Prates se mantém na Petrobras por apoio de Haddad e falta de alternativas

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, está na berlinda, mas sua saída está descartada por ora, apesar da insastisfação, porque faltam nomes que agradem ao presidente Lula (PT) para substituí-lo.

O que aconteceu

Petrobras em crise. Na semana passada, a companhia anunciou queda de 6,3% no lucro do quarto trimestre e decidiu não distribuir cerca de R$ 44 bilhões em dividendos extraordinários aos acionistas. O anúncio fez as ações da estatal caírem mais de 10%.

Prates se absteve na votação. A maioria do conselho administrativo tomou a decisão. O governo tem a maioria das cadeiras. Teoricamente neutra, a participação de Prates no caso está de acordo com o desejo de Lula, que quer uma mudança na distribuição dos dividendos. Segundo fontes, porém, ele não cobrou isso diretamente na reunião nesta semana.

Futuro dos dividendos foi tema de reunião. Prates e Lula se reuniram por quase três horas e meia na tarde de segunda (11). Também estiveram presentes conselheiros, diretores da Petrobras e parte da cúpula do governo num encontro que havia sido marcado antes de ser deflagrada essa crise.

Se não ele, quem?

A possível demissão foi considerada. Mas, segundo aliados próximos ao presidente, não foi tema específico da reunião. O problema é que não circula nenhum outro nome para substituí-lo e, diferentemente do que Lula faz recorrentemente com ministérios, ele não poderia deixar a petroleira sem chefia.

A companhia é um dos xodós do presidente. Ele sonha em retomar os anos de ouro de seu primeiro mandato. Por isso, Lula recusa entregar seu comando ao centrão do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ou mesmo a partidos aliados, como o PSD do ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia). Silveira e Prates têm entrado em conflito desde o início da gestão.

Lula tampouco cogita entregá-la "ao mercado", como fez a ex-presidente Dilma Rousseff. O presidente não só é radicalmente contra a privatização total da companhia, que já tem capital aberto, como briga que seus resultados têm de "trazer resultado para o povo". Foi essa a principal desavença envolvendo os dividendos.

O atual chefe da estatal tem vantagens e bons contatos. Além de petista com certa confiança de Lula, ele tem histórico de formação na empresa, onde prestou consultoria nos anos 1980, e em outros órgãos de energia, como a ANP (Agência Nacional de Petróleo). Também tem ligação forte com os sindicatos de petroleiros.

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Prates foi defendido por Fernando Haddad (Fazenda). Na reunião de segunda, o ministro da Fazenda apontou que Prates tomou decisões técnicas e que, como presidente da companhia, tem de pensar no equilíbrio da empresa.

Os poucos nomes que circularam para substituir Prates "foram plantados". É o que dizem aliados da cúpula do Planalto. Um deles seria o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, que descarta qualquer mudança neste sentido. Lula não tem dado espaço para que outras possibilidades apareçam.

Lula pediu mais ação. Insatisfeito com a repercussão que a polêmica tomou, Lula pediu que Prates e os ministros agissem mais e tivessem mais cautela. Insistiu, ainda, que fossem criadas alternativas de caixa para reinvestimento na companhia rumo à transição energética. Na reunião, Prates e executivos fizeram uma apresentação de mais de uma hora sobre o tema.

Veto veio do governo, defende Prates. Após a polêmica, ele afirmou à GloboNews que Lula não deu a ordem para não distribuir dividendos, mas aliados confirmam que o presidente foi a favor da medida e já sabia que ela seria tomada.

Lula quer mudanças

Lula defende mais investimento e menos lucro. Desde a campanha, o presidente tem argumentado que é preciso manter o investimento na petrolífera, realocando verba especialmente para a transição sustentável.

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A Petrobras continua pagando bem aos acionistas. Esse é um dos argumentos no PT e entre aliados. Mesmo com queda e sem dividendos extras, a empresa pagou mais do que rivais globais, como as norte-americanas Exxon Mobil e Chevron e a britânica Shell.

O presidente disse que a empresa "não deve pensar só nos acionistas". "O que não é correto é a Petrobras, que tinha que distribuir R$ 45 bilhões de dividendos, querer distribuir R$ 80 bilhões. E R$ 40 bilhões a mais que poderiam ter sido colocados para investimento, fazer mais pesquisa, mais navio, mais sonda", disse.

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