Ministro de Lula destina R$ 47 milhões a cidade onde padrinho tem fazendas

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, empenhou R$ 47,2 milhões em emendas para Canarana e Campo Verde, cidades em Mato Grosso onde Eraí Maggi, o maior produtor de soja do país, reúne ao menos dez fazendas. Apoiador do presidente Lula (PT), Eraí e o primo, o ex-governador Blairo Maggi, foram os responsáveis por aproximar Fávaro do petista e a trabalhar por sua indicação ao cargo.

O que aconteceu

Canarana foi a cidade do estado que mais teve recurso reservado em julho pelo ministério, com R$ 26,3 milhões. A segunda cidade foi Matupá, com R$ 25,1 milhões. Já Campo Verde, o terceiro município priorizado na lista, teve R$ 20,9 milhões.

Esse dinheiro faz parte das extintas emendas do orçamento secreto, que foram consideradas inconstitucionais pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em 2022. Parte do montante em emendas previsto no Orçamento de 2023 foi transferida para os ministérios com o objetivo de financiar programas.

O ministro e a pasta foram procurados para comentar os valores, mas não responderam até a última atualização deste texto. A reportagem também pediu um posicionamento a Eraí, por meio da assessoria de imprensa de uma de suas empresas, mas ele não quis se pronunciar.

Levantamento feito pelo UOL mostra que os recursos reservados pelo ministério de Fávaro foram para "fomento ao setor agropecuário", que pode ser destinado a obras de infraestrutura da produção, além de projetos de desenvolvimento para o setor.

Conhecido como "rei da Soja", Eraí Maggi é dono da Bom Futuro, uma das maiores empresas do agronegócio brasileiro. Com mais de 30 fazendas, a empresa produz milho, soja e algodão e vende bois. Maggi também investe na criação de peixes, em extração de minério e tem até hidrelétricas espalhadas por Mato Grosso.

Em Campo Verde, o grupo Bom Futuro tem as fazendas Fartura e Filadélfia. Há ainda uma usina hidrelétrica no rio Galheiros.

O empenho de emendas para o próprio estado e para cidades de aliados foi alvo de discussões entre Fávaro e ministros palacianos.

Eraí, Blairo e Fávaro são amigos há anos. Nas redes sociais, o ministro não esconde a proximidade da relação. Em 12 de fevereiro, durante uma viagem a Cuiabá, Fávaro publicou um vídeo com Eraí, Blairo e sua esposa, Terezinha Maggi, dizendo que foi pedir conselhos para a condução da Agricultura.

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Na semana passada, ao ser questionado pelo relator da CPI do MST da Câmara, o deputado Ricardo Salles (PL-SP), Fávaro saiu em defesa de Blairo e Eraí. Ele disse que tem muito orgulho dos dois e admitiu: "São meus amigos e padrinhos".

Ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, e o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) em audiência da CPI do MST
Ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, e o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) em audiência da CPI do MST Imagem: Reprodução/YouTube/Câmara dos Deputados

Atritos com o Planalto

O ministro das Relações Institucionais do Palácio do Planalto, Alexandre Padilha, questionou o envio de recursos para cidades específicas do estado, atendendo interesses individualizados, disse um cacique do PSD à reportagem.

Padilha teria dito que "o dinheiro é do governo" e, por isso, deveria atender às necessidades das cidades, sem privilégios ou envios destoantes. Houve até gritaria entre os ministros, de acordo com os relatos ouvidos pela reportagem. O ministro Padilha foi procurado pela reportagem, mas não quis responder. Orientou procurar a pasta da Agricultura para comentários.

Precisou que lideranças do PSD interviessem para apaziguar os ânimos. O episódio serviu para a Agricultura entrar na mira do centrão em meio às conversas de reforma ministerial. No centrão, já há partidos que sinalizem que Fávaro não está em uma boa fase e que um outro nome poderia substituí-lo.

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Além do "fogo amigo" no Congresso, as críticas de Padilha à divisão das emendas também incentivaram reclamações de parlamentares da FPA (Frente Parlamentar do Agronegócio), que criticam a falta de abertura de Fávaro para atendê-los e para distribuir recursos.

Entre os deputados da frente, há o sentimento de que Fávaro não faz "política de grupo", por ter destinado emendas para seu estado sem ouvir os parlamentares.

Alguns congressistas sinalizam ainda que a indicação de cargos na Agricultura poderia melhorar a relação com o ministro, pois demonstraria uma "atenção" aos integrantes da frente e do setor de agronegócio.

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