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Política

Condenados do 8/1 fogem da Argentina e chegam ao Peru e à Colômbia

Investigados e condenados pelos ataques aos Três Poderes no 8 de Janeiro fugiram da Argentina — onde já se encontravam foragidos — e chegaram ao Peru e à Colômbia nos últimos dias. A nova rota de fuga tem como destino os Estados Unidos.

O UOL identificou cinco dos fugitivos a partir de fontes e dados da Interpol do Peru (veja quem são abaixo). Mais de 30 foragidos já deixaram a Argentina em grupos -- segundo fontes relataram à reportagem -- após o país começar a prender brasileiros que têm pedidos de extradição do STF (Supremo Tribunal Federal).

A reportagem apurou duas rotas dos fugitivos rumo aos EUA:

  • Por meio do Chile: sair da Argentina pela fronteira com o Chile, cruzar o deserto do Atacama, entrar no Peru pelo posto de Santa Rosa, seguir até a capital Lima e chegar à Colômbia. De lá, rumar para os EUA.
  • Por meio da Bolívia: sair da Argentina pela fronteira com a Bolívia (na região da província argentina de Jujuy, norte do país), chegar ao Peru por Desaguadero, seguir até Lima e rumar para a Colômbia. De lá, tentar seguir viagem para os EUA.

A pedido do UOL, o chefe da Interpol do Peru, o coronel da Polícia Nacional, José Luís Quiroz, consultou os registros de imigração e identificou quatro foragidos, que entraram no país em 19 e 24 de novembro -- dias após a Argentina ter prendido os primeiros três militantes.

Apesar de terem mandados de prisão no Brasil e na Argentina, eles não foram presos no Peru porque não constam na lista de difusão vermelha da Interpol, afirmou o coronel. Quiroz afirmou que comunicaria a Interpol do Brasil na quinta-feira (5).

Para ele, é provável que os brasileiros ainda estejam no país, mas ponderou: "Às vezes, na fronteira, os controles são muito frágeis e [os foragidos] poderiam sair por outras vias e rotas não oficiais".

Outros investigados pelo 8/1 teriam entrado no Peru, segundo relataram fontes nas últimas semanas.

Fugitivos enfrentam desafio na Colômbia

O UOL apurou que parte do grupo de fugitivos que saiu da Argentina passou pelo Peru já chegou à Colômbia.

É o caso de Romário Garcia Rodrigues. O militante de Fortaleza — que se apresenta como "nordestino bolsonariano" — saiu de Buenos Aires entre 17 e 18 de novembro, quando fugiu com um grupo para o Chile.

Na última terça-feira (3), Rodrigues estava na Colômbia. Na ocasião, ele foi às redes sociais dizer que queria voltar para o Brasil para se entregar à polícia, mas apagou as publicações depois disso.

A inspiração para essa rota de fuga foi a saída de um investigado pelos ataques do 8 de Janeiro que estava no Brasil com tornozeleira. Em setembro, ele e o pai foram para o México, pagaram pelo serviço de coiotes e entraram ilegalmente nos EUA.

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Mas repetir o feito seria difícil. Para chegar aos EUA a partir da Colômbia, é preciso entrar no Panamá — a rota envolve uma floresta densa. Só restaria então pegar um avião ou arriscar-se de barco — o passaporte deve estar em dia na hora de passar no controle migratório.

Uma viagem clandestina com embarcações esbarraria no forte controle policial que os colombianos fazem nos oceanos Atlântico e Pacífico em busca de traficantes de drogas e contrabandistas, informou uma fonte local à reportagem.

Quem são os brasileiros que fugiram da Argentina

Romário Garcia Rodrigues

No STF, defesa de Romário negou que ele tivesse cometido crimes
No STF, defesa de Romário negou que ele tivesse cometido crimes Imagem: Foto obtida pelo UOL

O cearense de 34 anos se apresenta como o "primeiro gay nordestino a tomar um café da manhã" com Jair Bolsonaro (PL). Nas redes, pede dinheiro por meio de Pix para manter a fuga. É réu em ação penal por associação criminosa e incitação ao crime no 8/1. Quebrou a tornozeleira no Brasil e fugiu para a Argentina.

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Deixou o país governado por Javier Milei em meados de novembro com um grupo de militantes, que chegou ao Chile de ônibus no dia 18 daquele mês. Wellington Firmino, outro foragido que estava de moto, acabou preso.

