Enquanto Lula parabeniza, ministro critica Trump: 'Cultiva piores valores'

Antes mesmo de o presidente Lula (PT) parabenizar Donald Trump pela vitória, o ministro Paulo Teixeira (PT-SP) comentou as eleições nos Estados Unidos com uma crítica ao republicano.

O que aconteceu

Trump "cultiva os piores valores humanos", escreveu Teixeira no X. O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar postou a crítica a Trump uma hora antes de Lula congratular o presidente eleito nos Estados Unidos.

A mais rica nação do mundo elegeu um presidente que cultiva os piores valores humanos. Nega as mudanças climáticas e a ciência e apoia a extrema direita no mundo. Tempos difíceis para a humanidade.
Paulo Teixeira (PT-SP), ministro do Desenvolvimento Agrário

O que Lula disse

Presidente parabenizou Trump, com uma mensagem no X. O triunfo do republicano sobre a democrata Kamala Harris ocorre segundo uma projeção não oficial, mas historicamente aceita. Ela é feita por serviço elaborado por estatísticos a pedido de institutos e meios de comunicação.

Lula disse que a democracia "é a voz do povo" e que deve ser "sempre respeitada". Ele afirmou ainda que o mundo precisa de diálogo e "trabalho conjunto" e desejou sorte e sucesso ao governo de Trump.

Antes das eleições americanas, o presidente brasileiro tinha revelado publicamente sua torcida por Kamala. "Acho que, [com] a Kamala Harris ganhando as eleições, é muito mais seguro de a gente fortalecer a democracia nos Estados Unidos", declarou o petista, em entrevista ao canal francês TF1+.

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Trump apoiou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2022. Durante as eleições vencidas por Lula, o então ex-presidente dos EUA usou as redes sociais diversas vezes para declarar apoio a Bolsonaro no segundo turno.

Manifestações de outros ministros

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), disse que o dia "amanheceu mais tenso" nos mercados, em razão das declarações feitas por Trump durante sua campanha eleitoral. "Foram ditas muitas coisas que causam apreensão, não [só] no Brasil, [mas] no mundo inteiro. Causam apreensão nos mercados emergentes, causam apreensão nos países endividados, na Europa. Então o dia amanheceu no mundo, o dia amanheceu mais tenso em função do que foi dito na campanha", disse.

Haddad ponderou, entretanto, que o discurso de vitória foi mais moderado em comparação aos anteriores e que o Brasil deve "cuidar de casa". "Entre o que foi dito e o que vai ser feito, nós sabemos que isso já aconteceu passado, né? Então, as coisas às vezes não se traduzem da maneira como foram anunciadas. E o discurso pós-vitória já é um discurso mais moderado do que o da campanha. Então nós temos que aguardar um pouquinho e cuidar da nossa casa", afirmou o ministro a jornalistas em frente ao Ministério da Fazenda.

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, acredita que a vitória de Trump mostra que "ainda há muita luta pela frente". Durante o programa "Bom Dia, Ministra" desta quarta-feira (6), Franco destacou o simbolismo da candidatura de Kamala Harris, que trouxe "uma mulher negra disputando um espaço que historicamente nos é negado". "É impossível a gente acordar e ver esse resultado sem pensar no tanto que ainda temos a caminhar", afirmou.

Nós mulheres temos cada vez mais demonstrado que estamos prontas e aptas a estar em qualquer lugar que seja de poder, de decisão. E acho que a Kamala trazia essa esperança, traz ainda, na verdade. Se deus quiser, ela ainda tem uma carreira brilhante pela frente
Anielle Franco (PT), ministra da Igualdade Racial

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A relação do governo Lula com o de Trump

Lideranças petistas afirmam que as relações entre Brasil e EUA não mudam muito. Fontes ouvidas pelo UOL usam o exemplo do ex-presidente republicano George W. Bush, com quem Lula teve excelente relação em seu primeiro mandato, apesar do perfil conservador do texano e de o petista ser, principalmente à época, uma figura de esquerda.

O receio do governo é mais político do que econômico. Há uma avaliação no entorno do presidente Lula (PT) de que uma vitória trumpista deixa os apoiadores da extrema direita no Brasil (e no mundo) mais "inflamados".

Os Estados Unidos são um dos principais parceiros comerciais do Brasil. De janeiro a setembro, eles foram o destino de US$ 29,44 bilhões em exportações, atrás apenas da China e da União Europeia, o que representa um aumento de 10% em relação ao mesmo período de 2023.

Essa relação não deve mudar, avalia a equipe econômica. Apesar do perfil mais protecionista do republicano, membros do governo dizem que as gestões dos Estados Unidos são sempre "pragmáticas" e trabalham em um modus operandi parecido. O governo brasileiro lembra que a relação comercial se manteve estável nas últimas mudanças de presidentes dos EUA, incluindo com Trump.

Nome forte no PT prevê que as relações com Trump e a Casa Branca ocorram dentro da "normalidade institucional". O ex-ministro Tarso Genro (PT-RS) afirma que o presidente eleito "vai tratar o Brasil segundo interesses imperiais agudos". "Haverá proximidade e afastamento de acordo com a linha de interesse dos dois países, vão ocorrer relações diplomáticas normais. Não se deve esperar nenhum tipo de ruptura, os dois países têm interesse em manter as relações funcionando."

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Genro vê diálogo entre Lula e Trump pelo interesse do EUA em manter boas relações com o Brasil e países da América Latina. "Ele é um extremista de direita, mas representa uma nação muito complexa que são os EUA, que têm interesses com todos os países do mundo e com a América Latina", avalia.

Trump discursou durante a madrugada e disse que inaugurará uma "era de ouro nos EUA". "Vamos ajudar nosso país a se recuperar. Nosso país precisa de ajuda, precisa muito. Vamos resolver nossa fronteira e todos os outros problemas", declarou, antes mesmo de ter sua vitória sacramentada.

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