Lula apanha da oposição sobre impostos, e estratégia ganha eco no Congresso

A oposição tem obtido sucesso em colar ao terceiro mandato de Lula a imagem de governo que aumenta impostos. Mesmo com números favoráveis, o Planalto não tem conseguido rebater essa estratégia, que encontrou ecos no Congresso, às voltas com a regulamentação da reforma tributária.

O que aconteceu

Os memes de "Taxad" furaram a bolha das redes sociais e viraram munição para a oposição. Bolsonaristas alimentam o discurso de que Lula e seu principal ministro, Fernando Haddad (Fazenda), aumentam impostos porque gastam demais com um Estado ineficiente.

O governo tem chamado esse argumento de fake news. Haddad e o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), também ministro da Indústria, têm repetido, usando dados oficiais, que a carga tributária caiu em 2023, primeiro ano do governo Lula (PT), na comparação com 2022, último ano de Jair Bolsonaro (PL).

Discurso repetido. No governo, há um receio de que, mesmo que não seja verdade, a imagem de taxação —algo extremamente impopular no Brasil— já tenha grudado na gestão. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) disse que o grupo vai repetir este argumento todos os dias até 2026. Ele mira em derrubar os índices de aprovação do governo e influenciar na intenção de voto para a próxima eleição a presidente.

Flávio avalia que a campanha da oposição vingou porque o fato é percebido no supermercado. Segundo ele, a aversão da população a aumento de impostos explica a receptividade aos memes sobre Haddad.

O senador Marcos Rogério (PL-RO) aponta que os memes traduzem a situação do país de forma simples. Ele argumenta que o cidadão não sabe o que significa CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido), déficit primário e outros termos do economês, mas compreende um meme mostrando a gasolina a R$ 6.

Para o líder da oposição na Câmara, o deputado Filipe Barros (PL-PR), Lula não cumpriu a promessa de melhorar a qualidade de vida da população. O parlamentar afirmou, por exemplo, que a reforma tributária não previa isenção de impostos à carne e isto só surgiu após apresentação de uma emenda de seu partido.

Ele também lembrou a "taxação das blusinhas". Barros declarou que a situação é consequência de aumento de despesas que exigem novas fontes de renda.

Até o presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), aliado do governo, começou a flertar com o discurso. Em meio às discussões sobre como bancar a desoneração da folha de pagamento, a Fazenda sugeriu o aumento da alíquota da CSLL —tributo que incide sobre o lucro das empresas. Pacheco alfinetou que "parece vontade de aumentar imposto e não de solucionar o problema".

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Meme Haddad e Lula: viralizou nas redes
Meme Haddad e Lula: viralizou nas redes Imagem: Reprodução/X @philliphonorato

Carga tributária caiu

Alckmin e Haddad entram em campo para defender governo. Os dois ministros têm repetido que a carga tributária diminuiu (mesmo que pouco) e deverá mudar mais após a aprovação do texto final da reforma tributária, em tramitação no Senado. Segundo fontes ligadas ao Planalto, não deve haver uma campanha especial da Secom (Secretaria da Comunicação Social) para combater a narrativa.

A redução foi de 0,64 ponto percentual, segundo o Tesouro Nacional. O peso dos impostos e demais tributos sobre a economia representavam 33,07% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2022 e caíram para 32,44% em 2023.

Haddad defendeu essa ideia em evento do mercado financeiro na segunda-feira (12). Ele afirmou que não houve aumento de taxação e creditou certas mudanças ao arcabouço fiscal.

"Nós tínhamos que recompor a base fiscal do Estado brasileiro, em virtude das cláusulas constitucionais", justificou Haddad. "Nós tínhamos pouca coisa a fazer no ano de 2023, a não ser a anulação dos combustíveis, o que foi feito com muita coragem pelo presidente Lula."

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Não estamos aumentando o imposto de quem paga e nem estamos aumentando ou criando novos impostos. Nós estamos simplesmente combatendo aquilo que o próprio Congresso determinou que seja feito.
Fernando Haddad, em evento do mercado financeiro

Falta marca

Aliados não sabem lidar com discurso de "governo taxador". Citam como exemplo a decisão súbita de isentar os prêmios de medalhistas olímpicos e paralímpicos por meio de medida provisória, após cobranças nas redes sociais —feitas, em especial, por oposicionistas.

A ideia, de baixa efetividade, quase saiu pela culatra. A repercussão foi majoritariamente negativa, com especialistas argumentando que medida não tinha sentido econômico. Já nas redes sociais houve reclamações sobre isentar atletas de ponta, muitos deles financiados pelo Estado, mas não em outras categorias.

O que colar no lugar da campanha negativa? Aliados dizem que o governo não tem um programa nem marca, por isso a oposição tem conseguido emplacar a pecha de cobrador de impostos.

Lula já fez cobranças aos ministros. Em reunião na semana passada, o presidente pressionou pela criação de uma marca mais clara do governo, exigindo entregas e lançamentos, para que o atual mandato não seja "só mais um governo".

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Governo não comunica nem o que faz bem, diz especialista

As narrativas alimentam bolhas, mas a população toma suas decisões a partir da realidade, afirma Maria Carolina Lopes. Doutoranda em comunicação e mestre em ciência política, ela afirma que os memes de "Taxad" podem continuar, mas a aprovação ou rejeição do governo vai depender de o governo dar meios para as pessoas viverem bem.

"O cidadão ter comida no prato é o fator preponderante para ter voto", diz ela. Maria Carolina afirma que num país com considerável fatia da população com baixa renda, como o Brasil, este é o primeiro critério para escolher um candidato.

Ela avalia que o problema do governo é não haver uma marca. Ela ressalta que Lula relançou programas e não entregou nada novo.

Ela aponta uma exceção: o programa que dá dinheiro para os jovens não largarem o ensino médio. Faixa etária de maior evasão escolar recebe mesada mensal e uma poupança a ser sacada no final dos estudos. O programa é de fácil assimilação pela população.

Mas diz que o governo falhou. Os erros começam na escolha do nome: pé-de-meia. Para ela, o termo não tem vínculo com educação e falta uma mensagem mais publicitária. Ela também critica que o governo não consegue transmitir ao eleitorado nem o que faz bem.

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