Ministro diz que fala de Bolsonaro foi 'confissão de crimes praticados'

O ministro da Casa Civil, Rui Costa, afirmou hoje que o discurso do ex-presidente Jair Bolsonaro no ato em São Paulo o surpreendeu porque foi uma "confissão de crimes praticados".

O que aconteceu

Rui Costa classificou o ocorrido como "inusitado". Segundo ele, todas as falas no evento, tanto de Bolsonaro quanto de aliados, foram de confissão.

O ministro disse que Bolsonaro praticamente admitiu que tentou um golpe de Estado. Ele teria resultado nas invasões durante o 8 de janeiro do ano passado. Mas teria admitido que "não houve êxito".

PF vai incluir fala na investigação. Integrantes da Polícia Federal dizem inclusive que a fala reforçou a linha de investigação de que houve uma trama de tentativa de golpe de Estado.

Ele minimizou a adesão de apoiadores e aliados ao ato. A SSP-SP (Secretaria da Segurança Pública de São Paulo) informou que o ato pró-Bolsonaro reuniu aproximadamente 600 mil pessoas. Grupo de estudo da USP (Universidade de São Paulo) estimou os participantes em 185 mil.

Polarização infla evento. Além disso, o ministro disse que a pacificação com os religiosos, sobretudo com evangélicos, é um "processo lento", mas já está em prática. Ele disse que o apoio dos religiosos a Bolsonaro "não é um complicador" para o governo Lula. "Todos conhecem e sabem que o país ainda se encontra com um grau de polarização grande e de pregação do ódio. E todos os religiosos são mobilizados por seus líderes para pedir por cobertura e anistia a crimes cometidos", justificou sobre o número de participantes.

Não foi surpresa, não [o tamanho do ato]. Inclusive, porque o número foi muito aquém do que aquele divulgado pelos próprios organizadores. Surpresa nenhuma. Só surpresa pelo conteúdo, a confissão de crimes praticados. Não só a nós, mas o Brasil também ficou surpreso.
Ministro da Casa Civil, Rui Costa

Militância vaia pergunta. O ministro foi o único que se pronunciou após um evento que anunciava a transformação de imóveis da União ociosos em moradias populares. Petistas que acompanhavam o evento vaiaram uma jornalista após ela questionar o presidente Lula (PT) sobre o ato.

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Lula ficou em silêncio e ignorou o questionamento. As vaias só cessaram depois que a equipe do presidente pediu silêncio para os apoiadores. Mais adiante na entrevista, outra jornalista refez a pergunta, mas ficou igualmente sem resposta dos ministros. Lula deixou a coletiva no meio.

O que disse Bolsonaro na Paulista

Bolsonaro citou em sua fala o que ficou conhecido como "minuta do golpe". O documento foi encontrado na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres em janeiro de 2023. "O que é golpe? É tanque na rua, é arma, conspiração. Nada disso foi feito no Brasil", disse Bolsonaro no ato.

Ex-presidente negou que a "minuta do golpe" representasse um plano antidemocrático. "Por que continuam me acusando de golpe? Porque agora tem uma minuta de um decreto de estado de defesa. Golpe usando a Constituição? Tenham santa paciência. Estado de sítio começa com o presidente da República convocando os conselhos da República e da Defesa. Apesar de não ser golpe estado de sítio, não foi convocado ninguém dos conselhos."

Bolsonaro também pediu anistia a envolvidos no 8/1. "Nós já anistiamos no passado quem fez barbaridade no Brasil. Pedimos um projeto de anistia para que seja feita justiça no Brasil. Quem porventura depredou, que pague, mas essas penas fogem ao mínimo da razoabilidade."

Sem citar nomes, Bolsonaro disse ser vítima de "perseguição" e afirmou não poder falar o que gostaria. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, não foi citado pelo ex-presidente —os ataques ficaram a cargo do pastor Silas Malafaia, que discursou antes de Bolsonaro. Moraes concentra os inquéritos sobre os atos antidemocráticos, incluindo o 8 de Janeiro.

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'Bolsonaro queria dar um golpe'. Escuto isso desde que assumi. Golpe é sangue na rua, é arma, é conspiração. É trazer classes políticas para o seu lado, classes empresariais. Isso que é golpe. Nada disso foi feito.
Jair Bolsonaro em discurso na Paulista

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