Lula dá ministérios a PP e Republicanos, demite Moser e remaneja França
Para incluir PP e Republicanos no governo, o presidente Lula (PT) demitiu a ministra do Esporte, Ana Moser, e remanejou o ministro Márcio França (PSB) para uma nova pasta. O anúncio foi feito hoje por meio de nota, após quase dois meses de negociação intensa entre Planalto e centrão.
Como fica o governo
Os novos ministros serão os deputados André Fufuca (PP-MA), em Esporte, e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), em Portos e Aeroportos.
Os dois foram recebidos por Lula no Palácio do Planalto para convite oficial nesta tarde. O governo já havia anunciado desde julho uma reforma ministerial, só faltava decidir quais pastas eles ocupariam.
Ainda foi criado o Ministério de Micro e Pequenas Empresas, como Lula já havia adiantado, que ficará com França. Este foi o jeito de o presidente atender aos pedidos do PSB e do vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB).
Com as mudanças anunciadas hoje, as pastas ficam assim:
- Silvio Costa Filho vai para Portos e Aeroportos;
- Márcio França vai para o ministério de Micro e Pequenas Empresas (recém-criado);
- André Fufuca vai para Esporte;
- Ana Moser deixa o governo.
Trata-se de um arranjo do governo Lula em busca de mais apoio na Congresso, em especial na Câmara. As mudanças foram combinadas diretamente com as bancadas da base dos dois partidos e com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), com quem Lula se encontrou mais de uma vez para debater o assunto.
As mudanças foram necessárias para tentar não desagradar aliados e nem novatos. Desde que se propôs a agregar os ex-bolsonaristas, Lula passava por uma sinuca de bico para estabelecer o novo desenho da Esplanada. Ontem (5), Lula chamou Ana Moser para avisar que ela deixaria o cargo. Ele também almoçou com França e Alckmin para decidir o futuro do paulista, que resistia em deixar a pasta de Portos e Aeroportos.
Três ministros já deixaram o governo, sendo duas mulheres. Em abril, houve troca no GSI (Gabinete Institucional de Segurança) em meio a polêmicas do 8 de janeiro; em junho, o União Brasil determinou a primeira troca do centrão, na pasta de Turismo.
Tristeza e consternação, diz Ana Moser
Em nota, a equipe de Moser expressou "tristeza e consternação" com a saída dela. O texto fala em "interrupção temporária de uma política pública de esporte inclusiva, democrática e igualitária no governo federal".
O texto afirma que Moser lamentou, em conversa com Lula, não ter tido tempo de consolidar seus projetos na pasta. A gestão comandada pela ex-jogadora de vôlei disse que não foi possível cumprir, de forma plena, promessas de campanha sobre ampliação do direito social ao esporte.
PP desejava a pasta do Bolsa Família
Dessa forma, o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias (PT), segue no governo. A pasta era a mais cobiçada pelo PP, mas houve resistência por parte de Lula de entregar o ministério responsável pelo Bolsa Família ao centrão.
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Quero receberLula teve de escolher entre diminuir a participação feminina ou entregar o Bolsa Família. Sob críticas de apoiadores, o presidente evitava tirar Moser, depois de já ter trocado uma mulher por um homem no Turismo.
O PP, por sua vez, também resistia à pasta por considerá-la "pequena". Desde que considerou entrar no governo, o partido de Lira lutava pelo Desenvolvimento Social.
A solução foi "turbinar" o Esporte. A ideia é que o ministério concentre parte do orçamento das apostas esportivas, das empresas conhecidas como bets. A secretaria que a gerencia, no entanto, deverá seguir sob a alçada da Fazenda, de Fernando Haddad (PT).
O acerto também deverá incluir a presidência da Caixa Econômica Federal, com a indicação da ex-deputada Margarete Coelho, nome apoiado por Lira. O único pedido de Lula foi que a gestão, hoje sob Rita Serrano, seguisse com uma mulher.
Acabo de aceitar o convite feito pelo presidente Lula para assumir o Ministério do Esporte. Me sinto honrado pela oportunidade de contribuir para o desenvolvimento do esporte brasileiro e de trabalhar ainda mais pelo meu País.
-- André Fufuca (@DepAndreFufuca) September 6, 2023
Comunico que tive o privilégio de ser convidado pelo excelentíssimo senhor presidente da República, @lulaoficial, para exercer a função de ministro de Estado dos Portos e Aeroportos do Brasil... [+]
-- Silvio Costa Filho (@Silvio_CFilho) September 6, 2023
Sem desagradar o PSB
Esporte era inicialmente a pasta desejada pelo Republicanos, que acabou aceitando Portos e Aeroportos. O problema é que, sem mandato, França não queria perder a vaga e resistia a ir ao novo ministério anunciado por Lula.
Para o PSB, Portos e Aeroportos tinha muitas semelhanças com o MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), já comandado por Alckmin, enquanto para França a pasta era estratégica para o seu reduto eleitoral, a Baixada Santista, com o controle do maior porto do país.
O partido que compõe a chapa principal chegou a reclamar publicamente de uma diminuição do número de ministérios. Após o almoço com Lula ontem, quando o presidente apresentou a proposta final, Alckmin e França se reuniram com o presidente partidário, Carlos Siqueira, e o prefeito de Recife, João Campos (PSB), à noite. O vice levou a resposta a Lula nesta manhã no Alvorada.
Negociações difíceis
As negociações duraram cerca de dois meses de queda de braço e já estavam irritando o centrão. A entrada dos dois partidos foi confirmada pelo governo em meados de julho, quando já havia pressão do centrão por mais cargos.
Incomodado, o centrão da Câmara pressionou Lula na votação de projetos importantes, em especial o arcabouço fiscal. O projeto que substitui o teto de gastos e ajuda a nortear a política econômica do terceiro mandato foi aprovado depois de muito vaivém, mas não da forma que o governo queria, sem a emenda que permitia gastos extraordinários pela União.
O governo dizia que não havia pressa e que Lula ainda estava "desenhando" o novo arco ministerial. A demora, no entanto, se deu devido à dificuldade para fechar a nova Esplanada e a um cálculo do presidente. Conforme o UOL apurou, ele não queria mostrar ser refém do Congresso. Como já havia prometido as pastas aos dois partidos — "acordo no fio do bigode", como gosta de repetir —, o presidente argumentava não ver motivo para correr com as indicações.
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