Gordofobia, escravidão e capacitismo: Lula coleciona gafes em discursos

O presidente Lula (PT) coleciona gafes em discursos que repercutiram mal e foram considerados ofensivos durante seu terceiro mandato. Nesta quinta-feira (20), ele voltou a receber críticas ao pedir que uma beneficiária do Bolsa Família "pare de ter filhos".

Relembre as falas que renderam críticas a Lula

Na última quarta-feira (19), o presidente disse que cultura "não é para ensinar putaria". A declaração foi dada durante cerimônia em Brasília para homenagear o Dia do Cinema Brasileiro. No evento, o governo federal anunciou o repasse de R$ 1,6 bilhão para o setor audiovisual.

Eu sou da turma que acredita que artista, cinema e novela não são para ensinar putaria. É para ensinar cultura, contar história, contar narrativas, e não para dizer que nós queremos coisas erradas para as crianças. Nós só queremos fazer aquilo que se chama arte. Quem não quiser entender o que é arte, dane-se. Nós queremos multa cultura, muita arte e muita disposição das pessoas participarem.

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Lula afirmou que mulheres são maioria dos que compram "bugigangas" em sites internacionais. O presidente fez a afirmação em maio, em entrevista a jornalistas no Palácio do Planalto, ao falar sobre a taxação de compras internacionais acima de US$ 50.

Quem é que compra essas coisas? São mulheres, a maioria, jovens. E tem muita bugiganga. Eu nem sei se essas bugigangas competem com as coisas brasileiras, mas nós temos dois tipos de gente que não paga imposto: as pessoas que viajam, que têm isenção de US$ 500 nesses shoppings, gente que é de classe média, e tem aquelas 24 milhões de pessoas que podem viajar mais de uma vez por mês ao exterior. Como você vai proibir os pobres, meninas e moças que querem comprar uma bugiganga? Mulher gosta de cabelo, esses negócios. Quando discuti com o [vice-presidente Geraldo] Alckmin, eu disse: "sua mulher compra, minha mulher compra, a filha do [presidente da Câmara, Arthur] Lira compra, a filha de todo mundo compra".

Máquinas de lavar são "importantes" para mulheres, disse Lula. O presidente disse isso em anúncio de medidas para o Rio Grande do Sul, em abril deste ano, após o estado ser atingido por chuvas.

Muita gente acha que uma televisão é uma pequena coisa, que não tem muita importância. Mas, para uma pessoa mais humilde, a televisão é um patrimônio. O fogão é um baita de um patrimônio. A geladeira, então, nem se fala. E uma máquina de lavar roupa é uma coisa muito importante para as mulheres que estão sobrevivendo a um verdadeiro sofrimento e martírio com essa chuva.

Lula disse que, com emprego, meninas podem comprar batom e roupas íntimas sem pedir aos pais. A declaração foi durante evento em Brasília que marcou a abertura de 100 institutos federais de educação. O presidente defendia mais independência de mulheres.

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Quando a mulher tem uma profissão, ela tem um salário, pode custear a vida dela. Ela não vai viver, comer, com um homem que não goste dela. Não vai viver por necessidade, por dependência, vai viver a vida dela e vai morar com alguém se ela gostar de alguém. Vai ter a opção dela, ela vai escolher. Ela não vai ficar dependente. Não vai ficar dizendo: "Eu preciso do meu pai para me dar R$ 5 para comprar um batom. Eu preciso do meu pai para me dar R$ 10 para comprar uma calcinha". Não. Quando a gente precisa, a gente perde a independência da gente.

Em fevereiro, o presidente afirmou que menina afrodescendente gostava de "batuque". Lula fez a afirmação em anúncio de investimentos da Volkswagen no Brasil ao tentar brincar com uma menina que acompanhava o evento, em São Bernardo do Campo (SP).

Essa menina bonita que está aqui. Eu estava perguntando o que faz essa moça sentada, que eu não ouvi ninguém falar o nome dela. Eu falei: 'Ela é cantora, vai cantar'. Aí perguntei [e disseram]: 'Não, não vai ter música'. Então, ela vai batucar alguma coisa. Porque uma afrodescendente assim gosta de um batuque, de um tambor.

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Lula disse que não seria visto de andador após cirurgia no quadril. Ele comentou sobre o procedimento durante uma das lives da Conversa Com o Presidente, em setembro do ano passado. Críticos consideraram que a fala foi capacitista, preconceituosa contra pessoas com deficiência física.

O Ricardo Stuckert [fotógrafo oficial da Presidência] não quer que eu ande de andador. Ele já falou: 'Não vou filmar você de andador'. Então significa que vocês não vão me ver de andador, de muleta. Vão me ver sempre bonito, como se eu não tivesse sequer operado.

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O presidente manifestou "gratidão" pelo que foi "produzido" durante escravidão no Brasil. A declaração foi dada por Lula em julho de 2023, em pronunciamento ao lado do presidente de Cabo Verde, José Maria Neves. O petista estava em viagem oficial ao país.

Nós brasileiros somos formados pelo povo africano. A nossa cultura, a nossa cor, o nosso tamanho, é resultado da miscigenação de índios, negros e europeus. E nós temos profunda gratidão ao continente africano por tudo o que foi produzido durante 350 anos de escravidão no nosso país.

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Pessoas com deficiência mental têm "desequilíbrio" de parafuso, disse Lula. O presidente fez a afirmação ao comentar dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) sobre o percentual de pessoas com deficiência mental no mundo. Na ocasião, ele participava de uma reunião com ministros e governadores sobre medidas contra violência em escolas.

A OMS sempre afirmou que, na humanidade, deve haver mais ou menos 15% de pessoas com algum problema de deficiência mental. Se esse número é verdadeiro, e você pega o Brasil, com 220 milhões de habitantes, significa que temos quase 30 milhões de pessoas com problema de desequilíbrio de parafuso. Pode, uma hora, acontecer uma desgraça.

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Lula fez comentários sobre Flávio Dino estar acima do peso. Ele brincou com seu ex-ministro da Justiça e atual ministro do STF durante anúncio do governo federal do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania, em março de 2023.

A obesidade também é uma doença que precisamos cuidar. Nossa médica, a ministra da Saúde [Nísia Trindade], sabe perfeitamente bem que a obesidade causa tanto mal quanto a fome. É por isso que o Flávio Dino está andando de bicicleta. Porque ele sabe que o Estado precisa cuidar com muito carinho desse mal.

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"Coisa boa" da escravidão foi miscigenação, afirmou o presidente. Em março de 2023, Lula fez um discurso na 52ª Assembleia Geral dos Povos Indígenas de Roraima. Durante o evento, o petista minimizou a "desgraça" que ocorreu no período em que havia escravidão no Brasil.

Há 500 anos, aqueles que invadiram nosso país e depois disseram que o descobriram, depois de exterminarem milhões de índios, resolveram vender a ideia de que era preciso fazer a escravidão vir para o Brasil, porque os indígenas eram preguiçosos, não gostavam de trabalhar. E se eles não gostavam de trabalhar e não tinha brancos para trabalhar, porque os que vinham da Europa não queriam trabalhar, então resolveram contar história de que os índios eram preguiçosos e, portanto, era preciso trazer o povo negro da África, para produzir nesse país. Ora, toda a desgraça que isso causou ao país... causou uma coisa boa, que foi a mistura, a miscigenação entre indígenas, negros e europeus que permitiu que nascesse essa gente bonita aqui, que gosta de música, de dança, de festa, que gosta de respeito, mas que gosta de trabalhar para sustentar a sua família e não viver de favor, de quem quer que seja.

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