Governistas querem usar depoimento de hacker para convocar Bolsonaro à CPI

Governistas apostam no depoimento do hacker Walter Delgatti à CPI do 8 de janeiro para trazer à tona fatos que tornem irrefutável a convocação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na investigação em curso no Congresso.

O que aconteceu

Falastrão e chegado ao estrelismo, Delgatti vai ser ouvido amanhã. Há ainda a expectativa de que as declarações dele pressionem que a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) também seja chamada a depor.

De acordo com investigação do STF (Supremo Tribunal Federal), o hacker visitou Bolsonaro no Palácio da Alvorada, onde foi perguntado se, "munido do código-fonte, conseguiria invadir uma urna eletrônica".

Na avaliação dos governistas que participam da CPI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito), a confirmação deste fato faria necessária a convocação do ex-presidente para explicar se ele tentou burlar o sistema eleitoral.

No entanto, a votação do requerimento que chamaria Bolsonaro para depor depende do presidente da comissão, deputado Arthur Maia (União-BA). Suas atitudes, contudo, têm sido vistas como de "jogo duplo", ou seja, para que não se desentenda com a oposição nem com o governo.

Até o momento, Maia tem dito a interlocutores que não há motivos para a convocação de Bolsonaro. Se Maia incluir a convocação de Bolsonaro para ser votada na CPI, a oposição deve exigir como contrapartida a convocação do ministro da Justiça, Flávio Dino.

A ida de Dino à CPI tem sido evitada pelo Palácio do Planalto. Mas, toda semana, aliados bolsonaristas pedem a oitiva do ministro. Nesta semana, a demanda ganhou força após Maia admitir que Dino não enviou todas as imagens de segurança do ministério do dia 8 de janeiro.

Expectativa de aliados de Lula

Caso o hacker fale na comissão sobre uma tentativa de invadir as urnas, a resistência do presidente da CPMI em convocar Bolsonaro poderia ser alterada, na avaliação do deputado Rubens Pereira Jr (PT-MA), vice-líder do governo na Câmara.

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O mesmo raciocínio se aplicaria a Zambelli. De acordo com Delgatti, foi ela quem levou o hacker até o Alvorada para o encontro com Bolsonaro. O hacker depõe nesta quarta-feira à PF (Polícia Federal) sobre o assunto.

No começo do mês, a deputada confirmou que efetuou pagamentos para o hacker. A justificativa foi de ele prestar serviços de melhorias de um site dela.

Ao UOL, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, confirmou que o hacker esteve no prédio da pasta na gestão de Jair Bolsonaro e disse que a PF analisa com quem ele esteve em contato no local. A informação da visita ao prédio da Defesa foi dada pelo advogado de Delgatti no começo do mês.

Reta final da CPI dos atos golpistas

Se a oitiva do hacker Walter Delgatti trouxer detalhes sobre um suposto plano de golpe, a expectativa é que seja o que faltava para a relatora da comissão, Eliziane Gama (PSD-MA), concluir o parecer da investigação.

A aliados, a senadora tem dito que ainda não há provas do papel direto de Bolsonaro nos ataques. No entanto, a cada sessão, fortalece a ideia de que os atos golpistas já estavam sendo pensados muito antes de 8 de janeiro e com a participação de aliados do ex-presidente que estavam no governo.

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É o caso do ex-diretor-geral da PRF (Polícia Rodoviária Federal) Silvinei Vasques, investigado por tentar interferir no trânsito de eleitores em estados em que Lula era o favorito na disputa presidencial.

O papel de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e então secretário de Segurança Pública do Distrito Federal quando ocorreram os ataques, também deve ser um capítulo do relatório final da CPI. Foi encontrada uma minuta de um plano golpista na casa dele.

Agora, a senadora trabalha para avançar na apuração sobre os mentores, os financiadores e os executores dos atos contra as sedes dos três Poderes, além da formação do acampamento no Setor Militar Urbano, em Brasília.

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