Vídeo: 'Bolsonaro ganhou Pix, e me tratam como leproso', diz Cid em delação
Ler resumo da notícia
Em um dos vídeos de sua delação premiada, o tenente-coronel Mauro Cid reclamou da diferença de tratamento recebida por ele e por Jair Bolsonaro (PL). O ex-ajudante de ordens da Presidência disse que o ex-presidente "ganhou Pix", enquanto ele era visto como "leproso".
O que aconteceu
Trecho é de audiência de Cid com assessor do ministro do STF Alexandre de Moraes em 22 de março do ano passado. O tenente-coronel foi chamado a esclarecer ao gabinete de Moraes os áudios vazados pela revista Veja em que atacava o ministro e sugeria que estava sendo pressionado na delação a confirmar à Polícia Federal informações que não seriam verdadeiras".
Assessor de Moraes questionou a quem Cid se referia quando dizia nos áudios que "todos se deram bem, ficaram milionários". O tenente-coronel respondeu que se referia a Bolsonaro e aos militares envolvidos nas investigações sobre a tentativa de golpe de Estado. E fez um desabafo.
Não vou dizer que me senti abandonado de alguma forma. Mas, obviamente, eu tava falando do presidente Bolsonaro, que ganhou Pix, aqueles negócios todos. Falo também dos generais porque todo mundo que tá envolvido tá na reserva. Todo mundo envolvido na investigação está na casa dos seus 60 anos, seus 70 anos, atingiu todos os seus objetivos de vida e, no meu caso, não. Eu não. Eu perdi tudo.
Estou vendo amigos meus... Vou usar a expressão que eu gosto de usar: leproso. Não porque eles acham que eu fiz alguma coisa de errado mas porque sabem que podem se prejudicar no Exército se ficar se aproximado de mim
Mauro Cid, em depoimento ao gabinete de Alexandre de Moraes
Cid também reclamou que a carreira dele como militar estava "desabando". Na época, o tenente-coronel estava apto a ser promovido à patente de coronel, mas acabou sendo retirado da lista de promoções do Exército por ser investigado na tentativa de golpe. "Os amigos o tratam como um leproso, com medo de se prejudicar", lamentou, segundo transcrição do depoimento
O tenente-coronel disse que os áudios questionando a própria delação foram "desabafo". Ele negou irregularidades na colaboração premiada, afirmou que estava "sensível" por causa da situação que vivia e que perdeu "tudo o que tinha". Cid disse ainda que quis "chutar a porta" e acabou "falando besteira" e dizendo coisas que "não deviam ser ditas".
Moraes derrubou sigilo sobre os vídeos da delação de Mauro Cid hoje (20). O material foi publicado após a PGR (Procuradoria-Geral da República) denunciar Bolsonaro e outras 33 pessoas por tentativa de golpe de Estado.
Denúncia da PGR
Mauro Cid, Bolsonaro e mais 32 pessoas foram denunciadas pela PGR (Procuradoria-Geral da República) por participação na tentativa de golpe. A acusação foi apresentada ontem (18) ao STF pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet.
Gonet pediu a manutenção das cláusulas da delação de Cid. Em petição a Moraes, o PGR solicitou que as cláusulas sejam mantidas "até a finalização da instrução processual, oportunidade em que serão avaliados os benefícios aplicáveis ao colaborador". Ele também defendeu que o general Walter Braga Netto, ex-ministro de Bolsonaro e também denunciado, continue preso.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.