Bolsonaro guardava em cofre recibo de depósitos de R$ 7 milhões a advogados

A Polícia Federal encontrou dois comprovantes de transferências bancárias do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com pagamentos milionários a seus advogados. Cada um tinha o valor de R$ 3.383.331,45, totalizando R$ 6,8 milhões em despesas de honorários.

O que aconteceu

Os recibos estavam trancados em um cofre na sala da assessoria do ex-presidente no PL. A sede do partido fica em Brasília e é o mesmo local onde foi encontrado o esboço de um pronunciamento que foi chamado pelos investigadores de "discurso pós-golpe".

Cofre da sala de Bolsonaro no PL onde foram encontrados os recibos
Cofre da sala de Bolsonaro no PL onde foram encontrados os recibos Imagem: Reprodução/PF

No primeiro semestre daquele ano, o ex-presidente recebeu R$ 17,2 milhões em Pix. Na época, havia uma campanha entre apoiadores para ajudá-lo a pagar multas judiciais. Foram registradas 769 mil transações de dinheiro a seu favor. As transferências foram investigadas pela PF.

A descoberta das transferências aos advogados ocorreu em 8 de fevereiro deste ano. Nesta data, agentes da PF cumpriram mandado de busca e apreensão na sede do partido.

Foi destacado (sic) pela equipe de busca os elementos encontrados em cofre na sala de assessoria do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro: i) passaporte ; ii) telefone e iii) comprovantes de 2 (duas) transferências de aproximadamente 6 (seis) milhões de reais.
Trecho de relatório da PF sobre a tentativa de golpe de Estado

Comprovante de transferência milionária para advogado de Bolsonaro
Comprovante de transferência milionária para advogado de Bolsonaro Imagem: Reprodução/PF

Quem são os advogados

Um dos beneficiados é Paulo Amador Cunha Bueno. Ele defende o ex-presidente no caso da tentativa de golpe de Estado. Foi nesta investigação que Bolsonaro foi indiciado na semana passada, assim como outras 36 pessoas. Procurado pela reportagem, Cunha Bueno disse que "não comenta sobre honorários porque é um assunto privado da relação entre cliente e advogado".

O profissional possui afinidades com o cliente. Cunha Bueno é admirador de militares e integrou o conselho da fabricante de armas Taurus. Doutor em direito penal, ele é professor da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).

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O advogado é conhecido pela qualidade técnica. O perfil contrasta com outros advogados que cercam Bolsonaro. Fabio Wajngarten não tem experiência na área e coordena a comunicação do ex-presidente. Frederick Wassef é estridente e apegado aos holofotes. Ambos já trocaram farpas.

O escritório D. B. Tesser Sociedade de Advogados é o outro beneficiário de R$ 3,38 milhões. Daniel Tesser assessora Bolsonaro no caso das joias. O defensor já afirmou que o cliente está sendo tratado de forma política e diferente de outros ex-presidentes.

Firma fala em 'contrato que prevê confidencialidade' e 'atuação técnica'. Em nota, o escritório ressaltou que não analisou "a integralidade dos autos, sendo, portanto, temerário tecermos qualquer comentário acerca de informações e documentos ali contidos". Mas disse que "a relação entre nosso escritório e o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro trata de relação cliente-advogado que está pautada em premissas do código de ética e disciplina da OAB, bem como em contrato que prevê confidencialidade de todos os parâmetros que permeiam tal relação e, especialmente, a defesa do cliente".

Independentemente da questão formulada, informo que todo e qualquer valor recebido por nosso escritório, sem exceções e de quem quer que seja, está lastreado em contrato de prestação de serviços jurídicos e nota fiscal correspondente, devidamente registrados na contabilidade e submetidos aos órgãos fiscais. Destacamos que nossa atuação é estritamente técnica, sem adentrar em questões políticas, razão pela qual, inclusive, pouco aparecemos na mídia.
Escritório D. B. Tesser, sobre os pagamentos feitos por Bolsonaro

Os dois advogados têm atuado juntos. Quando foi revelado que Bolsonaro havia se hospedado por dois dias na embaixada da Hungria, ambos usaram a mesma estratégia de declarar como motivo um convite para debater o cenário político daquele país e do Brasil. O caso foi arquivado por Alexandre de Moraes, que não viu indícios de pedido de asilo diplomático nem risco de fuga.

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