O grupo de Rodrigues seguiu pelo Atacama e chegou a Santa Rosa, no Peru, no dia 19. O UOL apurou que ele já está na Colômbia pelo menos desde terça (3).

A defesa de Rodrigues disse não ter mantido contato com ele e que só poderia comentar andamentos dos processos no STF.

Raquel de Souza Lopes

Defesa de Raquel diz que ela não praticou vandalismo
Defesa de Raquel diz que ela não praticou vandalismo Imagem: Reprodução/Redes sociais/08.jan.2023

Raquel, 51, é de Joinville (SC). Foi condenada a 17 de prisão por cinco crimes: tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, associação criminosa, dano qualificado e dano a patrimônio público. A PGR (Procuradoria-Geral da República) diz que ela destruiu bens. Raquel nega.

Como o UOL mostrou em maio, estava em um grupo que saiu de Santa Catarina em abril e entrou na Argentina por fronteira seca no norte do estado.

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O UOL apurou que ela saiu com um grupo de Buenos Aires no dia 17 de novembro e rumou para o Chile, cruzando a fronteira no dia seguinte. A Interpol do Peru registrou a entrada de Raquel pela fronteira de Santa Rosa em 19 de novembro.

A defesa -- que diz ter perdido contato com ela há "algumas semanas", pouco antes de as prisões na Argentina começarem -- afirmou não saber se ela deixou o país vizinho.

Antônio Alves Pinheiro Júnior

Defesa de Pinheiro comparou processo aos tempos do nazismo
Defesa de Pinheiro comparou processo aos tempos do nazismo Imagem: Reprodução/STF e Reprodução/Skype/Junioreletr

Morador de São Paulo (SP), o militante de 38 anos estava no Brasil com tornozeleira, mas quebrou o aparelho e fugiu para a Argentina. É réu em ação penal pelos crimes de associação criminosa e incitação ao crime no 8/1.

Pinheiro saiu da Argentina pela Bolívia. De lá, seguiu até o Peru, onde entrou em Desaguadero em 24 de novembro, cinco dias depois da entrada do grupo de Rodrigues.

Em 30 de outubro, haveria interrogatório em seu processo no Brasil, mas ele não compareceu. Na audiência, o advogado dele Cláudio Caivano criticou o andamento do processo. "Em 1934, foi instituído na Alemanha o Tribunal do Povo, que só julgava opositores políticos do sistema [...] Estou vendo uma similaridade ímpar em todas essas ações penais que eu tive a oportunidade de participar", disse o defensor, citando julgamentos do período nazista.


Edilaine da Silva Santos

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Defesa de Edilaine tentava acordo no MPF para encerrar o processo
Defesa de Edilaine tentava acordo no MPF para encerrar o processo Imagem: Reprodução/STF

Edilaine, 38, estava em um ônibus que saiu de Birigui (SP) em direção a Brasília às vésperas do 8 de Janeiro. Ela é ré em ação criminal no STF. Ela quebrou sua tornozeleira e fugiu para a Argentina.

O UOL apurou que Edilaine saiu da Argentina em 18 de novembro pela fronteira com o Chile. Ingressou no Peru em 19 de novembro por meio da fronteira em Santa Rosa.

Sua defesa disse que perdeu o contato com ela dias depois que Edilaine solicitou que fizesse um acordo de não-persecução penal com o Ministério Público.

Rosana Maciel Gomes

Defesa de Rosana diz que ela entrou em choque com depredação
Defesa de Rosana diz que ela entrou em choque com depredação Imagem: Arquivo pessoal

Natural de Goiânia, Rosana, 51, foi condenada a 14 anos de prisão por cinco crimes, entre eles tentativa de golpe de Estado e associação criminosa. O STF pediu sua extradição ao governo argentino.

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Essa é a terceira fuga de Rosana. Em janeiro, ela quebrou a tornozeleira e fugiu para o Uruguai. Em abril, já estava na Argentina, onde vivia na região de Buenos Aires. Em novembro, deixou a Argentina com um grupo rumo aos EUA. Atualmente estaria no Peru, segundo fontes relataram ao UOL.

A defesa dela disse que não poderia informar se Rosana saiu da Argentina e tampouco se entrou no Peru.

Em sua defesa no processo, ela disse: "Quando entrou no Palácio do Planalto viu que os bens públicos estavam danificados e não danificou qualquer bem, tanto que ficou em estado de choque de ver uma situação daquela". Rosana negou tentar praticar um golpe de Estado.

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