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Reinaldo: Valdemar arma tática pra manter Tarcísio refém de Bolsonaro

O colunista Reinaldo Azevedo afirmou no Olha Aqui! desta segunda (17) que a declaração do presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, de que Jair Bolsonaro será o candidato do partido ao Planalto é uma tática para manter o bolsonarismo vivo e controlar as ambições do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

É claro, ele sabe que Bolsonaro não será candidato. Isso é uma tática pra manter o bolsonarismo unido. O Bolsonaro, obcecado como é pelo Lula, se você olhar, ele mantém a tática que o Lula usou quando foi preso, [e ficou] inelegível. Só que [no caso do] Lula, ainda havia recursos pendentes da condenação, até porque não era uma condenação na Justiça Eleitoral. Tanto é que o TSE [Tribunal Superior Eleitoral] julgou a elegibilidade do Lula [PT] ou não, mesmo com o Lula condenado na esfera penal. E o PT dizia: 'O candidato é o Lula, o candidato é o Lula'. Na última hora, sabendo que não iria acontecer e o PT também sabia que não, o Lula indicou o [Fernando] Haddad, que foi o que deixou o Ciro [Gomes] surtado. E com a indicação do Lula, o Haddad foi parar no 2º turno e teve um bom desempenho. Teve mais de 40% dos votos no 2º turno, numa eleição que era impossível de ganhar, considerando as coisas como vinham. Reinaldo Azevedo, colunista do UOL

Reinaldo destaca que a estratégia de Valdemar e de Bolsonaro é um recado a possíveis candidatos.

O Bolsonaro repete a tática nesse sentido: o candidato é Bolsonaro, o candidato é Bolsonaro, porque o candidato sendo Bolsonaro não aparece nenhum outro. E o próprio Valdemar da Costa Neto entrega o jogo. Ele diz: 'O candidato é o Bolsonaro ou quem o Bolsonaro indicar. Então, pronto. Bolsonaro tem o controle da sucessão no que diz respeito ao PL, fica claro que o candidato será do PL e do bolsonarismo, obviamente, quem o Bolsonaro quiser. Isso é um recado aos demais candidatos. 'Ou vocês se ajoelham ou não tem saída. Sou eu. O candidato é ele'. Por exemplo, um direitista como o Ronaldo Caiado [União Brasil-GO]. É um cara, sem dúvida, de direita, mas ele transita numa faixa própria. Ele não é bolsonarista. Ele pode se associar, [compartilhar] teses, mas ele não é bolsonarista. Ele tem a sua própria história. Só seria candidato se o Bolsonaro dissesse que sim. O Zema [Novo-MG], esse eu acho que está completamente descartado, mas é a mesma coisa.

E o candidato todo mundo sabe, hoje, é o Tarcísio. Vai depender muito do governo Lula. Em quê? Se a situação continuar como está — um meio a meio em aprovação e reprovação, pouquinho a mais de aprova que de reprova —, a análise que se faz é 'Bom, um Tarcísio conseguiria'. Porque vem com apoio da extrema direita, terá apoio unânime — já tem — da esmagadora maioria dos meios de comunicação, especialmente em razão do mau humor desse pedaço da opinião pública com a economia — injustificado, mas está aí. Então, o Tarcísio teria condições e você tem, aí, uma eventual volta do bolsonarismo revigorado. Reinaldo Azevedo, colunista do UOL

Para Reinaldo, o objetivo final é controlar Tarcísio de Freitas.

E aí, sim, Tarcísio na Presidência, um Congresso que continuará conservador, aí se pode tentar todas as anistias do mundo. Nessa circunstância poderia haver mais boa vontade — se imagina — no Supremo [Tribunal Federal], porque tudo isso pararia no Supremo. Um pouco é o cenário que essa gente tem. Mas, pra que esse cenário venha, é preciso que se mantenha a fantasia de que Bolsonaro é candidato, de que reverter a inelegibilidade dele é possível. Não é possível, não vai acontecer, abaixo de zero.

Isso é uma tática pra conservar na mão do Bolsonaro a decisão. Também serve como uma trava ao Tarcísio pra que não ouse tentar fugir do controle. Eles sabem que o Tarcísio, por natureza, é um pouco mais amplo que o Bolsonaro, ele conversa, já hoje, com um círculo um pouco maior, tem a simpatia de alguns setores que com o Bolsonaro não tem muito trânsito. (...) Há essa construção, é ele o candidato. O Bolsonaro tem medo que isso fuja, digamos... Reinaldo Azevedo, colunista do UOL

Por isso, a tática de fazer um Tarcísio dependente de Jair Bolsonaro.

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Tarcísio não pode ser um candidato que independa de Bolsonaro, porque, se for, ele vai querer se livrar do Bolsonaro. Ele não pode se livrar do Bolsonaro. Bolsonaro está dizendo: 'Não, é comigo até o fim, é meu refém. O prefeito de SP [Ricardo Nunes/MDB] tentou ser candidato de um arco de alianças que tem até gente ali de centro e ter o bolsonarismo junto. Bolsonaro falou: 'Assim não serve. O vice tem de ser um ultrarreacionário que, inclusive, fez discurso golpista. É isso que a gente quer'. E ele vai impor o vice, não tem jeito. Na verdade, essa declaração do Valdemar é mais uma declaração: 'Vamos controlar Tarcísio'.

Valdemar e Tarcísio não são da mesma enfermaria. No Dnit [Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes] eu tenho memória de o Tarcísio botando pra correr gente do Valdemar. Lembrem-se: Valdemar tentou engolfar Tarcísio, anunciou uma filiação dele ao PL que não aconteceu, foi uma filiação que tentaram fazer via imprensa. Então, essa declaração aí não é pra falar que Bolsonaro será candidato zorra nenhuma, porque ele não vai ser. É pra segurar a sucessão, claro, no que diz respeito ao PL na mão do Bolsonaro e da direita, pra manter a mística nas redes sociais e pra avisar o Tarcísio: 'Ou é aqui, com a gente, ou não será'. Melhor a reeleição do Lula do que a eleição de um ingrato. Reinaldo Azevedo, colunista do UOL

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