Governo Lula preferia Kamala, mas não prevê mudança em negócios com Trump
O Palácio do Planalto via com bons olhos a vitória da vice-presidente Kamala Harris (Partido Democrata) nos Estados Unidos, mas integrantes da equipe econômica dizem avaliar que não haverá mudança nos negócios com a vitória do ex-presidente Donald Trump (Partido Republicano).
Para economia, peso é menor
O receio do governo é mais político do que econômico. Há uma avaliação no entorno do presidente Lula (PT) de que uma vitória trumpista deixaria os apoiadores da extrema direita no Brasil (e no mundo) mais "inflamados".
Os Estados Unidos são um dos principais parceiros comerciais do Brasil. De janeiro a setembro, foram US$ 29,44 bilhões em exportações, atrás apenas da China e da União Europeia, o que representa um aumento de 10% em relação ao mesmo período de 2023.
Esta relação não deve mudar, avalia a equipe econômica. Apesar do perfil mais protecionista do republicano, membros do governo dizem que as gestões dos Estados Unidos são sempre "pragmáticas" e trabalham em um modus operandi parecido. O governo brasileiro lembra que a relação comercial se manteve estável nas últimas mudanças de presidentes dos Estados Unidos, incluindo Trump.
Pode ser um "efeito Javier Milei", dizem. A aposta é que, com uma possível vitória de Trump, o seu tom de campanha não interfira nos negócios, tal como aconteceu com o presidente argentino, que segue sem boa relação com Lula, mas também sem grande impacto comercial nas relações entre os dois países.
Lula apoiou publicamente Kamala
Lula não escondeu que preferia a candidata democrata. Com boas relações com o presidente Joe Biden, de quem Kamala é vice e a quem ela substituiu na disputa, o brasileiro já disse publicamente que uma vitória dela seria melhor para a democracia. "Acho que, [com] a Kamala Harris ganhando as eleições, é muito mais seguro de a gente fortalecer a democracia nos Estados Unidos", declarou o presidente ao canal francês TF1+ antes das eleições.
Petistas provocam que é difícil ficarem felizes como estará Jair Bolsonaro (PL). O ex-presidente brasileiro é apoiador confesso de Trump, e os dois mantiveram um bom relacionamento enquanto ocuparam as chefias de Estado simultaneamente, em 2019 e 2020. Membros do governo brincam que, "se o bolsonarismo está de um lado, nós estamos de outro".
Mas, se Trump ganhar, tudo bem também, afirmavam governistas antes da vitória de Trump. Eles usam o exemplo do ex-presidente George W. Bush, republicano, com quem Lula teve excelente relação em seu primeiro mandato, apesar do perfil conservador do texano e de o petista ser, principalmente à época, uma figura de esquerda. O Planalto também afirma que o presidente ligará para qualquer um dos dois assim que a vitória for decretada.
Não é desprezível a necessidade de tentar barrar uma nova "onda global de direita", argumentam aliados. Embora uma eleição não interfira diretamente na outra, o governo brasileiro via como relevante que um candidato alinhado à extrema direita fosse derrotado por alguém que se coloque mais próximo de pautas progressivas, como ocorreu na França, com apoio público de Lula à reeleição de Emmanuel Macron.
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