7 de Setembro reconcilia lulistas com verde-amarelo

O 7 de Setembro deste ano marca uma reconciliação dos petistas com as cores da bandeira do Brasil, que foram cooptadas pelo bolsonarismo. O público adaptou à sua maneira o estilo de usar.

O que aconteceu

Usar boné verde-amarelo e comparecer a um desfile com conotações militares era impensável para Evanice Barbosa da Rocha, 49, até o ano passado.

A autônoma, que se diz "Lula até o último fio de cabelo", havia abandonado as cores nacionais durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).

"Na Copa, eu usei azul. Eu resisti muito a voltar a usar verde e amarelo", afirma Evanice, que até via como uma "traição" colocar a camisa da seleção.

Só voltou a se sentir confortável com as cores da bandeira depois da posse de Lula (PT), em janeiro. Ela acompanhou o evento e conseguiu ver o presidente de relance.

Outro hábito que Evanice recuperou foi ir ao desfile de 7 de Setembro. Ela participava nos dois primeiros governos de Lula, mas depois tinha deixado de comparecer. Hoje, a autônoma voltou à Esplanada dos Ministérios.

Mas, assim como a maioria das pessoas, não aplaudiu a passagem de tanques de guerra e aviões das Forças Armadas.

Francisco Pinto ignorava os veículos militares e marcou presença por causa de Lula com um boné do MST
Francisco Pinto ignorava os veículos militares e marcou presença por causa de Lula com um boné do MST Imagem: Felipe Pereira/UOL

Roupa política

Francisco Pinto, 55, lamentou não achar uma camisa vermelha para usar, mas marcou posição com seu boné do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).

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Funcionário de uma escola de Brasília, ele queria mostrar que o presidente tem apoio, porque se diz muito incomodado com a narrativa de que apenas Bolsonaro leva gente para as ruas. Veio por isso à cerimônia, para ver o primeiro desfile de sua vida.

Antes, Francisco havia participado na condição de militar, quando serviu na Aeronáutica. Ele permaneceu o tempo todo perto de pessoas de verde e amarelo e não foi incomodado.

Cosme Passos Salvador foi de camiseta amarela e boné onde se lia Lula
Cosme Passos Salvador foi de camiseta amarela e boné onde se lia Lula Imagem: Felipe Pereira/UOL

Cosme Passos Salvador, 23, botou um boné onde se lia Lula. Chegou cedo para pegar um bom lugar e vibrou quando o presidente apareceu no telão.

Nas entradas para as arquibancadas, eram distribuídos bandeiras e bonés, que foram preferidos pelas crianças. Confeccionados com as cores do Brasil, eles tinham o logo do Banco do Brasil.

Na arquibancada, também com menos gente, houve gritos de "Lula" e "democracia". Durante os hinos, as pessoas cantaram "olê, olê, olá, Lula". Alguns integrantes das escolas no desfile passaram por Lula fazendo um coração e o L com as mãos.

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Bolsonaristas também se fazem presentes

José Anisérgio Caixeta, 67, votou em Jair Bolsonaro no ano passado. Apesar de ter outro presidente eleito, acompanhou o desfile de 7 de Setembro mesmo assim.

Estava com a família e não escondeu que achava o evento mais animado no passado. O aposentado lembrou que o ex-presidente percorria a Esplanada dos Ministérios e colocava sua personalidade no desfile.

Ele considerou o 7 de Setembro deste ano "morno" na comparação com as edições passadas.

As críticas só não foram maiores ao evento porque seu neto, que estuda em colégio militar, desfilou. José estava acompanhado de outro neto, Rafael Martins Ribeiro, 13. O garoto estava orgulhoso porque o irmão fez bonito e não errou nada na cerimônia.

Rafael Costa de França, 46, votou em Bolsonaro nas duas últimas eleições presidenciais. Ele lamentou que era Lula quem estava no palco das autoridades, mas não quis perder o evento.

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"Vim porque o 7 de Setembro não é sobre o presidente e, sim, sobre a pátria", explicou Rafael.

Ele alfinetou o evento deste ano afirmando que foi mais curto e houve menos empolgação das pessoas. Atribuiu a reação, ou falta dela, à antipatia da esquerda com as Forças Armadas.

Mas reconheceu que o convívio foi pacífico e, mesmo vestindo a camisa da seleção, não foi hostilizado em nenhum momento.

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