Palácio do Planalto. "Eu deletei aquelas fotos, eu deletei. Ele [um dos invasores que aparecem nas imagens do 8 de janeiro] veio mandando eu deletar, naquele tom de ameaça, ameaçando e tal. Aí ele falou: 'Apaga, apaga, apaga'. Eu mostrei a câmera, apaguei três fotos, para convencê-lo e para eu poder sair", relatou Machado.

O deputado Delegado Ramagem (PL-RJ) acusou, sem provas, Machado de auxiliar, influenciar e participar da destruição do Palácio. O parlamentar ainda tentou relacionar a presença de Machado a outros atos violentos, como a tentativa de invasão à sede da Polícia Federal (PF) em Brasília no dia da diplomação do presidente Lula, em dezembro de 2022, quando ele estava trabalhando.

Nós temos aqui o sr. Adriano Machado, que não cumpriu seus deveres de jornalista, participou do 12 de dezembro, participou do 8 de janeiro, deu publicidade, enquanto tem jornalista que nem participou do dia 8 de janeiro que está presa até hoje. E mais: com notícia de que não estava tendo acesso aos autos e está presa sob isolamento na penitenciária da Colmeia até hoje.
Delegado Ramagem (PL-RJ), deputado federal, na CPI

Ramagem se referiu à publicitária Klio Damião Hirano, presa por suspeita de participar da tentativa de invasão ao prédio da PF.

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