Financiamento do 8/1 tem dezenas de suspeitos, mas só um foi denunciado

Investigações já apontaram dezenas de suspeitos de financiar os atos de 8 de janeiro de 2023, mas só um foi denunciado até o momento.

O que aconteceu

Em um ano, 1.413 pessoas foram denunciadas ao STF (Supremo Tribunal Federal) pelos atos de 8 de janeiro. Do grupo, 248 participaram da invasão da Praça dos Três Poderes e 1.156 estavam no acampamento dos manifestantes, em Brasília. Também foram acusados 8 policiais militares do DF e um financiador.

O único denunciado como financiador é o empresário Pedro Luis Kurunczi, de Londrina (PR). Segundo a acusação da PGR (Procuradoria-Geral da República), ele fretou quatro ônibus ao custo de R$ 59,3 mil para levar 108 bolsonaristas à capital federal.

Dezenas de outros fretadores já foram identificados. Ainda em janeiro, dias após os atos, a AGU (Advocacia-Geral da União) processou 52 pessoas e 7 empresas que financiaram transporte para Brasília. Elas são alvos de um pedido de indenização por dano moral coletivo, mas Kurunczi é o único que responde na esfera criminal.

O ministro Alexandre de Moraes bloqueou as contas de 43 empresas suspeitas. Elas atuam nos setores agrícola, de transporte e construção civil. A maioria (34) fica no Mato Grosso.

A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) de 8 de Janeiro pediu o indiciamento de 16 financiadores. A comissão ouviu um dos empresários em novembro. Chamado de "pai da soja" e defensor declarado da ditadura, Argino Bedin teria enviado cinco caminhões para engrossar os acampamentos golpistas.

Mais financiadores são investigados. No grupo, há suspeitos de organizar vaquinhas para o acampamento em Brasília ou de fornecer água, comida, banheiro químico e trio elétrico para os manifestantes, mas até o momento nenhum foi acusado.

A CPI identificou este segundo grupo de empresários. Ele é formado por pessoas do setor de supermercados, publicidade e mineração.

Por enquanto, nenhum financiador é réu no STF. A única denúncia, contra Kurunczi, foi feita pela PGR no dia 14 de dezembro e ainda não foi analisada pelo Supremo. Ou seja, a ação penal ainda nem foi aberta.

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O UOL questionou a PGR sobre o ritmo das denúncias contra os financiadores, mas não obteve retorno. Se houver resposta, a reportagem será atualizada.

Acampamento golpista à frente do QG do Exército, em Brasília
Acampamento golpista à frente do QG do Exército, em Brasília Imagem: Reprodução de vídeo

Patrocinadores de atos ligados ao 8/1 seguem livres

Também há investigações contra financiadores de atos ligados ao 8/1. O STF mira suspeitos de patrocinar bloqueios que tomaram rodovias do país, em novembro de 2022 —após as eleições— e de apoiar atos de vandalismo e uma tentativa de atentado a bomba em Brasília, em dezembro daquele ano.

Pelo menos 43 pessoas ou empresas são suspeitas de financiar os bloqueios das estradas. Os nomes são conhecidos desde novembro de 2022 —quando o ministro Alexandre de Moraes mandou bloquear as contas do grupo— mas nenhum desses casos avançou para uma denúncia criminal.

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Parte dos suspeitos teria enviado caminhões a Brasília semanas antes dos atos. Um relatório da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) apontou que 272 caminhões viajaram em comboios bolsonaristas de vários locais do país para Brasília, entre novembro de 2022 e janeiro de 2023.

A CPMI do 8/1 identificou suspeitos de dar apoio material aos atos. O relatório final da comissão, apresentado em outubro, cita duas pessoas que teriam fornecido água e comida para os manifestantes e três que arrecadaram dinheiro para o acampamento.

Setor do agro apoiou golpismo

Criado por plantadores de soja, o MBVA (Movimento Brasil Verde Amarelo) apoiou a agenda golpista. A entidade apoiou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nos quatro anos de seu governo e é investigada em inquéritos do STF.

Os líderes doaram R$ 100 mil à campanha de reeleição do ex-presidente. A informação consta de relatório da Abin (Agência Brasileira de Investigação) ao qual o UOL teve acesso.

Empresários do agro enviaram caminhões ao acampamento em Brasília. Como pessoas jurídicas, eles abriram mão de usar os veículos em seus negócios para apoiar a pauta golpista.

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Verificou-se, ainda, que 132 caminhões (48,5%) estão registrados em nome de pessoas jurídicas, o que indica o envolvimento de grupos empresariais no financiamento ao acampamento em frente ao QGEx [Quartel-General do Exército]

Trecho do relatório da Abin

Repercussão política

A expectativa é de mudança de rumos nas investigações. Parlamentares governistas acreditam que a chegada de Paulo Gonet à Procuradoria-Geral da República vai destravar as investigações.

Existe a previsão de o inquérito ser concluído no curto prazo. A conclusão levaria à denúncia dos financiadores que aparecem no relatório da Abin.

A oposição tem leitura diferente. O senador Magno Malta (PL-ES) afirma que não haver denúncias contra financiadores comprova que a esquerda tem uma narrativa falsa sobre o 8 de Janeiro.

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Para ele, a culpa é do governo federal. O senador alega que, apesar de alerta por parte dos serviços de inteligência, o Palácio do Planalto e Ministério da Justiça não tomaram as providências necessárias.

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